Parar

Vi-o. Um jantar numa viela perdida do Bairro Alto, onde bem me custou chegar em cima das muletas. Um grupo relativamente pequeno, tudo animado, all in all, uns bons momentos de descontracção e arejamento da minha clausura, depois de umas bebidas à beira rio antes do jantar, na total descontracção, que ele não estava nem o imaginava a juntar-se ao jantar.

Não sabia do meu acidente. Foi simpático, como sempre. Na distância, que eu alarguei. Não posso dizer que me é indiferente, que não é. Custa tanto, ainda. A única diferença agora é que o sonho acabou para mim, não há expectativa nenhuma, o tempo passou demais. O amargo é mais difuso e a tristeza é um vazio desconfortável no estômago, mais do que a dor de uma agulha espetada no coração.

Mas só me apetece dizer palavrões. Porque é que tinha de ser assim?! Alguém me falava hoje em ter o que se merece, e eu acho que merecia ter tido mais que isto dele. Mas não mereci. E sei que a estrada não segue, e ainda assim nunca consigo resistir a anotar mentalmente a prova de tudo o que tinha para dar certo. Até me parar, porque sei que é perigoso. Stop!

20 comentários:

mf disse...

Nada que eu não tenha feito ou não continue a fazer, de vez em quando, essa da anotação mental de que tinha tudo para dar certo.
Mas sabes, minha querida, sempre que me dá para essas anotações (felizmente muito raras, já), anoto uma logo ao fim de duas ou três enumeradas: para dar certo é preciso que os dois queiram e ele foi burro. Burro, burro, burro. E a estupidez mental do outro é algo que não podemos controlar. E, pensando bem, que não quero para mim.

Tu arranjas melhor. Bem melhor. ;)

Beijo

Apple disse...

Às vezes parar é fundamental. Quanto mais não seja por uma questão de sobrevivência. Por mais que se queiram respostas, e querem-se, por mais que tenhamos a "certeza" que havia tudo para que o desfecho tivesse sido outro...há um momento em que temos de deixar cair e não ceder ao impulso de voltar a compreender. Olhar para o que fomos ou pior, para o que poderiamos ter sido, é meio caminho para nos prender a algo que nunca será e é o suficiente para nos impedir de prosseguir na demanda daquilo que somos.

CB disse...

mf,
Tens razão. Era preciso os dois quererem e sei que não posso controlar o que não é de mim. Não deixa de ser triste por um lado e, por outro, não deixa de me causar uma enorme iritação e um certo sentimento de injustiça, com a vida, com o destino, mais do que propriamente com ele. Com tanto azar ao amor, se calhar devia dar um saltinho ao casino.
Talvez um dia a sorte mude.
Beijo

CB disse...

Apple,
É mesmo por uma questão de sobrevivência que paro, e de vontade de andar em frente, de largar um passado que não tem futuro. Escreveste-o de uma maneira linda como sempre. A "demanda daquilo que somos", de facto, não se pode fazer quando nos prendemos lá atrás.

LBJ disse...

Sabes que as regras são simples, podemos ter dúvidas mas só a prazo e sabes que este é um conselho de quem não tem grande moral para dar, mas grande vontade de praticar ;)

Beijo

CB disse...

LBJ,
Obrigada mas não sei pôr pazos nas coisas, muito menos nos sentimentos. Neste jogo não há regras.
Beijo

1REZ3 disse...

Faço das palavras da mf as minhas.
Se ele não viu a tua beleza é porque é burro (e fala a voz da experiência).
Princesa, é com isso que tens que confortar-te, não era ele. Ponto final.
Acredita que quando assimilares essa "verdade" tudo será mais fácil.

E acredita, serás feliz :)

CB disse...

Treze,
Não sei de onde te vem tanta certeza, mas obrigada. Sou mais burra que ele, que não "assimilei" a verdade, como dizes.
Acreditar também custa, sabes? Mas vou tentando e arriscando uns sorrisos. :)

mf disse...

