A magia é algo que é apenas fascinante enquanto não se conhecem as mecânicas que lhe estão por trás. Mais – é apenas mágico enquanto se acredita que pode não ser sempre ilusão. Também na vida: a vida não tem magia quando percebemos que tudo é mecânico e explicável, que o que não entendemos tem uma razão qualquer, que apenas nos foge momentaneamente e, por isso, tudo é apenas, e sempre, ilusório.
Não é de estranhar que no mundo de hoje, onde quase tudo está desmistificado, onde o homem vive absurdamente consciente da sua racionalidade e da cientificidade dos fenómenos do mundo, andemos tantos e tantos a suspirar por um bocadinho de magia, uma magia qualquer, em que gostávamos mesmo de acreditar, para fugir do peso de tanta realidade, tanta ciência, tanta razão.
Temos sede de magia, paradoxalmente, temos falta de fé. Assim somos os verdadeiros desiludidos, com os vários sentidos da palavra: "adj. Que já perdeu ilusões; decepcionado, desencantado". Afinal, o esclarecimento não traz felicidade, porque sem ilusão também não há encanto.
12 comentários:
Um sorriso pode ser mágico :)
R.
Bj.
Pode ser mágico se aceitarmos a ilusão de que tem um poder qualquer. Mas terá?...
Bj :)
Depende de quem vem e de quem aceita o sorriso como tal :)
Noya,
Lá está: se "depende", então a mágica não é do sorriso.
Pelo contrário. Estás a ver - uma vez mais - as coisas pelo prisma contrário.
Mas sim, para mim, um sorriso é sempre mágico, mais ainda quando partem de certas pessoas, ainda que elas não se sintam como "mágicas" ou fujam dessa mesma magia.
Acho que a minha perspectiva está a esbarrar no teu desencanto. Mas eu sou mais chato ainda que tu :)
Bj.
R.
R.,
Sim, esbarra no meu desencanto, que sei de prova provada que não há sorrisos mágicos que derretam certas friezas ou ultrapassem certas distâncias. Chatice é ter razões para ser desencatadoramente chata. Eu ganho - não duvides.
Bj
Discordo. Sim, pode haver encanto sem ilusão.
Jacklyn,
Aceito a discordância. A mim, o que a vida ensinou até agora (e talvez haja tempo para a redenção) é que é sempre ilusão. Portanto, sinto-me esclarecida - sem ilusões, mas sem a capacidade de me iludir não há espaço para a magia - o encantamento. Desencantado é sinónimo de desiludido e, cá para mim, não é por acaso.
Sabe Princesa, que o encanto está dentro de nós, claro que sabe. E também sabe que podemos ver a léguas, podemos ler nas entrelinhas e mesmo assim podemos deixar-nos encantar. Se a vida já lhe ensinou a desilusão também já lhe ensinou isto. Eu também aprendi à custa da desilusão a separar as águas e a deixar sempre espaço para o encantamento. Acho até que é melhor, quando temos a cabeça bem assente, deixarmo-nos deslumbrar apenas por detalhes. Têm outro sabor, não acha?
Jacklyn,
Verdade, tens razão. Contudo, mesmo quando me permito esse encantamento "controlado" pelos pés assentes no chão, hoje tenho sempre, também, um "travo amargo" de sentir que não deixará de ser uma ilusão. Tem sido agri-doce. Espero que um dia em que consiga voltar a encantar-me, realmente, o sabor seja finalmente doce, apenas doce.
PS: espero que não te ofendas por te tratar por tu (eu ainda não me sinto nesse patamar de senioridade e sei que tu também não! :))
Ena! Ainda bem. Tratemo-nos por tu então :) Mas digo-te já que não acredito que o sabor seja apenas doce. Acho que nunca é só doce. Mas pode ser picante, de excitante, ou de estimulante. E acho que isso vale a pena descobrir, com os pés bem no chão, sempre. Mas é sempre bom acreditar.
Jacklyn, certamente que tem sempre muitos sabores, e poderá ter, ocasionalmente, uns pequenos amargos de boca, que sabemos bem que são inevitáveis. Mas não na fase de encantamento. Nessa fase, pode ser (e por Deus - que seja!) picante e condimentado, mas essencialmente doce. Eu sou muito, mas muito gulosa. :)
Beijinhos
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