Há janelas


Tenho alma, sou mais que um corpo, valho muito mais do que uma ilusão de amor.

Sei ser "feliz qb", não sozinha, porque preciso do meu filho e dos poucos mas bons amigos que tenho. Mas falta-me amar um homem e ser amada por ele na mesma proporção, com total reciprocidade.

Não acredito poder ser totalmente feliz sem essa companhia. É uma necessidade absoluta, que pode ser uma fraqueza, pode ser absurda, mas é minha. Não quero ainda desistir de encontrar esse alguém com quem possa construir um novo projecto de vida a dois, aliás, a três – porque tenho um filho - ou até a quatro, como recentemente realizei, surpresa, ao ponderar que não quero fechar a porta à hipótese de ter mais um filho. É isto que quero para mim, para a minha vida.

Estou triste, profundamente, porque sei que me entreguei desmesuradamente a quem, racionalmente, friamente, não pôs o mesmo no outro prato da balança. Mas é assim por qualquer coisa mais forte que eu, uma coisa tão forte que rebentou comigo por dentro.

É difícil lidar com o facto de que ele não me quer com a mesma intensidade, no mesmo registo, ou sequer num registo compatível. É difícil não perceber exactamente qual é o registo dele, porque nada é claro, nada é consequente nas suas atitudes, há um travão qualquer que eu não entendo. É difícil não encontrar sentido a isto.

Desalenta-me sentir uma culpa sem culpa. Sinto culpa porque sinto que me fiz mal a mim própria, entregando-me desta forma na alma, e fugindo dele na vida. Sinto culpa pelo mal que me faço a mim própria agora, não me libertando desta coisa absurda que me impele para ele, em sonhos, em pensamentos, em escritos, numa entrega, como dizia, desmesurada.

Mas sinto também que me devo a reserva do direito de não me deixar ir para algo que é menor do que o que quero, é menor do que o que mereço. É disso que fujo e agora entendo. Por isso, reservo-me o direito de sofrer a minha paixão em silêncio, ao longe, até se desvanecer ou até ele a merecer, e a procurar, claramente e sem rodeios, assumindo os riscos comigo.

Detesto meias-palavras, meios-tons, insinuações e inuendos contraditórios. O Amor não pode ser cinzento, não quero um mundo cinzento e não me deixo ficar cinzenta. E não tenho lágrimas, procuro janelas de côr.

4 comentários:

etc disse...

Sentir culpa sem culpa não, ter meia-verdade, meia-felicidade não...ou se acredita ou não, não se pode acreditar a meio! Gostei da tag "sou mais esperta do que pensava" :-) Força aí e um sorriso tras outro, aproveitar os dias com esperança...

CB disse...

Obrigada etc... Tramado é termos de reconhecer o óbvio que não queremos ver. E esta tag é mesmo apropriada, acredita... Esperança sim, com uns sorrisos, sempre.

Pulha Garcia disse...

Quem ama está vulnerável. Mesmo quando sofremos por amor, devemos ter em consideração que a alternativa era uma vida neutral. O risco deste jogo está sempre lá. Como alguém disse "Mais vale ter amado e perdido do que nunca ter amado".

De qualquer forma identifico-me com várias coisas deste texto e do anterior. O caminho é para a frente.

CB disse...

Obrigada Pulha. Não sei para que direcção é o caminho, mas é para longe. Se valeu a pena, se vale sempre a pena, isso é uma outra história.