Novecentos e noventa e nove

Mil véus de bruma envolvem-me em camadas, que me escondem, tanto quanto me protegem. O nevoeiro é o meu forte, a defesa do meu castelo. Mas às vezes é solitário, às vezes apetecia o sol. E não consigo. Prendo as lágrimas atrás do véu e espero que mas leiam antes de cairem. Ou talvez seja que espere que alguém levante o véu por mim e mas seque sem eu ter de as soltar. Hoje esperei. Mas eu tenho um mapa complicado, não tem a lógica dos pontos cardeais, não tem indicações de distâncias nem setas de direcção. E é verdade: há o que somos e há o caminho para lá chegar. Tenho de reconhecer que se o meu sentido de orientação é mau, e me perco tantas vezes nos meus próprios caminhos, pior serei a orientar os outros. Não sei porque é que às vezes me esqueço disso e fico à espera que me vejam o mapa com clareza. E ainda, que cheguem lá. É que no fim, são aqueles que estão mais perto que mais precisam de direcções. De mil véus, poucos me conseguem levantar um só.

2 comentários:

jacklyn disse...

Infelizmente é frequente quem está mais perto ser quem menos vê. O nosso erro é pensarmos que nos adivinham porque estão perto e há tanto tempo. Temos de exteriorizar, sempre, sempre. Eu demorei anos a perceber isto. Nem assim adiantou, mas faz-me muito melhor pôr tudo cá fora. Resulte ou não, agora não guardo nada.

CB disse...

Jacklyn,
Eu ainda não consigo fazê-lo, não sempre. Por um lado porque me custa, por outro porque também já vi os meus repentes de exteriorização causarem resultados devastadores. Para ambas as partes, e outra parte sendo muito próxima. Deixou-me o peso da responsabilidade muito óbvio.