Este Blog Está Morto

Este post é só para evitar queixas de alguém que aterre aqui ao engano. É mesmo o fim. A girl's gotta do what a girl's gotta do. Adeus Princesa.


Apontamento

A vida é também feita de partidas, nossas e dos outros, cada vez mais. Há que aprender a viver com isso e tento sempre lembrar-me de que, para cada partida, tem de haver uma chegada, tal como, para alguns eleitos, cada separação apenas antecede um reencontro.

Post de Uma Morte Anunciada

Raramente, na vida, mudamos profundamente de um momento para o outro. O dar-nos conta que algo mudou em nós tende, realmente, a ser repentino e súbito, mas a mudança em si opera-se ao longo do tempo. Em geral, vamos evoluindo - de preferência para melhor, na realidade nem sempre -, numa progressão algo lenta, de forma até que, por vezes, nem nos apercebemos disso, a não ser num momento crítico qualquer em que fazemos, dizemos ou pensamos algo inusitado, ou quando alguém nos aponta a prova da mudaça. 

Este blog, onde tenho vindo a destilar o que passa por dentro de mim e da minha vida, revela bem tudo aquilo em que fui mudando ao longo do tempo, para lá dos acontecimentos que relatou ou que motivaram a escrita de certos posts. Essa mudança foi acontecendo e foi transparecendo, fez-se também de um tempo em que não escrevi aqui, revelou-se na forma como aqui voltei, depois de ter achado que este espaço tinha chegado ao fim. Mas agora é diferente: agora a minha mudança é radical e súbita, conscientemente imposta e regulada por uma nova forma de viver que arranca oficialmente em breve.

Não sei se a minha decisão de embarcar neste futuro acontece por causa de mudanças que se operaram em mim, que me permitiram ou incentivaram a fazer esta opção. Provavelmente sim, mas não é relevante saber. Certo é que a opção obriga-me a impor mudanças em mim, por força das que aceitei fazer na minha vida. Da mistura das duas coisas resulta que deixo de dar voz à Princesa, agora de facto Desencantada sem parêntesis. Agora tenho mais em que pensar e o que fazer do que preocupar-me em entender e/ou explicar a Princesa, muito menos resolver-lhe o desencanto. Temos pena - a vida não é mesmo uma história de encantar e estou a reconciliar-me com o facto de que há coisas em mim que serão sempre desajustadas, há coisas que nunca irei consertar, há uma história que me moldou e que não posso mudar; mas posso fazer a Princesa meter a viola no saco e deixar-me viver a vida sem a tristeza do desencanto, sem a ilusão do final perfeito. Sem expectativas que não sejam o simples facto de que todos os dias metemos mais uma moeda num carrossel desgovernado e não sabemos onde iremos acabar. O importante é continuar a rodar, sabendo bem que o que interessa agora é ir fazer aquilo que tenho de fazer, coisa prática, tangível e mecânica a que se chama sobreviver - e garantir um melhor futuro onde o meu filho possa crescer. 

Vão nascer dois novos blogs: um para o L, para que me possa acompanhar nas ausências, bastante gráfico, com imagens de sítios e coisas, poucas linhas seguramente (que agora alguém lhe lerá); e um outro para mim, porque não posso deixar de escrever, onde crescerão as linhas em paralelo com o primeiro, traduzindo as tais imagens em linguagem de adulto, onde de certeza irei também despejar uns desabafos. Não faço ideia de quando, não tenho ainda nomes nem ideias muito definidas, nem muito tempo disponível agora. Só sei que este blog morre definitivamente no dia 31 de Julho de 2011 e com ele enterro a Princesa, numa história que, de tão real, não teve um final feliz.


Note to self

Para as minhas releituras deste espaço no futuro, na reconstrução diarista do que foi (que gosto de fazer de vez em quando): escrever o post anterior foi das coisas mais difíceis que fiz até hoje. 


Mas também, hoje, ainda não parti pela primeira vez.

