Até ao meu regresso - fica o "Quase"



Não sei para quando, não sei como e nem sei bem porquê. Fica um poema extraordinário que diz muito melhor tudo o que poderia escrever agora. Um dia volto às linhas publicadas, talvez mais cedo, talvez mais tarde. Um dia, as palavras e frases que germino escorrem de novo para esta tela. E um dia encontro-me aqui outra vez. Agora, não tenho tempo, e preciso de um respiro profundo, de contemplação muda, de lágrimas sem verbo, sorrisos sem adjectivos e passos sem medos na voz. Preciso de vazio e tudo longe, de ir para longe. Mas volto.

Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se enlaçou mas não voou...
Momentos de alma que, desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

(Mário de Sá-Carneiro)

Ping-Pong


Toda a minha vida parece um jogo de ir e vir, partir e voltar, e sinto-me como uma pequena bola pelo ar, num ping para lá, num pong para cá. Se pensar bem, é assim em cada dia, a voar pelas horas cheias das tarefas da sobrevivência, e a voltar à base no final. Ping com o despertador, pong com o fechar dos olhos para umas horas de sono. Mas o pior é que, numa escala mais alargada, também me sinto assim com quase tudo na minha vida. A única diferença é que os vôos não são diários, os ciclos são mais longos E de ping em pong, acabo no ponto de partida.

No fim disto, agora estou cansada. É bom andar a voar, mas não é bom não avançar. E para cada ping-pong, há uma pancada de impulso, e às vezes essas pancadas são quase destrutivas. Sobretudo quando são vôos de ciclos longos, porque a pancada é mais forte, e porque leva tanto tempo até sentirmos o impacto do fim do vôo que, mesmo com a antecipação da memória, não estamos realmente preparados para como doi.

O mais torcido no meio disto é tentar perceber quem é que tem as raquetes nas mãos, quem dá o impulso e a direcção à bola. Se fosse crente, punha Deus a jogar de um lado. Assim, talvez o destino jogue de um lado da mesa. Mas do outro, parece-me, preversamente, que estou eu própria. E é turtuoso por isso: serei bola ou jogador que controla a bola, pelo menos numa direcção? Se sou eu que jogo, a bola é o que vivo. Só que se é assim, esta jogadora não sobe ao pódio, porque às vezes não imprime à bola o movimento melhor, e consegue no máximo bater na bola de qualquer forma só para continuar em jogo, e por outro lado o adversário parece imbatível, rebatendo até as jogadas que pareciam perfeitas.

Lá continua a bola, lá continua o jogo que não se pode parar. E posso não ganhar medalhas, mas continuo a jogar, continuo a esforçar-me. E vou voando de cá para lá, e de lá para cá, até que um dia a bola há de conseguir livrar-se da tortura, ou a jogadora há de conseguir uma jogada realmente perfeita, fazendo a bola saltitar até parar em algum sítio melhor, levando a jogadora ao pódio. Amanhã é dia de ping, e depois logo se vê. Seja quem for o outro jogador, apanha lá esta...

Snowed under...


Misturo muito a língua Portuguesa e a língua Inglesa, até por motivos profissionais e porque tenho amigos estrangeiros com quem falo uma verdadeira mistura das duas línguas. E há coisas em Inglês que me enchem melhor as medidas para retratar certas situações, emoções, etc., e já não consigo encontrar verdadeiros equivalentes em Português de forma tão sucinta.

Hoje, é assim que estou. Para além de exausta com o regresso ao trabalho em conjunto com o regresso das noites mal dormidas (the joys of motherhood...), estou verdadeiramente, completamente, e quase literalmente, snowed under!...

Para ser grande


Muitas vezes me vejo como a lua. Gosto da lua, das suas fases, dos seus mistérios e do seu brilho. Em dias destes, sinto-me uma lua cheia e lembro-me de um pequeno poema de Fernando Pessoa de que gosto muito:

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

É assim que eu vivo quase tudo, e é só assim que eu sei amar. No que estou, estou por inteiro. Quando amo, amo inteira. E quando me dedico a alguma coisa, dou tudo de mim, brilha toda a minha lua nesse lago. Talvez por isso a minha exigência seja elevada também com os outros. Talvez por isso um amor que não é inteiro não me chegue. Talvez por isso abandone aquilo em que não me consigo derramar por completo num brilho de prata sobre as águas. Mas hoje foi assim mesmo, a mergulhar no trabalho no meu regresso gradual à minha vida "normal", e soube-me bem. Gosto de mim nestes dias em que me sinto grande.

