Sofrer de Amor - Uma Coisa Que Escrevi Um Dia

"Minha querida,

Invejei-te a sorte de amares, mesmo depois de tanto que passaste. Invejei-te a sorte de ainda acreditares no Amor - lembras-te?

Desconfiei que o que estavas a viver não era futuro, nem puro, e senti-me, como te disse, ofendida por ti, porque achei que ele não te merecia, não te respeitava, porque queria o melhor dos dois mundos e com isso te fazia sofrer. E eu não gosto de te ver sofrer. Não gosto que tenhas de chorar.

Adiaste o inevitável, como falamos, porque apesar de tudo havia Amor e porque sempre acreditaste que ele te amava. E até eu comecei a duvidar da minha crítica e comecei a pensar que realmente era assim. Mas sempre soubeste o que ele te negava, já ías dizendo que não havia futuro. E ali ficavas, na esperança que ele crescesse, na convicção de que aquele Amor era tão grande que, eventualmente, um dia, ele acordava e te queria inteira, e se dava inteiro, e lutava por ti, por uma vida contigo, assumida e completa.

E entretanto, entretanto, não querias perder o que ele te dava, mesmo sendo pouco, mesmo sendo incompleto. E adiaste a decisão – sabias que ía acabar, mas “agora não”. Só mais um bocadinho, só mais 5 minutos, como aquela sensação de acordar bem de manhã, e da cama quentinha nos saber tão bem, aquele meio-sonho, meio-acordar, e de querermos ficar ali naquele momento bom “só mais um bocadinho”... “Snooze” no despertador.

Mas tu és uma Mulher espantosamente grande, muitíssimo inteligente, tão crescida e sã, que naturalmente acabaste por te sentir de menos ao continuar a aceitar dar um Amor tão grande e puro a um homem que se te deu pela metade. Dói muito, claro. Mas tiveste a coragem de lhe pôr um fim. Sei tão bem o que sentes... Disseste-me ontem as mesmas palavras que eu me disse há muitos anos atrás, mesmo que a situação conducente à conclusão não seja nem de longe semelhante. Disseste-me “tenho de me salvar”.

Perguntaste-me se estava lá para ti e eu respondi “sempre, sempre, sempre”. E estou, e estarei, minha querida. Doeu-me ver as tuas lágrimas, ver o teu desgosto espelhado na cara, sentir os teus soluços de dor no meu abraço.

Como te escrevi antes, sei que tens uma gaveta difícil para arrumar, um amor que ainda transborda para escoar, e lágrimas que terás de chorar. Mas lembra-te sempre que “nunca ninguém se perde. Tudo é verdade e caminho". O que viveste, o que sentiste, o que tiveste, foi e será sempre extraordinário. Será sempre parte de ti, foi válido e imenso. Apenas tinha um fim programado e dois caminhos para lá chegar. Tu soubeste, ao contrário de muita gente que passa por situações semelhantes, escolher o caminho do final que é melhor para ti, e não deixares fazer-te mais mais mal. Chorar agora, muito, como ontem, para não sofrer de Amor ad eternum, suspendendo o resto de uma vida e fazendo de ti, e do teu Amor que sentiste e sentes, menos do que são.

Sei que sabes, mas repito: o meu ombro está à disposição... Umas anedotas se quiseres antes rir um bocado... Um chá, uns chocolates, ou um ouvido atento e sempre, sempre, o meu coração aberto. A ti dou-te aquele abraço, grande e muito apertado. Quantas mais vezes precisares e quiseres.

E sei que te levantarás disto ainda maior, ainda mais forte. Sabes que és capaz de Amar com uma imensa generosidade, e pelo que és de mulher fantástica, hás-de encontrar o homem que te mereça. E não desistas de acreditar no Amor, por favor, porque és a minha última esperança... Enquanto acreditares, vou-te invejar por isso e, de certa forma, vou tendo esperança de um dia acreditar também, nem que seja por osmose...