Filho,

Vou-te faltar - para nos bastar. Vou partir muitas vezes, mas volto, volto sempre, de cada vez, e um dia volto capaz de não te faltar mais, volto com o meu dever cumprido, para que não te falte tudo o resto e a mim não me falte a convicção de que fiz por ti o meu melhor - e assim fiz, também, o melhor para mim.

Sobra, sobrará sempre, uma pedrinha na alma, a culpa que irei carregar em cada ausência - e, provavelmente, até ao dia em que tu, feito filho já homem, tenhas a capacidade e a generosidade de me mostrar que não guardas de mim ressentimentos. A vida é toda ela feita de escolhas mas, mais importante que perceber que não podemos escolher tudo, é fundamental perceber que, por vezes, as escolhas no imediato podem não parece o melhor, mas são caminho necessário para o destino onde queremos chegar. Por vezes, a escolha aparente de uma coisa é, na verdade, a escolha, a aposta, noutra completamente diferente. E também há que aprender que, por mais que pesemos as escolhas, por vezes escolhemos errado. Tenho uma imensa fé em que não será esse o caso.

Espero que um dia compreendas que eu tinha de agarrar isto, por todos os motivos e mais alguns: por ti e pelo teu futuro; por mim e pelo meu futuro; por nós, num melhor futuro. E depois, acompanho-te mesmo nas ausências, seja de que forma for e, nos tempos de presença, havemos de cimentar as pontes que unem os nossos tempos, havemos de forjar abraços que se estendam à largura do mundo que vou percorrer e ao comprimento do tempo que vou estar ausente - para depois, elásticos, os mesmos abraços nos acolherem aos dois em cada regresso.

Gostava muito que soubesses que te levo sempre comigo; que és e continuarás a ser a minha primeira âncora, a raíz da minha sanidade, a minha força maior, a minha coragem quase toda. Não sei como explicar tudo isto à medida dos teus cinco anos. Sei que, nessa medida, o que te interessa é o imediato do abraço, do sorriso, da voz, da companhia de que sentirás falta por vezes. Mas fazem-te falta também outras coisas - que eu vou buscar. Vou, também, com esperança e coragem, buscar-te uma mãe mais feliz, mesmo que por via de outras coisas que não o amor, que esse não encontrei a não ser naquilo que me ensinas - e de que quero ser sempre digna.

Da que que te ama sempre de coração cheio, sempre tua,

Mãe

(Ao L, a primeira de muitas cartas que quero escrever-lhe nos próximos tempos, para ele ler daqui a muitos anos, quando seja capaz de entender estas linhas, agora impróprias para a idade)

Outras margens

Num tempo de redes, onde vivemos e que criamos, num mundo onde a nossa capacidade de "networking" se tornou parte fundamental na definição do ser social que somos, por sua vez reflectido no nível de prosperidade a que podemos almejar, por exemplo, a nível profissional,  acho que nunca antes vivemos tão sozinhos, nem nunca antes foram tão frágeis os relacionamentos humanos em geral. 

Todos gozam com os ratios entre o número de amigos no Facebook e o de amigos reais; mas pergunto-me quem saberá ainda definir, realmente, quem tem nas suas redes e que não é, de facto, amigo. E quem sabe, mesmo, definir o que é amigo? Onde estão as definições, os títulos, que damos a todos os que enredamos na nossa vida, que aceitamos nas nossas redes e de cujas redes aceitamos fazer parte? Haverá alguns com clara definição, mas a maioria navega numa espécie de limbo. Interagimos, de diversas formas, com diferentes graus e tipos de proximidade, com pessoas que por vezes não nos dizem nada, outras vezes realmente não conhecemos, e nem sempre é fácil de definir os contornos de cada um destes relacionamentos. Mas, quando se define o conceito de amigo e se aplica o mesmo, com rigor, às centenas de pessoas com quem nos enredamos, sobram sempre poucos, acho que demasiado poucos. E creio que a maioria se angustiaria ao reconhecer que, de toda a rede, apenas esses tão poucos realmente nos seguram. É mais confortante, talvez, pensar que a rede é imensa.