É preciso falar de sexo?


Dou uma volta pelos blogs, o que já não fazia há algum tempo, e pasmo-me com uma série de posts cruzados sobre o conteúdo insonso dos so called “blogs de gaja”. Fui dar a blogs que não conhecia, li tudo o que tinha para ler, e acabei por não resistir a escrever este post.

Embora haja várias variantes, e uns mais claros, outros pouco nítidos, uns de sentimentos mais exaltados e outros um pouco mais articulados, parece que, genericamente, muita gente considera que um blog escrito por uma mulher que se foque sobre o que lhe vai na alma, que naturalmente acompanha os acontecimentos que vai vivendo, não sendo necessariamente um “diário”, se não falar de sexo não presta. Pior ainda se a dita mulher estiver solteira e não relatar aventuras e conquistas sexuais (é imediatamente categorizada e com requintes de malvadez), e ainda pior se estiver a viver uma história de amor impossível ou complicada.

Ora bem: não digo que não haja por aí muito blog côr-de-rosa, ao estilo de diário, na minha opinião muito pouco interessante simplesmente porque não revela nada de profundo, nenhuma reflexão sobre os acontecimentos, sobre a vida, ou sobre o que quer que seja. Há muita porcaria na blogosfera, mas se todos gostassem da mesma côr, o que seria do amarelo. Cada um é livre de ler ou não ler, comentar ou não comentar, voltar ou esquecer. Por mim, já encontrei alguns blogs que têm, pela mão de mulheres, e muitas vezes mais bem escritos que os “blogs de gajo” ou dos blogs de mulheres a falar de sexo, muitos textos com conteúdo de reflexão e interessantíssimas formas de olhar o mundo, os outros e o próprio. Coisas que me fazem a mim pensar ou re-pensar assuntos, que me permitem crescer como ser humano.

O meu blog relata-me, não exactamente como um diário de acontecimentos, mas sobretudo como um relato de pensamento. Muitos dos meus textos são conversas de mim para mim, são reflexões sobre coisas que me acontecem e sentimentos que vou experimentando, às vezes exorcismos, outras vezes partilha com os leitores de quem entretanto ganhei uma certa fidelidade e amizade. Não fala de sexo, por si só, porque simplesmente não me interessa por aí além discutir o assunto neste fórum, nem tenho necessidade de publicar, partilhar ou sequer analisar a minha vida sexual. Aí é uma esfera onde me considero uma mulher bem resolvida, sem tabús ou preconceitos, que vive muito bem com o seu corpo e com as suas opções, e que, simplesmente, não acredita em sexo vazio.

Se me custa um bocado perceber porque é que tanta gente acha perfeitamente normal envolver-se sexualmente com qualquer um, e mais que isso, acha louvável, acha que isso é que é “viver a vida”, e no caso das mulheres acha até que é um sinal de modernidade e emancipação, menos ainda percebo a necessidade de o publicar. E menos ainda entendo a necessidade de criticar quem pensa, e sente, e vive, de acordo com o princípio de que sexo é parte de um todo maior, embora parte muito importante, mas essencialmente uma intimidade que nem sequer nos é exclusiva, porque envolve outra pessoa. Respeito as opções dos outros, mas espero o mesmo respeito de volta. E se não gostava de um dia descobrir algum meu ex a relatar a nossa vida sexual num blog qualquer, certamente não vou fazer o mesmo.

Não sou puritana, já cometi as minhas loucuras, mas sei que tudo tem um tempo na vida, nunca desrespeitei ninguém, e hoje sinto-me suficientemente madura para dispensar days after manhosos apenas pela pura satisfação mecânica do corpo. Porque se é por isso, então que não se envolvam outras pessoas a quem se podem ferir sentimentos, há muitas formas alternativas até mais seguras de satisfazer a vontade, há imensa literatura disponível e as sex shops estão ao alcance de qualquer um. Para mim, o nosso corpo pertence-nos e é valioso, demasiado valioso para entregar ao desbarato, e só faz sentido entregá-lo quando acompanhado de intimidade, de afecto. Não tenho uma visão romanticizada, até porque entendo que é legítimo mesmo que não seja o amor da nossa vida (e quase nunca é), e mesmo nos dias em que é pura diversão, puro sexo, para os dois (o que até faz falta e faz bem em qualquer relação). Mas acredito que é oco se não houver mais nada. Nessa intimidade, nesse afecto, é que nenhuma relação fugaz de sexo por sexo, nem nenhuma técnica ou sex toy, substitui o sublime de um outro em comunhão de corpo e alma. E na minha opinião é disso que, no fundo, toda a gente sente a falta, uns admitidamente, outros nem por isso.

