Quieto!

Há passados que são para deixar quietos. Na verdade, se há passados que se entranham em nós e se repetem durante anos a fio, não nos acontecimentos, mas no que produzem em nós (na maneira de ser, nas decisões, nas procuras e nas fugas), lamentavelmente (ou não), também há os que terminam e não deixam lastro, os que cumprem uma função pontual e perfeitamente delimitada. Talvez deixem também alguma marca indelével que, muitas vezes, nem entendemos que está lá. Mas não caminham connosco, não se repetem ou replicam. Esses, é melhor mesmo que se deixem quietos para que, ao menos, ainda dêm umas boas histórias em momentos de viagem ao passado e para que consigamos perceber-lhes a função. O problema é que os passados de cada ser humano, inevitavelmente, são passados dos outros seres humanos que habitaram esse tempo, que cruzaram o mesmo caminho, que fizeram, connosco, essa história antiga. E acontece, por vezes, que para uns a história acabou mas para os outros não. E isso é um problema irresolúvel. É que não se faz história de novo com personagens a viver em tempos diferentes. Não se re-encontram no novo tempo, então melhor que não se re-encontrem no espaço, e que cada um prossiga a sua história. 

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