Quero o último amor

Dei por mim a pensar que pode muito bem acontecer que os anos vão passando e nunca encontre “o” homem da minha vida. Ou que simplesmente, mesmo que vá encontrando umas promessas de amor, a vida não permita concretizar essas promessas em algo sólido e duradouro, “para a vida”. Assim sendo, terei de encarar a possibilidade de ser solteira até à morte. Mas não pretendo desistir de procurar.

Por enquanto tenho o meu filho a depender de mim, e assim será durante ainda muitos anos. Isso deixa pouco espaço a outras coisas, e é um desafio extra para qualquer relacionamento que venha a tentar. Agora, ocupa-me a vida, e não me deixa sentir totalmente só. Um dia seguirá a sua vida, porque os filhos não nos pertencem, e sabe-se lá por onde andará quando eu chegar à velhice e não me puder bastar. Também tenho e terei amigos, pretendo continuar a manter-me ocupada e activa, idependentemente da passagem dos anos, embora com as devidas adaptações que a idade certamente irá impondo. Mas não procuro o amor por medo da solidão, procuro-o por missão.

Sei que muitas mulheres vivem hoje em dia solteiras, por opção, e muitas são felizes. Para mim, no entanto, é uma opção de vida que nunca me ocorreu, não é “opção”, é apenas desígnio da vida que me foi calhando. Sinto realmente falta desse amor que procuro. Sei que seria mais feliz se tivesse um companheiro de vida, com quem dividir os vários momentos e fases da vida, com quem crescer, vincar rugas e celebrar cabelos brancos, e com quem cimentar o amor, numa partilha de planos e prazos até ao fim dos meus dias, mesmo que acabem na saudade.

Acho que serei a eterna romântica, sempre à procura. Preocupa-me um bocadinho saber que posso nunca encontrar. Mas sei que nem que tenha 70 anos, estarei num qualquer chá dançante à espera que um charmoso octagenário de flôr na lapela se aproxime e pergunte “A menina dança?”. Estou a ver-me perfeitamente, num momento desses, por mais cataratas que tenha, a olhar para ele com a mesma expectativa e a mesma vontade de que seja ele, finalmente, o “tal”. É que mesmo que seja aos 70, ou aos 80, encontrar o amor será para mim cumprir essa missão de vida.

Há um poema que me é muito especial e já o referi aqui. Para mim, é como quero viver qualquer amor que tenha a sorte de ainda encontrar nesta vida. Sobretudo, quando morrer, que “Eu possa me dizer do amor (que tive):/ Que não seja imortal, posto que é chama,/ Mas que seja infinito enquanto dure".

Mas também por isso não quero encontrar muitos nem poucos amores, quero encontrar o último, que é aquele que conta – é o que me aquecerá o coração num último sorriso, o que me sossegará o espírito no último fechar de olhos, e o que permanecerá na eternidade de depois da morte. Quer ali esteja de mão na mão no momento do adormecer, quer por o saber do outro lado, à minha espera para a eternidade. Esse amor assim, que vai connosco na morte, é o único que realmente contraria este poema. O último amor é o único que conseguirá ser imortal "e" infinito, porque a sua chama nunca se apagará, mesmo que se apague a chama das nossas vidas. E é na crença de que ele existe, e de que um dia o encontro, que me vou apoiando para deixar passar o tempo do entretanto como apenas um compasso de espera.

16 comentários:

forteifeio disse...

Principeza

Está muito bonito. Hás-de lá chegar, e depois contas à gente. ;)


Deixo esta música duma voz que eu gosto. E também gosto do video

http://www.youtube.com/watch?v=bjBf9Yj4IKk

Apple disse...

Concordo contigo, minha querida, em absoluto!!
Adorei a ideia de "último amor", o tal, que chega e permanece...

CB disse...

Foteifeio,
Obrigada. Se não fôr para lá dos 70, espero ainda vir aqui contar!
Obrigada pelo vídeo/música. Gostei muito! :)

CB disse...

Apple,
Obrigada. Esse é que conta, pena que raramente seja o primeiro...

Pulha Garcia disse...

Continuo a achar que existem muitas pessoas interessantes por aí. Há é que correr riscos. O passado é irrelevante para assegurar a felicidade do que ainda há-de vir.

LBJ disse...

O último será o primeiro, será o infinito que apagará a lembrança dos que foram finitos ;)

Beijo

CB disse...

Pulha,
Claro que sim. Mas não preciso de "muitas" pessoas interessantes, "muitas" promessas de amor. Apenas uma pessoa e uma promessa, mas que sejam a certa e a realizável, e ambas a última.

CB disse...

LBJ,
Mais ou menos... Acho que nunca se apaga o passado, nem se deve tentar. Deve-se é aprender a viver com ele, aceitá-lo, e usar as lembranças para aprender com o que foi mau e sorrir com a recordação dos que foi bom.

Sérgio Mak disse...

E, neste caso, os últimos não são necessariamente sempre os primeiros...

Francis disse...

é uma ideia bonita.
ainda não pensei nisso, nem quero.

CB disse...

Mak, o Mau,
Exacto - pelo contrário. Raramente são os primeiros. Bem vindo (ao blog e de volta à Pátria).

CB disse...

Francis,
Não queres pensar no quê?! O último pode durar muitos anos, e quanto mais durar melhor, a não ser que só se encontre para lá dos 70.

mf disse...

É muito engraçado rever-me em algumas coisas que escreves e que sou absolutamente incapaz de verbalizar assim. Sinto que ficaria nua, se o fizesse, mesmo na minha toca que ninguém conhece. Digo o que dizes por meias palavras e depois vejo-me aqui confrontada com a minha própria cabeça (ou será o coração?).

Tenho a impressão que nos andaram a clonar...

CB disse...

mf,
Tens andado desaparecida, até da tua toca (que eu ando lá sempre à espreita), mas de facto essa sensação de clone tenho também desde que nos cruzamos por aqui na blogosfera e senti a tua falta. Muitas vezes senti que apesar da clonagem, tu já vais mais à frente e disseste-me já coisas que precisava de ouvir com uma clareza e lucidez que eu não saberia ter.
O que destilo aqui é o que me vai no fundo da alma. Não é fácil. Quantas vezes chorei palavras, quantas vezes deitei textos forapor doer demais relê-los, e quantas vezes desisti de publicar coisas que escrevi por me sentir nua ao reler...
Por mim, adoro ler a forma quase "críptica" com que tu escreves coisas muito parecidas. Confesso que, por vezes, me sinto a decifrar um texto num código de que tenho o privilégio de ter a chave...
Bem vinda de volta, amiga! :)

mf disse...

Eh eh
Há pessoas que me entendem assim, críptica (bela e certeira definição), e tu és, definitivamente, uma delas.

Um dia destes, e como boas amigas que nos estamos a tornar, ainda vamos tomar um café...

CB disse...

mf, pois é... :)