NOTA: Claro que a imagem não é hard-core, lamento que alguns se incomodem, mas não se enquadra de outra forma neste espaço, este espaço que é meu e de quem o lê, enquanto o quiser ler, e a mim serve-me um propósito mais importante do que debitar palavras vazias e publicar imagens pornográficas (até porque já há blogs pornográficos de muita qualidade).

Abismo


A vida vai-se desenrolando em etapas e ciclos, às vezes fechados, às vezes maliciosamente viciosos. Vamos avançando carregando a cada dia mais um peso e ao mesmo tempo uma leveza. O peso do que aprendemos a custo, a leveza das boas revelações. Somos cada dia mais um bocadinho de qualquer coisa, que nos faz variar tonalidades, variar caminhos. Mas às vezes repetimo-nos e repetimos os caminhos. Por vezes parece que, depois de voltas e mais voltas, lá nos encontramos outra vez na beira do salto. Como se de um lado estivesse o mundo do real que nos prende, e do outro a promessa do que desejamos. Mas invariavelmente no meio está um abismo. Às vezes mais estreito, a convidar ao salto de fé na esperança de aterrar com os dois pés do outro lado, onde o caminho pode continuar a direito, liberto dos círculos viciosos de antes. Às vezes tão largo que sabemos que o salto nos é impossível, porque o mais certo é caír no fundo e nunca chegar ao outro lado.

É o medo que nos pára. É o medo que nos encalha na areia e é o medo que alarga o abismo. É o medo de saltar porque se tem medo de caír. É o medo de saltar porque se tem medo de que o outro lado seja também um engano. É o medo de ter medo quando se aterrar os pés no chão e não se souber para onde ir num novo caminho desconhecido, do outro lado. É o medo do arrependimento, tanto de ficar, como de arriscar.

Comanda o instinto e o nosso instinto geralmente varia entre a ousadia do risco e a cobardia da preservação. Há demasiados graus pelo meio, tingidos por sentimentos ou emoções assoladoras, como a paixão, a fúria, ou até o desespero e o abandono, que tanto nos pode encher num impulso de saltar, como esvaziar na cobardia de ficar. É na luta interior de compatibilização entre a razão e esses instintos, sentimentos e emoções, que me meço, e que tantas vezes me perco. Uns dias sinto-me corajosa, ousada, sinto que tenho de saltar porque não quero estagnar, quero acreditar, quero continuar a lutar, e não quero arrepender-me de não ter tentado. Outros dias sinto-me cobardemente presa ao medo de sofrer mais, outra vez, presa à negação da esperança, sentindo as minhas pernas curtas para a largura do salto sobre o abismo.

Não sei já se é pior sofrer de um lado ou do outro. No lado de cá, sofro por me saber negada a felicidade que julgo vislumbrar do outro lado, mas que sinto atrás de uma parede de vidro intransponível. Do outro lado, tenho medo de sofrer o engano, de embarcar na viagem e descobrir a meio que me afundo em alto mar. O salto é um duplo risco – a queda no abismo antes de aterrar e o afogamento pelo caminho se lá chegar. Aqui é mais tranquilo, menos arriscado, sei o que sofro e sei que não será nem melhor nem pior, mas perpetuamente um sofrimento morno que deixará de doer porque me deixará cada vez mais dormente. Só que nos meus dias de coragem, que são mais do que os outros, lá estou eu a medir a distância, a sentir o vento e a olhar para a largura do abismo a diminuir, a tentar certificar-me de que é ali que quero saltar. Nesses dias até me pergunto se não haverá outras passagens, outros lados e outros abismos, e apetece-me procurar. No final desses dias, acho que sou louca e devia era estar quietinha no meu canto, instalar-me sentada na beira do abismo, de malas prontas, mas esperar pela ponte. Só não quero morrer à espera.

Vazio de um fim anunciado


Fecha-se a porta, duas voltas na chave. Antes, um último olhar para dentro, um dentro despojado, vazio, abandonado, no silêncio. Um aperto no peito a relembrar o que ali esteve. Não tanto os móveis, os quadros, aquele tapete. Saíram as caixas, as malas, os objectos que se amontoam agora numa carrinha de mudanças. Mas ecoam os risos que ali se viveram, as palavras e promessas que ali se ouviram. E sentem-se as lágrimas que ali secaram, como o sonho que ali queria ser vivido.