Ó querida, uma primeira tarefa: burro é ele, tu és uma Princesa. Acabam-se aqui as mortificações, o auto deitar abaixo. É tempo de te olhares ao espelho e de pensares 'Eu mereço muito melhor porque sou muito boa pessoa.' Repete lá isto muitas vezes, anda. Até acreditares. Porque é verdade. :)

CB disse...

mf,
Não é "auto deitar a baixo", é mesmo reconhecer isto como uma fraqueza estúpida, que não gosto de ver em mim, mas de que não há meio de me conseguir livrar.
No espelho eu vejo de mim essa Princesa que já merecia encontrar um amor como deve de ser. Mas foge-me, esse amor, essa vida que queria viver e não posso escolher.

1REZ3 disse...

Bom... A mf hoje está a "falar" por mim :)

Uma das certezas advém de "ver" a pessoa por detrás da escrita. E não falo de quando escreves sobre mereceres. Bastam as outras palavras (sem receio de estar errado).
Quanto a não teres assimilado a incontornável verdade de que não era ele o "tal", não faz de ti mais burra e sim a ele. Porque viveste segundo aquilo em que acreditas, não na relação, mas no teu comportamento, na tua disponibilidade para te "dares".
Ele não foi burro por não se dar, foi por não te ver. É bem diferente.

E Princesa, aprendi a não condenar as pessoas por serem "cegas". Só quem passa por isso saberá (e eu já estive nos dois lados da barricada).

Um dia também tu terás essa certeza. A certeza da tal "verdade". Assim o desejo.

:)

mf disse...

Sabes...

O que te foge é o amor por ti própria. Quando ele chegar, terás a certeza do que és e do bom que tens para dar. Não estou a falar do que sabes, estou a falar do que sentes (racionalizar que somos boas é fácil, senti-lo gravado na pele é muito difícil).

Quando vires no espelho ESSA Princesa, vais-te sentir bem e vais conseguir ser feliz. Com ou sem uma pessoa ao teu lado.

É nisto que eu acredito.

Quanto ao resto... O Treze já falou por mim. :)

CB disse...

Treze,
Dizes uma coisa muito certa que eu já escrevi parecida há uns tempos: ele não é burro por não se dar. O amor não se impõe. Ele não tem culpa de não se ter apaixonado da mesma forma que eu. Também já estive do outro lado, até muitas vezes, e não gostei nunca, porque não gosto de ver os outros sofrer, muito menos quando a "culpa" é minha. Entende que eu não o culpo por nada. Culpo o destino por não me ter permitido viver o que queria viver com ele, e culpo-me a mim por não me conseguir libertar disto de uma vez por todas. É uma coisa nova para mim, não sei lidar com isto. É só.

CB disse...

mf,
Talvez tenhas razão. Ao longo do último ano eu recuperei-me de muitas formas, vi no espelho essa mulher-princesa que senti na pele. Rejuvenesci e andei alegre, e foi nessa "onda" que o conheci. Mas talvez a minha auto-estima não fosse ainda suficientemente forte para aguentar o embate de uma rejeição que me deixou de novo a procurar a pele que me fugiu.
Agora tenho dias. Quando sereno e não o vejo por uns tempos, aí ando eu bem comigo, na minha pele. Depois... ainda não consigo ser indiferente ao embate.

1REZ3 disse...

Por acaso quando referi "cegas" era em relação a ti, de não teres percebido a tempo...
E em condenar referia-me a não questionar o porquê de as pessoas insistirem em algo que não existe. É no sentido de afastar a auto-culpabilização.
E fazes bem não o culpares do que quer que seja. É bem possivel que mais tarde ou mais cedo seja ele a ter que desculpa-se a si próprio (ainda que isso não te ajude em nada).

O sono já não está a permitir uma linguagem mais lúcida... Fico-me por aqui até um próximo texto.

Força!

CB disse...

Treze,
Obrigada. Foste claro. Dorme bem e força para amanhã. :)

mf disse...

Lá chegarás. É tempo, o que precisa de passar. :)

CB disse...

mf,
O tempo cura tudo, é verdade...
Obrigada. :)

Pulha Garcia disse...

Um grande e conhecido advogado deste Pais disse-me um dia "as dúvidas que tive ontem são as certezas que tenho hoje". Da próxima vez que o vires vais estar mais forte. E assim sucessivamente. Não que te venha a ser uma pessoa indiferente (tal nunca vai acontecer) mas acredito que as correntes da vida te vão começar a levar para outros portos, se o permitires.

All the best

CB disse...

Pulha,
Espero que assim seja. Obrigada.
All the best