Magia da Dança

Pelo dia de hoje, Dia Mundial da Dança, comecei a manhã a lembrar-me da primeira paixão que tive na vida - o ballet. Pois é... Fui também uma princesinha de tules, de maillots e sapatilhas côr-de-rosa. Apaixonada pela dança do ballet clássico, a que me dediquei 6 anos, e de que desisti porque se começava a tornar demasiado absorvente para o gosto dos meus pais - até tinha jeito para aquilo e a minha professora puxava por mim e traçava-me planos que não eram os deles. Ainda dancei mais uns anos, outras danças, coisas mais ligeiras, mas os estudos tinham de estar primeiro. E ainda hoje adoro dançar. E também gosto de ver os grandes ballets, tantos os clássicos como alguns contemporâneos.

Para mim, a dança é a expressão sublime da alma a falar pelo corpo. Cada movimento de dança é uma afirmação, com o apoio da música. Adoro largar-me na música. E tenho saudades dos meus tules e das minhas sapatilhas de pontas a que cosia as fitas de seda, e de que tratava com carinho (que eram caras, muito caras!, como a minha mãe fazia questão de me lembrar). Calçar aquelas sapatilhas e atar as fitas de seda à volta dos tornozelos, era uma mágica (por isso, para mim, eram mágicas, muito mágicas!).

Tenho saudades do desafio diário de trabalhar para conseguir a perfeição de um passo, de um movimento do corpo perfeito, não só a nível mecânico mas também a nível de expressão emocional. Do desafio de entrar numa coreografia aos poucos, até conseguir ligar todos os movimentos num fluir de emoções sincronizado ao compasso da música, e tudo fazer sentido. Da satisfação de conseguir ultrapassar-me a cada dia.

E dancei em público algumas vezes, a primeira vez no antigo Tivoli, imagine-se... Os nervos... O medo de falhar... E mais uma vez, superar, superar-me. O ballet ensinou-me muita coisa importante para a vida. E ao mesmo tempo, simplificava-ma, simplificava-me. Quem me dera conseguir fazer hoje o mesmo com a forma como vivo a minha vida, reencontrar essa disciplina, essa vontade, e essa satisfação.

Chegou a ser um sonho de que me acordaram. Podia ter dedicado a vida à dança. Seria provavelmente muito mais pobre no banco, mas seria também provavelmente muito mais rica em mim. Quem sabe, mesmo feliz. Foi a minha primeira paixão na vida. E hoje lembro-me de mim naqueles anos de miúda apaixonada, com carinho, e ternura, e orgulho pelo que essa menina, depois adolescente, conquistou. Tenho pena de ter acabado o sonho, claro. Mas agora sem mágoa ou ressentimento. Resta a paixão de ver, de entender os movimentos, a expressão, de procurar nos outros a dançar a sensação libertadora que sei que é entregar o corpo à música, deixar a alma falar pelos movimentos de uma coreografia que conta uma história. Foi o consolo que encontrei.

Pode ser que venha a ser também assim um dia com as outras paixões da minha vida que se foram. Hei-de encontrar um consolo qualquer para essas também.

PS: Se gostam de dança, procurem por aí, que há 199 municípios a inaugurar hoje uma exposição sobre o tema: "Uma Carta Coreográfica".

6 comentários:

LBJ disse...

Pois, dançar gostava de não ter nascido com dois pés esquerdos ou ser duas vezes canhoto, ainda um dia terei que aprender:)

CB disse...

LBJ, não sei como se pode ser duas vezes canhoto! :) E não acredito que alguém que gosta tanto de música, que entende música, não seja capaz de dançar... Estás-me a querer enganar?!

forteifeio disse...

São as interrogações da vida, também eu já senti esse poder de libertação em algo que fazia em algo que nos envolve e devolve de um sonho. Também eu me revia e vivia acordado e a sonhar , mas os tempos eram outros e se há profissões que agora são iguais às outras, antigamente eram vistas duma forma marginal.

Recordações

Pronúncia disse...

Adoro dançar, apenas e só pelo prazer da música e do movimento. É libertador!

Enquanto danço, não penso em nada, apenas sinto a música e os movimentos. Sabe tão bem! ;)

CB disse...

Forteifeio, é isso mesmo. Ainda bem que os nossos filhos podem hoje, mais facilmente, fazer de um sonho uma profissão. Sempre é um avanço.
Recordações, estas para mim são doces, apesar de tudo.

CB disse...

Pois é Pronúncia. Entendes... Adoro dançar esquecida, perdida na música. Uso essa expressão muitas vezes. E também me consigo perder a ver uma dança especial. Ainda sinto a magia como se fosse minha, volto a ser a tal miúda de sapatilhas côr-de-rosa. Sabe mesmo muito bem, sim. :)