Fecha-se a porta e roda a chave. Ali fica vazia a casa que era para a vida de uma família feliz. Do lado de fora, fica um coração vazio, uma chave que já não abre o futuro, uma promessa que não se cumpriu. É triste, mas pacífico. Passos lentos levam-me para longe daquele passado, e desço no poço do elevador. A vida é lá fora, contínua a luta, e algures o verdadeiro amor.

Agora sim: fim.

Sabe bem...



... ousar acreditar que há outros que nos merecem a dádiva da amizade e nos enriquecem na volta com sorrisos e gestos amigos.

... ousar dar o passo no escuro, enfrentar o precipício, e depois perceber que é uma ilusão óptica enquanto se desce calmamente um pequeno degrau.

... ousar estender a mão com uma semente e encontrar um amigo para a fazer crescer.

Raios o partam



Gostava de perceber que bruxedo é este, que de cada vez que finco os pés no chão e me sinto capaz de voar, sua excelência, o senhor do meu coração em tempos que queria idos, tem a amabilidade de me invadir a vida outra vez. Assim como que a marcar presença, a fazer-se notado e lembrado. Até parece que lhe “cheirou” que ando tão bem que nem fechei a porta a uma nova possibilidade que surgiu inesperadamente e que me fez pensar, pela primeira vez, “why not?...”.

Mas a lembrança que ele hoje me traz, já não é só dos sorrisos, dos beijos, dos abraços, da química e do fogo da pele com pele. Hoje lembro-me também dos meses de mim escaqueirada em mil pedacinhos que andei a custo a varrer do chão, e com muita ajuda a colar com esmero, na reconstrução do puzzle de mim. E sei que não quero voltar a ter esse trabalho todo, não quero voltar ao limbo do sofrimento em que andei entre os "quero mas não quero". Basta-me reler o que escrevi para me arrepiar, e arrepiar caminho.

Como sempre, não o consigo ler e sei que qualquer tentativa de leitura me pode fazer mal. Porque sei que ele é um poço de dualidades, de repentes e coisas ditas sem consequência, mas que têm em mim em efeito poderoso. Sei que ele é perigo, sei que sou inflamável e que ele é chama. Não o quero tão perto, porque tenho medo de inflamar mesmo de novo e não quero mais “days after” dolorosos.

Por isso agora não vou teorizar, não vou sequer tentar interpretar. Numa variante nova da minha estratégia de sobrevivência, serei literal e lerei literalmente. Não embarco no jogo da advinha ou da insinuação, porque não quero mais zonas cinzentas. Para mim é amizade com uma história, que está lá atrás e não continua nem se repete. E se houver uma nova história, desta vez escreve-se com linhas direitas, palavras claras e frases completas. Seja em que registo fôr, e para mim pode ficar no registo da amizade, que era até a forma que eu gostava de arrumar o assunto, dando pelo menos a esta história um desfecho mais bonito. Ele não me é indiferente, nem nunca será. É verdade que apesar de tudo me sabe bem tê-lo por perto, e gostava de o manter na minha vida. Mas só se fôr sem lágrimas.

Aqui estou eu, sei que de alguma forma perversa lhe pertenço, mas também sei que, antes de mais, me pertenço a mim e me cabe a mim evitar o curto-circuito. E o primeiro passo para isso é manter a porta aberta e uma visão de helicóptero que me permita não perder os outros olhares que se cruzam convidativamente com o meu, e não perder de vista o rumo que me tracei e este caminho que agora me sinto bem a trilhar. E se a coisa se complicar, peço aos céus que me iluminem e que descarreguem sobre ele um raio... que o parta!

Making the skies blue


Acontece às vezes uma sensação de ter passado uma barreira invisível qualquer, de ter chegado a um novo destino, um sítio que nos é encantadoramente estranho, desconhecido por explorar. Nos últimos dias, quase parece que não estou a viver a minha vida e hoje vi-me no espelho com um sorriso logo pela manhã (embora tardia...). Sinto-me leve, sinto-me chegada a um novo lugar, a começar uma nova etapa cheia de energia e sentimentos positivos. Já não sinto cansaço da viagem que fiz até aqui, apenas o cansaço bom de dias cheios, de coisas plenas e promessas de dias ainda melhores. Sinto-me alegre - é isso. E apesar de ter tentado sempre manter um certo bom humor, apesar dos altos e baixos ao longo deste ano, acho que é a primeira vez em muito tempo em que sinto verdadeiramente alegria. Alegria de ser e de viver.

