Sangue do meu sangue


O meu filho está doente, desde ontem à noite. Foi uma noite difícil, para os dois.

O que mais me custa nestas situações não é a noite em branco, ou o cansaço que fica, ou a trabalheira que dá. É a angústia de o ver mal e não poder tirar-lhe as dores, a angústia de não saber se é grave, e a angústia de ter de o deixar entregue a outros para poder ir trabalhar de manhã.

É nestas alturas que me sinto mais próxima da minha essência animal, um animal com uma cria ferida. A “razão” funciona pouco, é tudo muito instintivo. Simplesmente “sei” quando está doente, "vejo-lhe" a febre, “advinho” quando vai vomitar, “sinto” o significado de cada choro em que distingo diferenças que mais ninguém ouve.

E depois a força que vem não se sabe de onde. Não sei como consigo não dormir toda a noite com ele no colo ou deitada ao lado dele numa cama com um colchão de 1,35m. Apenas fechando os olhos por uns minutos de cada vez. E ainda assim, consigo despertar de imediato e estar a funcionar a 100% ao primeiro gemido. Como nestes dias consigo mesmo subir e descer escadas com os seus 17 quilos ao colo. E rumar ao trabalho depois disto. E sobreviver.

Mas continuo angustiada, sofro esta distância, desconfio sempre que quem fica com ele não trata dele tão bem quanto eu faria – embora não tenha razão nenhuma para pensar dessa forma, que sei que o deixo bem entregue. Mas sei que o meu colo é diferente para ele e parte-me o coração ouvir aquela vozinha desconsolada ao telefone, a perguntar-me se “a mãe já vem a caminho?”... E culpas... mas claro, racionalmente sei que não posso perder o emprego e, sobretudo nos tempos que correm, não posso dar o flanco com absentismo.

Mas enquanto não oiço notícias de que está bem, não descanso, não paro de pensar nele, tudo o resto perde o sentido. E continuo a sentir as dores dele à distância. É tão estranho e tão forte este sentimento. É quando percebo mesmo que ele é sangue do meu sangue. Que já não está dentro de mim, e continua parte de mim. E que não há nada como um abraço de mãe, que a ele, só eu posso dar.

8 comentários:

Apple disse...

Beijinho de melhoras para o Principe e de força para a Princesa :)

1REZ3 disse...

É o instinto, é a adrenalina e acima de tudo o amor que te permite não "sentires" cansaço.

As melhoras :)

Francis disse...

mãe é mãe.

as melhoras.

CB disse...

Apple, Treze e Francis,
Obrigada a todos. :)

Pronúncia disse...

Mãe é isso tudo e mais... muito mais!

Digo eu, que apesar de não ter filhos, lembro-me bem da angústia dos meus pais quando eu ficava doente.

As melhoras rápidas para o teu filhote e que essa tua angústia passe depressa :)

LBJ disse...

Rápidas melhoras, vais ver não tarda nada já anda ai aos saltos a fazer a cabeça da mamã em agua ;) E tu toda contente a ralhar de cara séria e a sorrir por dentro :)

CB disse...

Pronúncia,
É verdade - é muito mais. O meu filho é razão de ser. Obrigada pelos votos de melhoras. Já está a melhorar e já não estou angustiada - agora só muito cansada!

CB disse...

LBJ,
Obrigada. De facto já anda mais bem disposto e já até levou um ralhete (com um sorriso disfarçado, é bem verdade...). :)