Estás no meu coração, no meu pensamento, no meu abraço. És uma luz na minha vida e na de todos os que te rodeiam, que espalha à tua volta alegria, carinho, amizade pura, generosidade imensa, um amor ao próximo absolutamente espontâneo e verdadeiro como o teu lindo sorriso. E tudo farei para que não se apague essa luz, tudo farei para que sofras o menos possível.

Chama-me sempre que precisares.

Gosto muito de ti."

E depois de reler isto, senti-me tão, mas TÃO estúpida... Porque embora as situações sejam totalmente diferentes, há aqui (modéstia à parte!) uma sabedoria absolutamente básica que me devia ter servido para aplicar a mim própria... Também tenho andado a carregar no "snooze" do despertador. A não querer ver o óbvio. A não querer realmente escolher o caminho que é melhor, apesar de ser tão doloroso de escolher. Também tenho de me salvar. E ser amiga de mim própria, relendo estas linhas que escrevi a outra pessoa como se as tivessem escrito para mim.

9 comentários:

mf disse...

Ora... Estás a chegar lá... ;)

Anónimo disse...

Esses cobardes, a esses cobardes eu desejo uma vida pela metade. A essa gente de mais ou menos, desejo um passado nem frio nem quente. Quanta ousadia, não é Princesa?

CB disse...

mf, não estou não, infelizmente. Estou apenas a constatar que é fácil dizer aos outros, mas que não tenho força para escolher esse caminho corajoso. Sinto muito estúpida, mas a racionalização das coisas não me está, realmente, a curar de nada. Apenas conheço melhor a doença, os sintomas, as causas...

CB disse...

Imaculada, esse cobarde de qum fala o que escrevi à minha mana, é mesmo isso, um cobarde. E é uma ousadia sim, senti-me e sinto-me ofendida por ela. O meu caso não é igual, de todo. O que eu tentava retirar das minhas próprias palavras era a coragem de escolher o caminho de me salvar de um amor de alguém que não mo retribui, simplesmente porque não me ama. Mas que não tem culpa de não me poder amar de volta.

Pulha Garcia disse...

Todos somos work in progress, Vivendo e aprendendo. Nem que seja para ensinar aos nossos filhos...

All the best

PS- "I had a farm in Africa..." ... o meu filme preferido ou lá muito perto.

Anónimo disse...

Tens mesmo a certeza de que ele não te ama? Ou não te amará num mesmo ritmo, ou não te dirá o amor como tu o dizes? Não sei... O amor é tão raro, que eu sou daquele tipo de gente que se mata por defendê-lo até à última gota... Seja o que for, se foste capaz de Amar é porque o mundo não te conseguiu derrubar. E isso vale mesmo tudo. Ainda que doa (e eu sei que dói).

CB disse...

Caro Pulha, é isso sim - no dia em que deixarmos de ser work in progress, não vale a pena viver. E a nossa vida, se não para nós, pelo menos que tenha sentido e significado pelo que aprendemos e ensinamos aos outros, sobretudo aos nossos filhos.
"I had a farm in Africa, at the foot of the Ngong Hills", as primeiras palavras desse grande filme, naquela voz longínqua, sofrida, mas tão serena, da Meryl Streep - absolutamente magistral ... Faz-me entrar imediatamente na magia do filme, um toque de génio. É sem dúvida o meu favorito.
All the best to you, wherever you are

CB disse...

Imaculada, saber, não sei. Mas não vejo, não. É um tema difícil e que muito me tem atormentado. Escrevi sobre isso no post http://o-destilado.blogspot.com/2009/04/ver-o-amor.html
Mas a minha conclusão foi que não interessa se não vemos ou não está lá - se não nos chega, não há nada a fazer. Talvez ele me ama de uma maneira que eu não entendo, e talvez ele não entenda o meu amor. Provavelmente, não somos as tais almas "comunicantes" e isso, não sei como resolver.

Anónimo disse...

bom comeco