Hoje há núvens no céu lá fora, mas nenhuma me chega a ensombrar. Olho para fora da janela sem me importar que não seja um dia perfeito de Verão, porque é um dia perfeito para mim. Todos os dias quero sentir que é cada dia mais um momento perfeito de vida para desfrutar. Todos os dias quero sentir esta certeza de estar num bom lugar e no caminho certo para chegar mais longe, mais alto, mais plenamente em mim. Todos os dias quero segurar firmemente a decisão de limpar o céu de sombras e tristezas e ter força para continuar a acreditar que o meu destino é feliz, ainda não chegou, mas vai chegar.

Cansaço - ou será da idade?...

Duas noitadas excelentes de seguida, com um dia de praia em cima, e cheguei hoje a casa completamente de rastos!... Mas foi um fim de semana tão bom, que até chegar ao fim sabe à tranquilidade e paz de um pôr-do-sol suave no mar.

Diverti-me imenso de novo ontem à noite, dancei, brilhei e parece que cativei. Ah pois é, a vida surpreende-nos mesmo nas alturas em que menos se espera. Soube-me tudo muito bem. E hoje o dia também foi bom, com amigos, petiscos e praia. Tudo a fazer bem ao corpo e à alma, tudo a alimentar o ego. Menos este cansaço absurdo, que me levou até a dormir na praia. Parece-me que se calhar já não tenho idade para aguentar este ritmo de madrugadas e tanto programa pelo meio. Ou estou muito destreinada?... Ainda rematei com um longa e divertidíssima conversa ao telefone com o meu filhote, todo bem disposto, a deixar-me com um sorriso ainda maior.

Apesar do cansaço e desta dúvida existencial sobre a sua origem, sinto-me agradecida por todas as coisas boas destes dias que quero preservar na memória.

Quando nos supreendemos a nós próprios


Ontem fui à inauguração de um novo espaço em Lisboa. Era festa, eu não queria faltar. Estou farta da minha clausura e agora que já não tenho gesso, apesar da tala inestética que parece uma prótese e me obriga a usar calças, produzi-me o melhor que pude e lá fui eu de muletas. Até dancei (dentro do possível), não empatei ninguém, arejei e diverti-me. Sobretudo, não fiquei a lamentar-me de estar a perder mais alguma coisa. Cheguei a casa tarde e exausta, mas valeu a pena.

No lado negativo, encontrei o meu chefe... Estando eu de baixa, certamente não terá causado a melhor impressão, mas hei de dar a volta ao assunto. No lado positivo, senti-me bem, independentemente de toda a atenção desnecessária que as muletas atraem. É que estava-me borrifando para o que os outros pudessem pensar. Claro que foi bom ouvir de um estranho que “isso é que é espírito – força!”, e irritei-me quando ouvi uma parva comentar “quem é que vem para aqui de muletas?”. Mas o que me apeteceu responder a essa alminha idiota foi simplesmente: “Quem? Eu. Alguém que não se deixa vencer pela vida e se recusa a baixar os braços”. Apesar da irritação com o comentário, saber que fui, que estive bem, que me diverti e que esta frase me descreve, deu-me um fôlego. E iluminou-me com um sorriso.

Excertos de mim #2


“Encostava a cabeça ao vidro frio e húmido da janela embaciada, a separar o mundo quente, iluminado e conhecido que habitava, e a noite escura de inverno, o desconhecido porque ansiava. Na cabeça o filme das recordações, ora em câmara lenta agonizante, ora num cruel tropel de imagens rápidas a sucederem-se aceleradamente. No olhar a sombra do passado e a luz da procura do caminho do futuro, que sentia como a noite lá fora. Escorreu um dedo pelo vidro, abrindo um traço de transparência para o exterior mas criando uma gota de água que ganhou vida a escorrer pela sua própria cara.”

Este excerto para me lembrar que o mundo, às vezes, vê-se a sofrer as nossas dores, tanto que parece que o mundo as espelha e as sente, nas coisas, na luz, na sombra, em tudo o que nos rodeia. E assim não vemos mais nada e perdemos tanta coisa.

