Quando o mau pode ser pior – e é

Ía escrever este post com uma nota positiva, por tudo o que estou a aprender que consigo fazer sozinha. As coisas mais básicas do quotidiano passaram a ser enormes desafios. Estou sozinha, com pouca ajuda, e não é do meu feitio pedir a não ser em último caso. Mas vou superando os desafios, com maior ou menor dificuldade, com mais ou menos criatividade (e as canadianas passaram a ser extensões de mim com funções cada vez mais alargadas – e mais certeiras). Fui jantar fora no sábado de pé entrapado mas com um lindo vestido, maquilhagem, etc (só o sapato raso é que destoava, mas há que fazer concessões).

Estava a começar a acreditar que afinal isto não era tão mau, àparte o facto de estar condenada a um afastamento forçado e longo, muito longo, do meu filho. Mas eis que saio hoje da consulta de ortopedia com uma sentença pior: além da "fractura do tarso" já diagnosticada, diz o especialista que esta paciente “apresenta arrancamento capsular do escafoide.” Traduzido por mim: era para engessar e não foi, há que corrigir a posição do pé (dor, muita dor!), engessar da ponta dos dedos ao joelho (e lá vai mais metade das opções de vestimenta que ainda tinha, fora o desconforto adicional), 3 semanas para voltar e tirar o gesso para substituir por uma “tala de posicionamento articular da tibiotársica AFO”. A tradução desta última colecção de palavras incompreensíveis é que são mais umas semanas com uma tala horrorosa que vai ter de ser adaptada a um sapato ténis, que é só o que posso calçar enquanto andar com a tala.

E por fim, sentencia o médico: “sendo provável período de incapacidade para o trabalho de 4 semanas”, isto dada a necessidade de manter a perna elevada a maior parte do tempo, e isto apesar das adicionais injecçõezinhas diárias agradáveis para prevenir embolias e sei lá mais o quê.

Agora sim. É pior que mau, e hoje não me resta nenhuma centelha de humor para deitar nisto. A única coisa que me anima é que vou passar 5 dias com o meu filho com a ajuda dos meus pais. Mas depois cá volto para a minha casa na solidão e na saudade dele até poder bastar-me e poder re-assumir o meu papel de mãe. Hoje mandou-me uma flôr pelo pai, que ele próprio apanhou do jardim do pai e escolheu por ser branca e "das que a mãe gosta". Falei com ele ao telefone há pouco, e fiquei com um aperto indescritível, depois de me perguntar se já estava boa do "dói-dói" e quando é que voltava para casa. É o aperto de me sentir incapaz, insuficiente, de sentir que estou a falhar-lhe. E ao mesmo tempo a sentir a falta que ele me faz, o simples facto de não o ter "comigo" faz-me faltar uma parte de mim, a melhor parte de mim.

17 comentários:

forteifeio disse...

Força amiga, vais superar isso és forte.

Logo, logo estarás a correr e a apanhar flores com o teu petiz, afinal uma principeza nunca deixa de ser.

Apple disse...

Minha Querida,
que dizer para te animar? há palavras que agora são acessórias, por isso fica um abraço forte e um beijinho para dar força e iluminar um sorriso.
Vai correr tudo bem!

Ana GG disse...

:) :) :) :)
Nada a dizer, contra factos não há argumentos...estás mesmo tramada da pernoca.
Pensa que vai passar num instante.
Acrescenta mais uma dose à tua paciência e p'rá frente é que é caminho, nem que seja esticada no sofá.

Aproveita para escrever muito.

CB disse...

Forteifeio,
Obrigada. "Logo, logo" me há de passar... :)

Unknown disse...

Não é falhar a ninguém tratar de nós próprios! Força e as melhoras! :)

CB disse...

Apple,
Essas são as palavras certas - as que trazem alento na força de abraços e beijinhos, ainda que virtuais. Obrigada. :)

CB disse...

Ana,
"Instante" coooomprido este... Mas vou escrevendo sim. Obrigada :)

CB disse...

M,
Pois, o tratar não. O dar cabo de nós e acabarmos nesta situação é que tem mais que se lhe diga. Obrigada pela força. :)

1REZ3 disse...

Ao menos é Verão...? :s

As melhoras rápidas (o mais depressa possivel).

CB disse...

Treze,
Agradecida pelo esforço. Já ouvi isso hoje por causa dos vestidos... Mas tu não sabes que o gesso faz um calor dos diabos, pois não?... :s
Obrigada, claro. :)

LBJ disse...

Um beijo de solidariedade, mais uma prova de força, esta é física, tenta transformar o infortúnio em algo positivo, aproveita para escrever, para leres, para veres ou reveres aquele filme :)

Outro Beijo e as melhoras

LBJ disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
CB disse...

LBJ,
Obrigada. Pode ser que seja desta que acabo o meu conto que já se está a tornar muito extenso - parece que ganhou vida própria e estendeu-se para lá do que intencionava... :)
Um beijo

1REZ3 disse...

Princesa,

não, felizmente não sei o calor que faz o gesso.

Vê pelo (único, direi) lado positivo, não passas despercebida :) (estou a tentar...)

CB disse...

Treze,
E tentas muio bem - tens toda a razão. Serviço muito mais rápido em todo o lado, prioridade de mesa em restaurante, votos de melhoras e simpáticos gestos de estranhos. Isso é verdade.

Anónimo disse...

Escreve-lhe. Escreve-lhe um diário de cada dia longe dele, conta-lhe o que fizeste, como o fizeste. Fala-lhe das saudades. Manda-lhe as cartas ou guarda-as. Um dia, ele vai amar lê-las. Força Princesa. Muita energia para ti.

CB disse...

Imaculada,
Obrigada e que excelente ideia! Vou escrever-lhe sim. É mais um fantástico projecto para me ocupar e me fazer sentir mais perto dele. :)