A História da Borboleta e da Joaninha

Era uma vez uma Joaninha que tinha medo de voar. Vivia numa árvore linda, com folhas muito verdes, subia e descia ramos e raminhos, mas nunca se atrevia a largar-se. Sentia-se muito sozinha e muito triste, por vezes duvidava que era mesmo uma Joaninha.

Havia também uma Borboleta, que vivia na mesma árvore, mas tinha conservado o seu casulo, onde voltava todas as madrugadas, e onde passava por uma mera lagarta. A Borboleta espreitava e observava a Joaninha, assistia aos seus monólogos e percebeu que ela tinha medo de voar.

A Borboleta sabia como era bom voar. E ela sabia também que a Joaninha era capaz. Então, a Borboleta começou a conversar com a Joaninha, de dentro do seu casulo. A Joaninha ficou toda contente porque assim não se sentia tão sozinha, e ficou amiga da lagarta.

Um dia, a Joaninha confessou à Borboleta, que pensava que era ainda uma lagarta, a mágoa de não ter coragem de voar. Confessou-lhe que tinha caído antes e agora tinha muito, muito medo de voltar a caír, não acreditava que as suas asas tivessem força suficiente para voar.

Então, a Borboleta confessou à Joaninha que há muito que já não era lagarta, que voava, mas que todos os dias voltava ao seu casulo porque também tinha medos e ali se sentia segura. Era linda a Borboleta mas não queria que a vissem, tinha medo de ser apanhada.

A Joaninha nem queria acreditar! Afinal a sua amiga podia voar! E que lindas asas tinha! Foi então que, com muita amizade e paciência, um dia a Borboleta convenceu a Joaninha a voar. "Tens ao menos de tentar." E lá foi a Joaninha, de asas abertas, rodopiando pelo ar.

A Joaninha ficou feliz, voava todos os dias, mas continuava a viver na árvore, vizinha da Borboleta. A Joaninha adorava a sensação de voar, e era cada vez mais exímia em fantásticas acrobacias. De tal forma, que começou a ganhar amigos que viviam noutras árvores, voavam pelos mesmos céus, ou andavam pelo mesmo chão daquela floresta. Todos gostavam de ver a linda Joaninha voar.

E um dia, nos seus vôos, expressão de liberdade conquistada, pôs-se à conversa com o seu simpático público, os seus novos amigos. E a certa altura, a Joaninha confessou que tinha tido muito medo de voar e que só tinha sido capaz de se lançar no ar com a ajuda da sua amiga Borboleta.

Os outros animais da floresta não sabiam quem era a Borboleta, porque naquela árvore toda a gente sabia que só vivia a Joaninha e uma lagarta num casulo, que nunca ninguém tinha visto. Mas a Joaninha, orgulhosa da sua amiga, disse-lhes "Não, ela não é uma lagarta. Ela é uma linda Borboleta que me ensinou a voar". E ao contar como o fizera, descreveu-lhes a cores lindas das asas da sua amiga que ela tinha visto inúmeras vezes.

Quando voltou à árvore nesse dia, a Joaninha encontrou a Borboleta muito triste e muito zangada. A Borboleta tinha ouvido dizer que todos sabiam agora que ali naquele casulo não estava uma lagarta, e todos sabiam as cores das suas asas. A Joaninha não percebia nada. Perguntava-lhe "Que mal tem que tenha dito boas coisas de ti? Porque ficas triste por outros saberem que és uma linda Borboleta e de que côr são as tuas asas?" Mas ela não queria que ninguém soubesse que ela era uma Borboleta, ou de que côr eram as suas asas. E também não queria que os outros soubessem que se escondia no casulo. A Borboleta sentia-se ferida, e exposta, em perigo.

E disse à sua amiga “Para os outros sou lagarta, e só para ti sou Borboleta”.

A Joaninha não percebeu nada da grande sabedoria da Borboleta. Não percebeu que era a sua forma de se preservar. Mas percebeu que era privilegiada e gostava muito da Borboleta, a quem devia a felicidade de poder voar, e por isso pediu desculpa e tentou remediar o mal que tinha inadvertidamente causado à sua amiga. Espalhou pela floresta que não havia Borboleta, e vigiava a árvore e o casulo para evitar que qualquer intruso curioso a pudesse ver ou atormentar.

Depois entendeu que tinha aprendido uma enorme lição. Que o que os outros nos mostram e dão de si não é nosso. Que é escolha de cada um o que mostrar e a quem mostrar, e privilégio de quem é escolhido para ver e receber. E percebeu como era realmente especial por conhecer as lindas asas da sua amiga Borboleta, que era para os outros apenas uma lagarta. Num casulo.

6 comentários:

LBJ disse...

Esta é uma linda fábula e como em quase todas, só quem a escreve sabe realmente o seu significado, quem lê estabelece ligações com a sua realidade e revê-se naquilo que pensa ser a sua interpretação da moral, eu sei de borboletas e de lagartas e de joaninhas e do medo de voar e do medo do medo e do medo da solidão e da segurança do casulo e da vontade de esconder asas, mas a fábula é tua :)

Pronúncia disse...

As fábulas são fantásticas, porque têm sempre muitas interpretações possíveis, dependendo sempre de quem a lê...

Ana GG disse...

Um beijinho grande borboleta!
=)

(esta foi a minha interpretação)

CB disse...

LBJ, obrigada e tens razão qanto ao significado ser de cada um. Não sei porquê, mas imaginei que serias dos que encontraria algum sentido a todas as coisas que enumeras. :)

CB disse...

Pronúncia, de facto...

CB disse...

Ana, um beijinho também para ti. :)