Desculpas

Sim, eu também preciso de desculpas, de justificações e atenuantes. Não gosto de errar, não assumo os meus defeitos e erros com vanglória. Assumo-os num processo auto-crítico fundamentalmente racional, assumo-os como consequência inevitável de não poder negar factos objectivos, e assumo-os condoidamente como resultado obrigatório de ter de me assumir imperfeita e falível, tantas vezes menor do que aquilo que quero ser. Também não os assumo por ser modesta, portanto, pois que a modéstia não se compatibiliza com os desejos de grandiosidade, perfeição e infalibilidade. Aceito a minha condição humana, o que quer dizer que me reconheço imperfeita e admito a inevitabilidade do erro mas, também, não me quero desculpabilizar com essa humana verdade e acho que devo, pelo contrário, penitenciar-me por isso e esforçar-me por errar menos, por ser cada dia melhor. Falho redondamente, é claro.

Também não escapo à humana tendência de procurar razões, de procurar porquês. Muitas vezes internos, mas outras tantas vezes externos. As tais atenuantes, para além da condição do erro da espécie, que acabam por não ser mais do que desculpabilizações. É que, se já custa pedir perdão aos outros, mais ainda custa pedi-lo a nós próprios. E quando penso e escrevo que aqui volto porque aqui está a minha raíz, na verdade o que aqui está é a minha desculpa. Estão as razões, externas, de porque me encontro neste caminho à deriva, a história do meu passado. E sei agora que volto porque sinto que falhei o prazo para encontrar o caminho, porque sinto que passou demasiado tempo para que possa continuar a usar essa história como razão-desculpa para não ter conseguido mais e melhor. Porque sei que, entretanto, se passou mais um bocado de história, um argumento onde não encontro justificação plausível, desculpa aceitável, para ter ficado parada na estrada. E cansada, muito cansada. Falta perdoar-me e falta, realmente, recomeçar.

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