Sempre vi um laço pessoal como uma ponte. E lembro-me sempre do meu avô a esse respeito, das nossas discussões sobre individualismo. Não podemos existir sem pontes. Temos de as lançar, de as construír, de as manter, para as podermos atravessar e deixar chegar os outros. Mas hoje, parece que isso faz-se, quase sempre, com um intuito utilitarista, no propósito de afirmar uma qualquer competência, e preservam-se as ligações, mesmo que não nos digam nada, apenas porque podemos vir a precisar delas. Mistura-se o pessoal com o profissional, o afecto com a utilidade, o real com o virtual. O que me parece hoje é que, cada vez mais, se tende a confundir as pontes que se podem atravessar com segurança e as que são apenas setas de diagramas que mapeiam a rede em que nos movemos. Depois acontecem as tentativas de travessia desastrosas - muitas pontes são miragens. E talvez por isso seja mais difícil queimar pontes, seja difícil reconhecer as que não levam nem trazem ninguém, ou até, por vezes, as que deixam passar mais mal que bem. De certa forma, isso tornaria evidente a fragilidade e a solidão da rede, que se pensa feita de tantos outros.


A Ervilha da Princesa



Há sempre qualquer coisa que incomoda, é verdade, e às vezes é bom, porque o que seria de mim (e arrisco dizer: de todos nós), se não houvesse sempre um pouco de insatisfação, um difícil qualquer porque lutar, um perfeito qualquer para almejar e nos fazer melhorar, um inatingível qualquer por desejar? Só quero escolher a insatisfação que admito, quero escolher as minhas lutas pelos difíceis que elejo, quero escolher o que almejar e desejar.

Porque, às vezes, esses incómodos não funcionam no positivo, tipo "carrot on a stick" que me faz avançar; às vezes, são empecilhos ao avanço, pequenas angústias latentes, com o peso do desconforto de noites mal dormidas. São ervilhas debaixo dos colchões, porque sim - eu sou Princesa, delicada, e tenho mais do que uma ervilha a pertubar-me o sono - e o passo.

Apenas resolvi livrar-me de uma ervilha. É a que mais mal me tem causado e não tenho espaço para ela. Não te parece simples e lógico? Julgas isto algo assim tão inusitado? Olha que não - é muito comum. Só nem sempre assim tão claramente promulgado. Mas é como te digo: eu nunca me importo de admitir que errei. As aprendizagens com o erro foram sempre as lições mais significativas da minha vida. Portanto, se um dia tiver de te dizer que sim, que antes esta ervilha e o sono perdido à falta do que ela representa, pois seja. Também provavelmente, se isso acontecer, ter-me-ei livrado de outras ervilhas e andarei a dormir muito mais tranquila. E o incómodo da ervilha estará lá por escolha própria. Sim, sim, as minhas reais desculpas - mas para mim faz toda a diferença.

Depois da chuva


Nos ciclos de baixos é como se fosse uma chuva forte que nos impede o passo, que nos obriga a uma espera incerta e dorida. Mas depois, depois da chuva, que nunca chove para sempre, sai-se finalmente lá para fora, com o fim da torrente. E a chuva limpou o ar e a espera molhou a terra; e a terra molhada cheira a vida que desponta da semente. E uma semente é uma esperança - rebento, planta, árvore - e uma árvore é um futuro. E um futuro é vida, para viver simplesmente. No tempo dela, a vida, que corre como cresce a árvore: lenta, mas inexoravelmente.

Happy New Year (sim, sei que é Julho lá fora)

Hoje acabou mais um ciclo. Na sucessão de altos e baixos da vida, este foi um ciclo bem por baixo. Foi um longo e penoso caminho de tentativa e erro, sempre erro, por vezes sem vislumbrar que propósio serviria tanta lição aprendida a duras penas. Com uns picos em cada nova tentativa cheia de esperança, a achar que finalmente vencia, mas uma coisa breve, transitória, rapidamente transformando-se em queda abrupta. Em quase todas as áreas da minha vida. No entanto, não estou infeliz. Estou mais fria, mais céptica, quase cínica, mas mais esclarecida - o que é bom, enriquecida por essas lições que começo a ver terem utilidade - finalmente, muito mais preparada para viver melhor o alto que agora se advinha, tendo abandonado a procura das coisas de cuja falta fiz angústia, que erradamente pensei que me definiriam e que acreditei que encerravam a felicidade.

