Escolha

Nem de propósito, passou-me pela frente um texto antigo que escrevi sobre o legado que quero deixar ao meu filho. E foi muito bom timing, porque recordo, nas minhas próprias palavras, as minhas fundamentais convicções que, às vezes, perco de vista no turbilhão. Relembro que, tal como gostava de o ver um dia fazer o caminho de quem acredita que não nos esgotamos numa única função de vida, de quem acredita que temos de procurar crescer continuamente, evoluir, sermos felizes, também eu própria o tenho de fazer e dar o exemplo. Inclusive, dar-lhe o exemplo do erro. Como escrevi nessa altura, “não quero que cresça a pensar que a vida é um mar de rosas ou que eu sou alguma super ou supra mulher, que não chora, que não sofre, que não se cansa ou não se desanima às vezes, que não erra. Quero dar-lhe o exemplo do erro, mostrar-lhe que todos erramos na vida e que só não se perdoa quem não tem coragem de assumir o erro e fazer alguma coisa para o corrigir, quem desiste de tentar ser maior e melhor cada dia, quem desiste de ser feliz. E sim, uma outra lição difícil, quero que aprenda que o que conta é estarmos bem com a nossa consciência, mesmo que isso nos faça escolher caminhos que mais ninguém entende. E quero que saiba que, mesmo se eu própria não entender os seus caminhos, pelo menos, pelo menos, aceito caminhar com ele até ao fim.”

Foi providencial sentir-me de novo na pele do que sou ou luto por ser. E relembrar também, como leio num outro parágrafo, que eu já aprendi a lição de que, às vezes, quando me sinto viver no vazio e com a sensação de que nada faz sentido em mim, preciso de olhar de fora e perceber que a falta de sentido não é necessariamente da minha existência, pode ser apenas da minha permanência numa realidade que não faz sentido. Portanto, mais uma vez, meia bola e força. Tenho de me escolher primeiro, assumir o erro e corrigi-lo, mesmo que pareça ser voltar atrás e por caminhos que não me entendam, mas em paz comigo mesma, construindo o legado que quero deixar ao meu filho, que é nessa paz e nesse exemplo que encontro a minha força. Não desisto, ainda não desisto de ser feliz. E para isso, há que desistir de outras coisas. Como já ouvi muitas vezes por aí, a escolha de uma coisa envolve quase sempre prescindir de outra. A minha escolha só depende da minha coragem, e não volto as costas a esta luta.


Imagem daqui.

2 comentários:

Êne de Nuno disse...

Força!

“A coragem é a primeira de todas as qualidades humanas porque garante todas as outras” – Aristóteles

Que essa força e essa direcção (bússola interior) se mantenham e te orientem como desejas.

CB disse...

Êne,
Belíssima citação. Obrigada.