Quem manda aqui não sou eu

Ocorreu-me que é difícil distinguir entre objectivos e desejos. Mais feliz seria se pudesse apenas ter objectivos, que me coubessem apenas a mim alcançar, e não uma lista de desejos, de sonhos, de vontades, de intangíveis que não tenho nas mãos o poder de realizar.

Sempre me revoltei com a ideia de que não somos donos de nós próprios. Durante muito tempo, achei que cada um colhe o que planta e que cada um é livre de seguir pela estrada que escolhe. Mas com o tempo, com a desilusão e o desencantamento, fui percebendo que somos muito mais escravos do destino do que pensava. Não escapamos ao que nasce connosco, nem ao que nos rodeia e que cresce connosco, nem o que a vida nos vai fazendo viver.

Geralmente, vou atrás do que quero e luto por isso, às vezes até à exaustão. Mas, no fundo, essa rebeldia e essa teimosia só me têm trazido dissabores. Muitas vezes me pergunto se não teria sido mais feliz se tivesse simplesmente desistido de caminhos que não eram os certos, às primeiras dificuldades e avisos de perigo à navegação. Pergunto-me de que serve lutar contra o destino, que nos desgasta, leva tanto de nós, para no fim concluir que travamos uma batalha em vão. É que os sonhos que queremos realizar podem ser uma desilusão tremenda e razão de imensa infelicidade, sobretudo um amor que temos por alguém por quem lutamos, que acreditamos ser o caminho da felicidade, e que depois não é. Se esse sonho, esse amor, não são o nosso destino, lutar contra isso faz-nos mal, esgota-nos e não nos leva a lado nenhum. Mas saber reconhecer o que é possível e o que não é, não é nada fácil. Na maior parte das vezes, só percebemos que não é caminho quando já nos perdemos, já sangramos da batalha, já temos o nosso exército dizimado. Não resta se não a retirada, raras vezes honrosa, e voltar ao ponto de partida para tomar um caminho diferente, já traçado, que não exija ser desbravado.

No fundo, não escolhemos quase nada. Às vezes as escolhas que queremos fazer não são simplesmente possíveis, porque são caminhos inexistentes. Acabamos por ter de seguir os caminhos para onde nos empurra a vida. E cabe quase sempre ao destino, à sorte, escolher o que nos traz a vida. A mim, peço que me traga Paz. Pelo menos isso. Hoje, no silêncio de que preciso para respirar.

10 comentários:

Pronúncia disse...

Princesa, já começa a ser um hábito, mas há uma frase que encaixa na perfeição neste teu texto:

"Deus dá-me serenidade para aceitar tudo aquilo que não posso mudar. Dá-me força para mudar tudo o que posso e deve mudado. Mas, acima de tudo, dá-me sabedoria para distinguir uma coisa da outra".

O LBJ encontra sempre a música ideal para um texto, os teus textos fazem-me sempre lembrar frases que ouço por aí.

:)

1REZ3 disse...

Talvez sejam essas batalhas que te darão verdadeiro sabor quando venceres a guerra, já pensaste nisso?

Não, não controlaste o momento em que o viste, nem o porquê de ele estar lá.
Não controlaste os teus sentimentos mas daqui para a frente talvez sejas capaz, não de os controlar, ou melhor, anular, mas de reconhecer se serve ou não entregá-los.

Se acreditas mesmo que não controlas o destino, pensa que tudo tem um sentido.

Uma coisa é certa, já tenho mais uma pessoa por quem torcer :)

PS: Realmente, Pronúncia, és a mulher dos ditados e das frases :D

CB disse...

Pronúncia
Gosto sempre das frases que me devolves em eco dos meus textos. Esta é, de facto, especialmente certeira. :)

CB disse...

Treze,
Já percebi que hoje estás muito positivo... :)
Mas não consigo ver as coisas da mesma forma. Cada batalha perdida é uma derrota e ponto. Não vai saber melhor se algum dia eu ganhar um outra guerra qualquer.
Obrigada por torceres por mim. :)

LBJ disse...

A Pronúncia matou qualquer comentário e eu como sou agnóstico, substituia Deus por qualquer coisa que nos dê fé.

CB disse...

LBJ,
Está bem. Eu não tenho fé em Deus em nenhum "substituto", mas vou pensar no assunto.

1REZ3 disse...

Princesa, Princesa... Não são batalhas perdidas.
Tudo bem, tu vês batalhas perdidas, eu vejo lições ganhas.
É óbvio que ninguém passa por elas com um sorriso de orelha a orelha, mas a seu tempo, à distância distingue-se bem a diferença.

Tento ser tanto quanto possa ser positivo (não sendo o dia-a-dia um mar de rosas). Haverá alternativa?

Tens um trunfo muito importante - o teu filho. Acredito que a forma como o retratas é também uma forma de seres, a forma como o descreves é uma parte de ti também a mostrar-se. E é bonito de ler :) (sei que é um acto natural de uma mãe, mas ainda assim bonito).

Vou mas é dormir antes que fique lamechas :D Boa noite.

CB disse...

Treze,
Lamechas?! :D
As batalhas são lições, sem dúvida, mas também cicatrizes. Não é bonito nem agradável.
Quanto ao meu filho... não é bom dia para lembrar. Que a ausência dele agora custa-me. E quem está a ficar lamechas agora sou eu!...

1REZ3 disse...

Já venho tarde mas ainda a tempo de me auto-penitenciar pela minha inconveniência acerca do teu piqueno. Por vezes tenho a tendência de me meter no que desconheço...

CB disse...

Treze,
Não há necessidade de "penitências"... E hoje já matei saudades dele por um bocadinho.