Basicamente, vejo 4 tipos de trintões, e embora isto seja um pouco redutor, na verdade as variações que se encontram são de alminhas a transitar entre estes 4 estádios:
- Os solteiros "Peter Pan", à procura de qualquer coisa "mais", e a coleccionar relações inconsequentes e fugazes, e a fugir do que procuram, com medo de crescer, de se comprometerem. Não são felizes, mas fazem por parecê-lo.
- Os solteiros sofridos, a desejar encontrar a “alma gémea”, mas geralmente sem a procurarem realmente, fechados em lutos de relações importantes falhadas, desilusões de amor, muitas vezes a recuperar de divórcios. Não são felizes, e mostram-no.
- Os comprometidos em crise, mais ou menos assumidos, à procura de “sentido” para as suas vidas e para as suas relações, ou já em fase de divórcio, ora a desejarem ser solteiros "Peter Pan" ora a sentirem-se solteiros sofridos, sozinhos e desiludidos. Não são felizes, mas tentam escondê-lo.
- Os comprometidos felizes, sendo raríssimos os que estão juntos há mais do que 1 ano, que deve ser quanto dura o entusiasmo, enquanto não se instala a rotina, ainda se faz um esforço de compromisso - até começarem as crises, ou até um deles se armar em "Peter Pan" e deixar o outro como solteiro sofrido. Pensam que são felizes...
Todos à procura do mesmo - daquela pessoa especial, daquela relação plena, de serem realmente felizes. De se arrumarem na vida. Todos a queixarem-se do mesmo, e todos a fugirem do mesmo. A fugirem uns dos outros, amores desencontrados, destinos entre-cortados, linhas cruzadas. Todos a carregarem lastros, fantasmas e assombrações. Todos com medo. De repente há uns que têm coragem e parece que assim ainda fazem o outro ter mais medo. Parece que quando algum miserável tem o infortúnio de se apaixonar mesmo, é sempre ou pela pessoa errada, ou no momento errado. Todos querem uma coisa séria, mas todos fogem na antevisão da probabilidade de falhar. Sob desculpas diversas, desde a clássica de não querer estragar uma amizade, passando pela mais absurda do "não és tu - sou eu", e acabando no perverso simples silêncio frio, ausência total de comunicação, de explicações, de razões, fuga total. Todos falam línguas diferentes, e procuram o mesmo em sítios diferentes, ou simplesmente não vêm nada.
E o que nos leva realmente uns dos outros? Há uns tempos, uma amiga já bem entrada nos quarentas, dizia que era a "bagagem". Que a partir de certa idade, já se carrega tanto que, não só não temos espaço para mais, como já deixámos de acreditar que vale a pena correr o risco de "fazer espaço". É bem capaz de ter razão. Como é que era aquela coisa da "valise en carton"? Era suposto ser bom ter bagagem, não era?!
Parece que a maioria das pessoas já não toleram a ingerência de outro ser nas suas vidas - não querem perder o que já conquistaram, seja lá o que isso fôr. Já não querem nem podem dar-se, porque têm medo de sofrer desilusões e porque não conseguem combater os seus fantasmas. Já não acreditam no outro, porque já viram muita coisa. Já não se querem adaptar a um outro, porque acham que isso é vergonhoso. Vêm uma relação como uma batalha e não como um caminho de crescimento.
E digam-me, se é assim, haverá vida para lá dos 35? Quem aqui chega ainda à procura, já com umas malas nas mãos, encontrará algum dia? Gostava de encontrar na blogosfera uma, uminha, história de amor feliz depois dos 35. Mas gostava ainda mais de a viver e de a poder contar. Que raio de mundo é este para que acordei agora?!
19 comentários:
Os preconceitos, as ideias pré-concebidas, a falta de paciência e muitas vezes a montanha de comparações fazem com que o individuo não aprecie o momento como único e libertador. Mas isto são frases de alguém que quanto mais pensa, fala, e conhece o ser-humano mais se surprenda com a complexidade do hoje e muito mais com o amanhã.
Mas são frases, porque a realidade é diferente
Ora aqui está um texto extraordinário, onde fazes demasiadas perguntas e por isso assumo que não esperas respostas.
Talvez, exista porem uma quinta categoria, a de aqueles que não são felizes e mostram-no e gostariam de pensar que um dia o poderão vir a ser e quiçá escrever a historia que queres ler.
Acordaste, isso é bom, bebe mais um café ou um shot de arrebitar e vai procurar o teu quinto elemento.
De uma lucidez assombrosa!Conheço os 4 tipos, volta e meia passo pelos 4 e, estranhamente por alguns em simultâneo. Eu e a maioria dos trintinhas, trintões e quarentinhas que conheço...No fundo,somos todos emocionalmente disfuncionais à procura de algo de que temos uma vaga ideia em abstracto mas, que na realidade, não fazemos ideia do que seja...
