Estranho Silêncio

Todos temos os nossos limiares, os nossos limites. Medidos pela resistência e elasticidade das nossas emoções e capacidades. Há um ponto onde o esforço é simplesmente demais, e ou a corda não resiste e parte, ou não estica mais e nos pára, quando não nos atira para trás em desiquilíbrio, num movimento de chicote.

Tenho sentido essa corda no limiar. O limiar da dor, do desconforto, da tristeza, da saudade, da frustração. Tenho tentado abstraír-me do mau ao longo das últimas 3 semanas, a pensar sempre que mais um bocadinho e isto acabava, ía-se o gesso, tinha o meu filho de volta, regressava ao trabalho, e tudo voltava ao normal. Esticava a corda com fé, com esperança, e com mais ou menos analgésicos. Mas os últimos dias trouxeram uma nova vaga de coisas más e tristezas. Por isso não me apetece escrever e já o post anterior foi escrito numa enorme tristeza, e apenas de marco.

Estou assim. Como um jardim abandonado que a natureza encarregou de tornar selvático. Escuro, na desordem do crescimento descontrolado das plantas. Triste, no abandono da luta e do esmero do jardineiro. E custa pegar nas ferramentas para lhe pôr ordem outra vez e permitir que a luz ilumine o chão, porque é uma tarefa árdua para a qual, neste momento, me faltam as forças.

Estou vazia de força e de linhas, num silêncio ensurdecedor de palavras soltas que não se querem conjugar. Agora, não consigo escrever a minha alma. Fui para lá do limite.

22 comentários:

Francis disse...

coragem.


dizia sebastião alba "fui longe demais dentro de mim"

CB disse...

Francis, pois é o que falta.

Não conhecia Sebastião Alba, mas essa citação é spot on.

Apple disse...

Perante este despojamento, tudo o que te possa dizer soará oco e acessório.
Abraço-te,com a força da amizade que restaura e ampara.

CB disse...

Apple, obrigada. Sabe bem um abraço assim.

Ana GG disse...

Outro abraço...apertado!

CB disse...

Ana, obrigada. Que bom...

Anónimo disse...

Repara, mesmo num jardim que a natureza tornou selvático há uma beleza escondida. Há as flores silvestres que despontam sem terem sido semeadas, há passarinho que fazem ninhos onde antes não podiam. Há silvas que picam? Há... Mas também as rosas o fazem...

Pronúncia disse...

Princesa, não sei se serve de alguma coisa, mas um dia alguém que percebia de sentimentos e de pessoas disse-me:
"Quando pensas que já não aguentas mais, olha bem para dentro de ti, porque há sempre uma réstia de forças, e tu aguentas! Tu aguentas muito mais carga do que aquilo que pensas ser possível."

De qualquer maneira, fica um abraço virtual enorme! força... :)

CB disse...

John Doe,
Pois sim, há isso tudo. Mas é preciso saber procurar, conseguir ver. Às vezes não vejo.

CB disse...

Pronúnica, obrigada pelo abraço e pela força. :)

forteifeio disse...

principeza

o mais dificil está feito força mulher, se é que me posso dirigir assim a uma pricipeza

CB disse...

Foteifeio, espero que sim, que o pior tenha passado. Preciso de um fôlego.
PS: Claro que podes. Mas só por me chamares principeza... :)

Anónimo disse...

Desculpa a frieza da pergunta mas...

Porque não sabes ou porque não queres?

CB disse...

John Doe,
Porque esgotei, simplesmente. Não resta força ou capacidade de procurar, nem vontade de ver, sim, também. Talvez porque não me agrada a visão que sei que vou encontrar.

Anónimo disse...

Mais umas perguntas... (sorry)

E não estarás tu a ver afunilado? Onde anda a visão periférica?

CB disse...

John Doe,
Engraçado - é que penso o contrário. Nestas alturas é preciso o esforço de focar mais de perto, procurar com mais atenção. E cansa e estou cansada.

Anónimo disse...

Perdoa-me, mas acho que nunca poderás ver o particular em condições sem ver o geral primeiro. Alarga a tua vista pelo jardim, selecciona o que te chama a atenção à primeira vista e só depois afunila ao que pode interessar.

CB disse...

Não há o que perdoar. O "geral" é a selva que sinto, densa e desordenada. A dificuldade é, precisamente, escolher o que "pode interessar". Tudo importa e algumas coisas não são evitáveis, não posso fugir delas. É mais difícil ainda se não é límpida a visão, turva pelo cansaço, que se esgota no que tem inevitavelmente que ver. Mas obrigada pelo conselho.

LBJ disse...

O que estás a passar é um enorme desconforto, dor, sofrimento físico, mas que sabes que é um pedaço de tempo que vai passar e vai voltar tudo ao que era, tem que ser essa a tua convicção porque a realidade não vai fugir muit dai.

O resto, a dor interior, o cavar da tristeza, essa é outra história e o tempo não te pode agora trazer certezas nem de luz nem de escuridão, mas olha, nestes últimos tempos tenho-me cruzado com pessoas tão fantásticas, tão merecedoras e com sofrimentos tão profundos, carências tão reais que me fizeram avaliar e pesar a medida das minhas emoções e necessidades, sei que isto não te ajuda, não te resolve o teu problema, mas faz um pouco o exercício, escreve numa folha branca as coisas boas que tens, a saúde que vai voltar, o teu filho, a qualidade de vida, os amigos verdadeiros, as pessoas que te querem bem, as alegrias que já tiveste na vida e vais ver que sem muito esforço vais olhar para a lista e sorrir pelo que já tens e ver que o que ainda não tens não será assim tão difícil de conquistar.

Claro que não tenho nenhuma pretensão mais que te tentar animar e deixar um beijo de apoio e relembrar-te que quando te apetecer desabafar, sabes onde me encontras ;)

Beijos

CB disse...

LBJ,
Isto não era para fazer nenhum drama. O meu problema mesmo é apenas cansaço. Físico e psicológico. "Tão só" o luto de alguém que perdi há 3 dias e que me era muito especial, ao fim de 3 semanas no limite das minhas forças a pensar que chegava agora à meta, para descobrir que só corri ainda meia maratona. Mais nada. Não é para analisar, não é para fazer exercícios de contabilização de bençãos e tragédias, nem comparações com as tragédias dos vizinhos. É tempo apenas de parar, recuperar o fôlego, serenar até que as palavras voltem a querer conjugar-se no fluir de um texto que me explique, que desbrave a selva e ponha flores no jardim.
Obrigada pelo apoio e sei, sim, que a intenção era animar-me.
Um beijo

Sendyourlove disse...

então daqui um abração comunitário...tipo moche...mas devagarinho por causa das limitações fisicas :D

CB disse...

Sendyourlove, obrigada... :)