Das escolhas e riscos do Amor

Amar alguém será sempre um risco para mim, algo que verei como perigoso, que sei que pode doer, e muito. Noutros riscos que assumo na vida, sou obrigada pelo meu lado racional a pesar prós e contras, analisar o grau de risco e tentar montar redes de segurança para as eventuais desgraças que possa antever. Mas esta racionalização no Amor é, para mim, quase impossível. Ao contrário do que alguns pensam, eu - e acho que a maioria das mulheres - não escolhemos um homem para nos apaixonarmos de check-list na mão, a pensar muito bem na escolha que fazemos. Pelo contrário, acho que não escolhemos ninguém - é o Amor que nos escolhe e escolhe por nós e, de repente, estamos apaixonadas.

A única alternativa é escolher não correr o risco, não dar azo a sofrimentos, mesmo que tenhamos de nos afastar de pessoas por quem nos começamos a apaixonar, ou que até preenchem uma série de requisitos de uma teórica "wish list" de sonho. Essa agora é a minha máxima: o meu lema por estes dias é "chega para lá". Não quer dizer que não olhe à volta, mas sei que o Amor é perigoso e para assumir o risco tinha de ser uma coisa tão, tão poderosa, que sei que não vai acontecer. Já cresci o suficiente para saber que essas listas não são fiáveis, não há coisas "poderosas" dessas a cada esquina, e também já calejei o suficiente para saber que amor com amor se paga, e não há quem aguente financiar um relacionamento a solo, hipotecar-se até à raíz do cabelo, assinando sozinho todas as letras e livranças.

É verdade que também há quem escolha alguém conscientemente, calculada e friamente. Mas essa não é uma escolha de Amor. Essa é uma escolha diferente e sinceramente não acredito que seja assim que a maioria das pessoas escolha os seus companheiros. Eu não sou assim com certeza, pois só soube "escolher" idiotas toda a vida. Se tivesse sido por escolha, tinha muito que me chicotear, ou aceitar uma tremenda falta de inteligência que acho que não me define. Os idiotas da minha vida por quem me apaixonei não se classificaram por lista nenhuma, por nenhum tipo de escolha racional. A idiota no Amor fui eu, não por me apaixonar, mas por ter investido demais em pessoas que, na realidade, ou não me mereciam ou não eram as certas para mim. No fundo, juntei ao azar uma enorme casmurrice, uma persistência que se tornou teimosia (e por essa sim, mereço um certo auto-flagelo).

Mas convenhamos que aos 35 já era tempo de ter um pouco de sorte e ter acertado num homem de jeito. Mais um bocadinho e acho que desafio a lei das probabilidades, por muito que o mundo esteja cheio de idiotas. Mas como devem ser assim à razão de uns 10 idiotas para 1 decente, ainda devo ter mais uns quantos na calha. Só espero que não tenha que chegar ao décimo para acertar...

Os meus Gatos #1

Gosto de animais, em geral, mas desenvolvi uma especial predilecção pelos gatos persa. Quando era miúda queria imenso ter um cão. Os meus pais até têm um óptimo jardim, mas nunca se deixaram convencer. Foram-me oferecendo substitutos com muito maus resultados. Acabei por desistir da ideia de ter um animal de estimação depois de ter morto vários peixes por indigestão, um piriquito ao qual dei um banho acidental, uns hamsters que acho que foi a minha mãe que fez desaparecer (mas disse-me que morreram para eu me sentir culpada) e finalmente uma tartaruga que fugiu da "casa" dela e se enfiou num chinelo do meu pai, onde encontrou a morte (e essa teve direito a enterro no jardim, com procissão solene e uma caixa de fósforos por caixão). Não pensem mal de mim que não fiz nada de propósito. Era uma criança - e também tive azar!

Muitos anos mais tarde, ofereci ao meu primeiro marido um persa azul, que era o que ele mais queria, e na verdade nem me ocorreu que acabava a viver eu com o gato, dado que só casamos um ano e tal depois. Mas, não sei porquê, o bicho escolheu-me a mim desde o primeiro momento. Chamava-se Ludwig e era um gato lindo, tinha uma elegância e uma agilidade espantosas, além de ser o animal mais afectuouso e inteligente com que me cruzei.

Tinha umas manias e manhas incríveis, esperava-me à janela todos os dias e mal me via na rua corria para a porta. Acabou por ser a minha companhia enquanto viveu, seguindo-me para todo o lado. Quase não miava e aprendia tudo - inclusive que se esperasse quieto ao pé de mim enquanto eu comia, eu lhe guardava qualquer coisa, mas que só lhe dava quando terminava. E percebeu que quando eu pousava os talheres no prato de lado era a "hora do biscoito". Empertigava-se logo e parecia um urso de circo, em pé sobre as patas traseiras, à espera da recompensa. E eu dava-lhe, claro.