(obrigada pelo prize :)
Há uns tempos, alguém dizia que nos blogues anda quem precisa de desabafar e não tem cm quem na vida real. Se calhar vais encontrar aqui poucas pessoas felizes e bem porque essas não precisam de um blog para exorcizar a solidão...
Mas eu quero acreditar que neste mundo de muitos milhões há muita gente com mias de 35 a encontrar a felicidade...
Forteifeio, tão verdade que é nisso tudo que tropeçamos. A mim, a revelação tem sido que afinal somos todos muito mais parecidos do que se pensa, mas todos muito mais complexos do que gostaríamos, e a conjugação de tanta complexidade começa a tranforma-se numa equação absurda... A realidade? Para mim, é cada vez mais difícil de perceber o que é a realidade.
LBJ, obrigada! :) E não, não espero respostas... cho que ninguém as tem. Não sei se concordo com a tua 5ª categoria porque me parece muito o que chamo de "solteiros sofridos" - há esperança, quer-se encontrar, mas para mim a questão é se "realmente" procuram.
Acordei?! Olha - eu acho que estou cada vez mais a viver na twilight zone... Mas parece que é a vida mesmo! O 5º elemento é uma quimera.
Apple, obrigada. Tramada a "lucidez" quando serve para retratar realidades insanas...
"somos todos emocionalmente disfuncionais à procura de algo de que temos uma vaga ideia em abstracto mas, que na realidade, não fazemos ideia do que seja..." - as tuas palavras são perfeitas, não podia concordar mais... Que pena não é?...
Querida mf, acho que tens bastante razão no sentido de que as histórias felizes são para viver e não para escrever... Mas não sei se "nos blogues anda quem precisa de desabafar e não tem cm quem na vida real". Escrever é um processo solitário, mas nos blogues torna-se num processo comunitário. E não quer dizer que não se tenha amigos. Escrever é exorcizar, sem dúvida, mas pode não ser só solidão.
Eu também queria acreditar que se pode ainda encontrar a felicidade, aos 35, aos 45 ou aos 95... Pensava que era só má sorte minha. Mas assusta-me um bocadinho ver tanta má sorte por aí. Começo a pensar se a felicidade será a regra ou a excepção. Precisamos de um amuleto... :)
Um texto muitíssimo bem articulado este... Crítica inteligente e sensível aos laços dos dias de hoje... Laços ou nós... Gostei de te ler.
Beijinhos
Obrigada Nuvem. Faço minhas as tuas palavras do comentário ao post anterior... :)
Beijinhos
Princesa, gostei do que li.
Concordo em parte, especialmente com o facto de todos querermos ter aquela pessoa especial, mas ao mesmo tempo termos muito receio da entrega, e não o fazermos porque temos medo de falhar.
Sobre esta temática, lê o "Elogio ao Amor" do Miguel Esteves Cardoso, é uma crónica que encontras facilmente na net. Explica isto muito bem, melhor doq que alguma vez eu seria capaz de o fazer.
Estórias felizes depois dos 35?! Conheço algumas, os meus pais por exemplo... não andam é na net, nem na blogosfera.
Quanto ao facto de as pessoas que têm blogues é porque querem desabafar e não têm com quem... não concordo nem um bocadinho.
Felizmente, tenho amigos e familia com quem posso falar sobre tudo e mais alguma coisa. O desafio aqui é "conhecermos" opiniões de pessoas que de outra forma nunca conheceriamos. O que me agrada aqui, é o facto de pessoas de diferentes idades, de diferentes locais, com diferentes vivências e formações, poderem trocar impressões e até vermos que há pontos de convergência entre pessoas muito diferentes.
Pronúncia, muito obrigada. Tens razão quanto ao texto do MEC, e obrigada pelo bom exemplo de histórias felizes... :)
Quanto aos blogs, concordo inteiramente contigo, por isso respondi à mf que "Escrever é um processo solitário, mas nos blogues torna-se num processo comunitário" e o que descreves é exactamente aquilo que pretendia dizer com "comunitário".
Eu trintona me confesso...encaixo na segunda opcção! O resto só ó futuro o dirá , mas gostava de chegar lá....não sei onde mas que gostava de lá chegar isso gostava!
A loucura tambem é habitual nesta geração!:)
Bem vinda Mimi e obrigada pela confissão! :) Resta-nos a esperança do final feliz, e um pouco de loucura para tornar as coisas um pouco mais divertidas até lá.
Gostei muito deste post e concordo com ele.
Tal como tu, também estou nessa barreira dos 30... ;)
Maldonado, bem vindo e obrigada. É uma barreira, mesmo. :)
Há demasiada gente cobarde por aí. E mimada. E chata. Falta muita alma na nossa geração. Concordo com tudo o que tu dizes. Tudo!
Imaculada, bem vinda. Parece que acertei mesmo... "Falta alma", é isso mesmo, infelizmente.
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