Dias de Mãe vs. Dias de Mulher

Durante meses continuei a sentir-me angustiada, deprimida e triste. O meu filho sofreu com isto. Dava-me abraços e carinhos e perguntava-me encorajadoramente: "A mãe está contente?!"... Claro que lhe dizia que sim, que gosto muito dele e dos abraços e miminhos que me dá. Também o abracei com o coração apertado e tentei dar-lhe os meus melhores sorrisos.

Ele é a coisa mais importante da minha vida, tudo tem girado à volta dele - até demais. E não me arrependo porque quero o melhor para ele e quero que seja feliz. E porque é a minha responsabilidade de mãe. Também sei que não me posso esquecer de mim, e que tenho de estar bem e feliz para ele o sentir e poder transmitir-lhe o amor e carinho que ele precisa, para ter a paciência e a disponibilidade de rir e brincar com ele.Tenho conseguido ir ganhando aos poucos autonomia e liberdade para respirar. Só que às vezes também me angustio a pensar se farei o melhor para ele. Pondero se não terei ficado se calhar um pouco egoísta de mais... Este equilíbrio é muito difícil, porque embora não veja o meu filho como uma “parte” de mim, um prolongamento, uma perpetuação, sinto o peso de carregar com ele, já não fisicamente, mas de uma forma mais profunda. Ele depende, de facto, de mim. Eu não quero negar-lhe nada que lhe faça falta para crescer e se tornar num ser humano completo e feliz, mas não posso dar de mim mais do que uma parte, porque não me posso esvaziar nele.

Por isso, tentei organizar a minha vida de forma a conseguir um melhor equilíbrio. Na verdade, e por comparação com a vida de muitas mães solteiras por esse mundo fora, até tenho muita sorte de ter tantos apoios e ter hoje bastante tempo, espaço, liberdade, os silêncios de que sempre precisei tanto e de que sentia tanta falta. Devia ser o suficiente para poder passar os dias que tenho com o meu filho com mais alegria, energia, e boa vontade. Mas, por outro lado, o pior é que, ao fim de algum tempo, começo a sentir os tempos e os espaços desses "dias de mulher" como vazios que não consigo preencher. E não uma liberdade mas uma jaula de angústia, que depois não me deixa bem para os meus "dias de mãe".

Às vezes não sei o que fazer para encher a minha vida. Quando esgoto programas, jantares, saídas, cinemas, e depois coisas como a Internet, o ginásio e o supermercado, apetece-me qualquer coisa mais e não sei onde ir ou o que fazer, e não me apetece admitir a solidão desses momentos saindo à rua sozinha. Lá fico a entreter-me com coisas parvas, a devorar livros, mas a sentir-me um animal enjaulado. É absurdo, eu sei.

Por outro lado, quando o meu filho não está comigo, estou constantemente a pensar nele, se estará bem, se terá saudades. Por vezes falamos ao telefone e são uns momentos sempre inesquecíveis. Por vezes, chego a acordar de noite com a sensação de que ele está ali, a chorar, e depois realizo que ele não está lá.

E saír disto? Continuo perdida e sem a mínima noção de como integrar tantas partes diferentes da minha vida e de mim. As gavetas... Ser mãe, ser boa mãe, e ainda assim ser mulher, é mais uma, pois...

Mas lá tenho conseguido, aos poucos, ir arrumando estas coisas. Assim tipo reestruturação de departamento. E agora corre bem melhor, com menos angústias e mais confiança, e lá vou vendo no meu filho sinais de que, apesar das dúvidas, não estou a fazer assim tão mau trabalho como isso.

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