Morreu com uma insuficiência renal, ao fim de 3 anos, e foi um fim muito triste. Esteve doente muito tempo, chegou a estar internado num hospital veterinário, e sofreu demais. Fiquei tão perturbada com aquilo que decidi que não queria mais nenhum. Mas tive mais três, que ficam para outros posts. Deste lembro-me especialmente quando faço malas, porque na altura viajava bastante em trabalho e ele depressa aprendeu a associar as malas com as minhas ausências. Então, quando dava por mim, tinha o gato deitado dentro da mala, em cima do que quer que lá estivesse, a fazer-me olhinhos, como quem diz "leva-me contigo...". Era um doce.

Luz


Adoro luz. Gosto de luz a jorrar pelas janelas. Gosto de beber no corpo a luz quente do sol. A razão principal pela qual comprei o apartamento onde vivo agora foi precisamente a luz que tem. E sei que, quando em breve começar à procura de uma nova casa, será o que vou procurar – janelas de luz.

A luz faz-me bem, enche-me de energia. É sempre o que guardo com mais nitidez na memória dos sítios por onde passei. É o que mais me marca nas cidades que conheço e o que me faz querer voltar a umas e não querer regressar a outras.

Gosto de me sentir iluminada e absorver a luz ajuda. Às vezes ajuda-me a encontrar a minha própria luz. Hoje estou assim. Há muito tempo que não me sentia tão luminosa sem nenhuma razão aparente. Simplesmente porque sei que a luz está cá e hoje dei-lhe soltura, jorra pelos meus poros. Sabe-me bem. Também sou luz.

O Homem-Melga

Baseado em experiências próprias e alheias, eis que tenho necessidade de articular uma ideias sobre o comportamento de certos homens. Quando um homem envia dezenas de mensagens às quais só obtem respostas esporádicas, e ainda assim insiste ao longo de várias semanas; quando um homem faz meia dúzia de convites para jantar e apenas um é aceite (e não o último e as desculpas são pouco convincentes); quando um homem liga várias vezes a uma mulher e ela nunca lhe liga de volta, mas ele manda mais mensagens e volta a ligar; é Amor? Não, minhas queridas e meus queridos, desenganem-se. Isso não é Amor e está para lá de louvável persistência. Isso, e tenham medo, é um homem-melga.

Ah, mas elas gostam é de um homem que ande atrás delas, que mostre determinação e persistência, uma vontade louca de as conquistar. Pois sim, bem verdade, e são já raros os homens que realmente se expoem na conquista assumida e demorada de uma mulher. Mas as mulheres não querem um palerma sem auto-estima, sem inteligência e sem imaginação, que ainda por cima incomoda - como as melgas. Ora vejamos: se metade das mensagens não são respondidas, que tal pensar em reduzir o número e aumentar a imprevisibilidade das mensagens, e já agora, talvez torná-las mais interessantes ao ponto de suscitarem de facto uma resposta? Se os convites para jantar não são aceites, que tal sugerir almoços, um café ou um copo, ou outra coisa qualquer? Se ela nunca telefona, que tal pensar em outras formas de comunicar, fazer uma surpresa? E se nada disto resultar, que tal experimentar a indiferença? É que às vezes tem resultados surpreendentes. Ainda recentemente tive uma amiga que se irritava todos os dias com o número de mensagens que recebia de um tipo, mas gostava tanto que, no dia em que ele não mandou nenhuma mensagem, ficou tristíssima.

Tudo o que é demais é mau. Há que saber encontrar a dose certa de persistência e, sobretudo, usar a cabeça para pensar em formas inteligentes e divertidas de dar a volta aos argumentos das recusas, nomeadamente dos convites. E há que revelar auto-estima suficiente para parar com a perseguição se não há, declaradamente, interesse nenhum do outro lado. Porque se não, um homem que é inicialmente visto como persistente e corajoso, passa a ser visto como um detestável homem-melga. E pior que um homem-melga comum, só o homem-melga tsé-tsé. É o que, para além disto tudo, dá sono. E está tudo dito. Ou talvez outro post...

