Nas curvas


Volta não volta, temos de pensar no que queremos da vida. Há umas curvas manhosas em todos os caminhos e a mim parece-me que, embora a tendência seja acelerar e fazê-las prego a fundo, nem que seja um bocadinho em contramão, armando-nos de valentia (ou será inconsciência?), a seguir convém travar e até, se necessário, encostar na berma e respirar. E depois pensar para onde vamos, para quando metermos de novo a primeira o podermos fazer com maior tranquilidade.

O que eu quero da minha vida é um mistério. A sério. Não é só a estrada e a próxima curva que me são desconhecidas. É mesmo o destino que eu ainda não consegui perceber onde quero marcar no mapa, que parece, em dias, que não é visível a um par de olhos apenas. Há dias em que acho que o que quero é viver tranquila, dedicando-me ao trabalho, desfrutando do meu filho quando posso, e aprendendo a encontrar uma definição qualquer de felicidade que possa rimar com sozinha, mas que não rime com solidão. Outros dias, acho que o quero é mesmo provar possível que nunca é tarde para encontrar o amor, e aprender a ser feliz com essa companhia, redefinindo a família que agora é só o meu filho, e perspectivando todo o resto que agora é só o que tenho, que me faz falta, me segura como tábua de salvação, mas que ainda assim é pouco, é parco, e sabe a insatisfação.

No fundo, eu tento, juro que tento, encontrar formas e razões para dissociar felicidade de amor. Posso escrever ensaios cheios de lógica, encher-me de razões, mas depois, fala mais alto aquele aperto, aquela pequena angústia relegada para um cantinho da alma, mas exactamente aquele canto que mais dói, que me questiona todos os dias se algum dia encontro, realmente, alguém que eu queira como companhia de viagem e que, mais que olhar para mim, queira olhar comigo para o mesmo destino, marcá-lo no mapa e, então, meter a primeira, sem saber o desenho das próximas curvas, mas sabendo bem para onde queremos ir.

Acho que, afinal, ainda estou para as curvas...

4 comentários:

1REZ3 disse...

E também olhar POR ti, arrisco dizer.

CB disse...

A minha primeira reacção ao teu comentário foi um :)
Mas sim, também o "por", e reciprocamente como é óbvio. Porque há dias em que precisamos de colo, mas também temos de ser capazes de dar.

Bípede Falante disse...

Eu até sei e acho que sempre soube o que queria; o que sempre foi difícil foi conseguir.
bj.

CB disse...

Bípede,
Talvez seja um pouco mais fácil, pelo menos, saber por que se luta. Eu às vezes tenho a sensação de não saber já por que, e com que, luto, mas estou sempre em esforço de batalha.
Bj