Interno destacado


"The Detached

We die,
Welcoming Bluebeards to our darkening closets,
Stranglers to our outstretched necks,
Stranglers, who neither care nor
care to know that
DEATH IS INTERNAL.

We pray,
Savoring sweet the teethed lies,
Bellying the grounds before alien gods,
Gods, who neither know nor
wish to know that
HELL IS INTERNAL.

We love,
Rubbing the nakednesses with gloved hands,
Inverting our mouths in tongued kisses,
Kisses that neither touch nor
care to touch if
LOVE IS INTERNAL."

Maya Angelou


Eu destilo: numa primeira abordagem, leio que não há pior morte que a alma seca, pior inferno que o sofrimento sem sentido, nem fotografia, ou contacto de corpo, que capte ou toque o amor. A morte, o inferno e o amor são internos. Separados, desligados do exterior corpóreo, onde apenas se reflectem – em roupas carcomidas pelas traças e abandono, em enganos de preces a Deuses inexistentes, e em corpos despidos, beijos e línguas que tentam chegar onde não tocam: no interno. Nesse interno que não nos pertence, que não comandamos, não tocamos.

Depois reparo na subtileza do “if” da última estrofe e de repente esta ganha um sentido novo. E agora leio que o amar corpóreo não toca o interno “se” o amor for interno. O que é difícil de destilar...

Maya Angelou é uma das minhas poetisas favoritas. Mas geralmente deprime-me destilar os poemas dela. Só que não vivo sem poesia para encontrar caminhos. A poesia enche-me, embora às vezes de lágrimas também. Este desenterrei hoje pela sensação nova de sentir que, de alguma forma estranha, toquei involuntariamente o interno de alguém, de uma maneira positiva que me enche de satisfação. E nesse sentimento, alguma coisa, também involuntária e estranhamente, tocou o meu interno. E eu que não consigo compreender este poema plenamente, foi a ele que fui dar para reflectir isto, essa noção de “interno destacado”.

PS: Prometo que não há poesia por aqui nos próximos dias...

7 comentários:

forteifeio disse...

Muito complexo, sem dúvida.

CB disse...

Forteifeio,
Pois é... Quem conseguir decifrar isto que me esclareça, que continuo às voltas...

LBJ disse...

Damos as boas vindas aos carrascos que nos trazem a morte física que acaba com a morte física que dói que é a morte em vida e interna.

Rogamos a Deuses, mentimos e rastejamos perante eles para que nos salvem, mas de nada vale porque o verdadeiro inferno não é um local físico é interno.

O amor físico não no irá tocar enquanto a nossa capacidade de amar for apenas interna.

CB disse...

LBJ,
Estou esmagada, mas de repente percebi... Obrigada. Liga perfeitamente com o que escrevi ontem sobre "cumprir-se" o amor. É isso mesmo.

CB disse...

LBJ,
Isto é mesmo confuso, mas depois de mais pesquisa, há mais uma coisa daqui. O poema é sobre opostos, especialmente as formas internas e externas das coisas que vemos e experimentamos. Mas enquanto a morte e o inferno interiores não têm expressão corpórea própria (apenas reflexos no corpóreo), e não são "emoção", são "razão" (daí ela usar "know" - ele não sabem), o amor tem a capacidade de ligar o exterior ao interior, daí não só o uso do "se" como também do "touch" em vez de "know" (toca=sente em vez de sabe). E li algures que o que isto quer dizer é que o amor é interno apenas e "se" não for dito e materializado.

LBJ disse...

“Kisses that neither touch nor care to touch if”

Eu interpreto que os beijos são apenas actos físicos sem sentimento se não formos capazes de exteriorizar o amor, mas é um poema e a poesia entende-se no sentir de cada um.

Beijo

CB disse...

LBJ,
Exacto, mas acho que o sentido é o mesmo. Tu dizes "exteriorizar", eu digo "dizer e materializar". Acho que chegamos à mesma conclusão. :)Um beijo