Levem-me as Ondas do Mar

Ontem misturei desalento à ventania da minha raiva. Nada na minha vida parece que quer realmente andar para a frente e libertar-me. São outras histórias que não pertencem aqui, pertencem ao outro blog que é mais meu canto escuro, caverna dos detalhes e pormenores, nomes e datas.

Aqui sou quase ninguém. São só textos. Uns melhores, uns piores. Para a maioria dos que aqui voltam, apenas palavras que, de alguma forma, farão algum sentido, darão caminhos para explorar, ou permitem identificações e abraços à distância.

Oxalá ajudem alguém a compreender o que não alcanço, mas de que parece que finjo perfeitamente enorme sabedoria.

Hoje terei uma prova de fogo. Não queria. Não queria mesmo, não queria já.

Não pedi para encontrar Amor, antes pelo contrário - há uns meses atrás não me queria apaixonar. E zás... levo com uma paixão de caixão à cova, ando aí a voar, e acabo largada num trambolhão. Para quê, então?

É demais para a minha alma esfarrapada. Tenho tantas mazelas para tratar. A minha vida é de loucos. O mundo parece-me cada vez mais uma realidade insana. Eu estou a ensadecer. Todos os meus dias são provas de fogo. Estou farta destas Olimpíadas. Também não pedi para ser atleta.

Hoje precisava de ver o mar, sentir o mar. Mas não tenho tempo. Se pudesse, ía afogar-me no mar. Embalar-me no vai-vem das ondas. Respirar ao ritmo do rebentamento. Inspirar o sal da espuma no ar, para purificar a alma, para me sossegar. Para encontrar Paz, ou me perder.

Wish me luck...

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PS de dia seguinte: Não pude ontem, mas fui hoje. Troquei o almoço por uma sandwich. Fiz 30 minutos de caminho, metade para cada lado, a maior parte na marginal. Para os 15 minutos de contemplação do mar que me tinha prometido. O mar estava calmo. Azul de prata. O céu meio encoberto mas um sol quente. Até cheirava a mar. Um pássaro pousou bem perto, chilreou alegre o tempo todo. E isto é que é daquelas coisas que eu sei que valeu a pena. A alma não é pequena, e maior ficou.

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De Ricardo Reis (Fernando Pessoa)

Uma após uma as ondas apressadas
Enrolam o seu verde movimento
E chiam a alva espuma
No moreno das praias.
Uma após uma as nuvens vagarosas
Rasgam o seu redondo movimento
E o sol aquece o espaço
Do ar entre as nuvens escassas.
Indiferente a mim e eu a ela,
A natureza deste dia calmo
Furta pouco ao meu senso
De se esvair o tempo.
Só uma vaga pena inconsequente
Pára um momento à porta da minha alma
E após fitar-me um pouco
Passa, a sorrir de nada.

7 comentários:

LBJ disse...

Wish you can be able to be you.

Pronúncia disse...

Good luck! ;)

Ana GG disse...

Wish you luck, luck, luck, luck!
=)

mf disse...

Tens a certeza que não somos clones? :(

CB disse...

A todos vocês, obrigada... Acho que me portei muito bem. Mas hoje vou ver o mar que tenho um peso no peito para largar. E mais uma prova de fogo amanhã. É dose.

PS: mf, separadas à nascença?!...

mf disse...

Pois... É que parece, querida... É tudo tão similar... :S

CB disse...

Que sina a nossa, mf... Mas se o caminho é tão difícil, temos de acreditar que eventualmente chegaremos a algum sítio que valha a pena. Estou a esforçar-me por isso, e sei que tu também. Não desanimes.