Do que vivi neste ciclo tão negativo, espantosamente, sobram coisas boas. Sei onde estão as minhas lealdades, onde estão os que me são leais. Sei o que é realmente importante para mim, seja ou não aquilo que "devia" ser. Sei com o que não posso viver e sei do que preciso para sobreviver. Sei que erros não repetirei na alta, para suavizar a próxima baixa. Hoje, encerra-se um ciclo em que tudo o que procurei e tentei falhou, mas também um ciclo onde elegi as prioridades erradas. A partir de agora, as prioridades são outras e farei da oportunidade que tenho nas mãos a base do meu futuro, com independência e dignidade. Vou investir num futuro mais tranquilo e para isso renuncio a 2 anos da minha vida pessoal. Na verdade, pesando bem as coisas, renuncio a muito pouco. Só há uma área dessa esfera que me preocupa e que pesou na decisão, bem como na flexibilização que foi necessária: o meu filho. Tudo o resto é uma paisagem mutante. Hoje está, amanhã partiu, murchou ou morreu. Aquilo que ficará sempre enquanto tiver vida sou eu própria e o único amor inquestionável que me move é o meu filho. É por mim e por ele que vivo e é nesse propósito que tenho de encontrar a minha forma de ser feliz, nem sempre no imediato, mas sempre com os olhos postos lá à frente - pelos dois. Por isso, mesmo ciente da dureza do caminho dos próximos 2 anos, sinto-me já na linha ascendente da curva e hoje sabe-me a dia de Ano Novo. Faltou só o champanhe.

Condenada

Não é de espantar o grau de cepticismo a que é possível chegar, pois há todo um caminho na progressão de cada grau. Sou céptica, há muito tempo, sobre as virtudes da raça humana e, por consequência, sobre o amor. Sou desconfiada e rapidamente desenho as possibilidades mais negras - tiro da minha base de dados pessoal exemplos da minha experiência, e das de outros que acompanhei, e aplico-os como o padrão provável ao contorno de cada outro que atravessa o meu caminho, de cada história que me enrola.

A evolução é a vontade de errar. Até certo momento, mesmo desenhando a probabilidade mais certa como um repetido desaire, na dúvida ía saber. Queria tirar tudo a limpo - não para confirmar um cenário negro, mas na esperança de estar errada, querendo mesmo estar errada, por acreditar na possibilidade da excepção à regra, porque apesar do cepticismo ainda tinha esperança de que o exemplo para trás fosse apena má sorte. Mas acumulam-se as confirmações pela negativa, os padrões tomam contornos cada vez mais nítidos, as probabilidades aproximam-se cada vez mais do absoluto, diminuindo sucessivamente a margem de erro. E assim, a partir de certo ponto, com as negras probabilidades tornadas inevitabilidades, as dúvidas tornam-se certezas. E já não se dá sequer um passo para tentar esclarecimentos - já não são precisos. Assumimos que não há erro, autoproclamamo-nos realistas, recusamos a excepção à regra, largamos a esperança. O desenho de cada outro vai construindo uma raça de gente incapaz de amar e indigna do nosso amor; portanto, o amor como o quisemos encontrar e viver, não tem espaço de existir.

Em que momento exacto passamos de cépticos a cínicos (filosoficamente falando) é difícil de precisar. Mas é uma progressão inevitável. Nada podemos contra o caminho que fomos fazendo, os mortos que por ele enterramos e as vezes em que nele morremos. Um dia tem-se a certeza, simplesmente, de que não vale a pena acreditar, lutar ou esperar, por isso nada resta se não eliminar a necessidade de algo que sabemos não poder encontrar. Quem é que pode condenar um condenado?