Frágil

A coisa mais difícil é aceitar-me a vitória de certas fragilidades. Eu conheço-as - as minhas fragilidades. Sejam os defeitos intrínsecos, sejam os assuntos que são, para mim, terrenos pantanosos. Os primeiros tento controlar à base de uma auto-crítica feroz, os segundos tento evitar, fugindo dos caminhos que me podem levar a lá ter de pôr o pé. Mas às vezes, eu sou mais forte que eu. Sim, porque eu sou as duas coisas: sou as fragilidades e sou o controlo. Quando ganham as fragilidades, lá correm as palavras explosivas, tenho uns repentes de mau feitio, ou atolo-me no pântano forçada a ouvir-me articular as palavras escondidas, a regurgitar todas as dores de que fujo e que gostava que fossem esquecidas. Sair do pântano é o diabo. Leva-me a vontade de tudo, quanto mais quero falar, mais me calo, e perco umas horas de sono a revolver sem som tudo o que me vai dentro. 

Depois fico danada comigo própria. Lá me arrasto para fora do pântano e volto a fixar os sinais de perigo na entrada desses caminhos. Armo-me com determinação e prometo-me que não voltarei a cair ali, porque não voltarei a soltar essas palavras que me obrigam a percorrer os caminhos do pântano. Até ao dia, claro, em que um dos meus defeitos me vence e me leva a dar resposta a alguma coisa que oiço por aí, e que toca uma corda em mim que ainda não fui capaz de cortar, ou afinar. Momentos em que me sei duplamente frágil. 

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