Presentes Especiais


A amizade é um afecto estranho, que se matiza de mil e uma tonalidades. Tem vários graus de intensidade, várias formas e feitios. Por isso temos amigos que pouco mais são que conhecidos por quem temos uma simpatia, mas também temos amigos que se tornam parte de nós. Temos amigos presentes e ausentes. Temos amigos que na ausência se tornam apenas conhecidos e outros que, apesar da ausência, não perdem o estatuto e reentram as nossas vidas com toda a naturalidade a cada reencontro.

Os amigos às vezes desiludem-nos. Podemos não ser reciprocados no grau da amizade que sentimos por alguns, por vezes para mais, outras vezes para menos. E também podemos às vezes magoar um amigo, seja por não lhe dispensarmos a atenção ou o carinho que esperavam de nós, seja porque não o compreendemos e fazemos ou dizemos alguma coisa que o incomoda ou fere.

Na amizade verdadeira e de maior grau de intimidade, confiança e conhecimento mútuo, quase tudo é ultrapassável mas, ao mesmo tempo, custa muito mais. Porque se a ofensa parte de uma não compreensão de nós, de uma qualquer insensibilidade aos nossos sentimentos, necessidades ou forma de ser, por mais que involuntária, deixa-nos a pensar que aquele amigo afinal não nos conhece assim tão bem, não nos compreende, não nos lê correctamente. E tem de ser isso, porque a alternativa é que realmente não se importa. Mas doi da mesma maneira.

Claro que é normal que os amigos não conheçam absolutamente tudo de nós - nem nós próprios conhecemos. Temos às vezes reacções, sentimentos e pensamentos que nos surpreendem também. Mas quanto mais avançado o grau de amizade melhor percebemos o que não sabemos. Aprendemos a reconhecer as zonas cinzentas onde não podemos entrar sem convite, aprendemos a evitar certas temáticas, aprendemos os tempos e os caminhos, sabemos quando temos de estar lá e não falhar, mesmo sem que nos peçam. E aceitamos a forma de ser do amigo, e ajustamos a forma como nos relacionamos com ele, para que não se sinta invadido ou ofendido, desde que isso também não ofenda os nossos princípios fundamentais. Na verdadeira amizade, mesmo quando não compreendemos tudo, somos capazes de dizer “I stand by you”.

Mas a amizade constroi-se, tal como qualquer relacionamento, por isso esperamos o mesmo esforço de volta. O segredo do sucesso de qualquer relacionamento, seja de amizade, amoroso ou até profissional, é a reciprocidade equilibrada de sentimentos e esforços, o que é um permanente reajuste de equilíbrios que exige atenção e dedicação. Talvez por isso se torna tão poderoso quando, de repente, se sente alguém que nem era uma amizade profunda activamente empenhado em nos apoiar, a sair do seu caminho, claramente a dizer “I stand by you”. Claro que um presente destes, tanta generosidade, é para reciprocar com toda a genuidade, e sem dúvida um excelente construto para uma amizade que se torna agora muito mais especial. Eu agradeço este presente. E digo a mais alguém "I stand by you". Sabe muito bem.

Excertos de mim #1


... És tão meu quanto eu sou tua. Não te quero nem posso fugir. Não quero nem posso perder-te. Este vôo altíssimo em que nos levamos os dois faz-se de duas asas: uma minha, uma tua. Não te largo, não, não me largues, por favor, porque sem a asa de cada um de nós, nenhum dos dois pode voar. E a queda desta altura é a morte.

O rio

Este rio tem uma nascente, um curso, uma foz, num percurso de linhas rectas e curvas. Este rio tem correntes e contra-correntes, às vezes é calmo outras vezes é veloz. Este rio tem águas límpidas e turvas. Este rio tem remoinhos dementes.

Este rio às vezes alarga-se, às vezes estreita-se, dependendo das chuvas e dos verões quentes. Este rio beija locais ora de suaves cores de verde ora de ásperas cores cinzentas. Este rio tem a força da água em movimento e a fragilidade das suas margens lamacentas. Este rio tem afluentes e convergentes.

Movo-me nas águas deste rio de mim. Mas este rio não corre sempre para o mar. Este rio às vezes não corre, às vezes corre para trás em movimento pendular. Este rio às vezes afoga-me, outras deixa-me a flutuar. Estou à tona e a aprender a navegar.

Como dizia o Poeta, "o rio corre, bem ou mal, sem edição original".

Das coisas simples que me fazem sentir bem #1


Morangos com chantilly.
Pode-se juntar mais umas coisas, e perfeito é juntar chocolate (que também adoro). Mas os morangos com chantilly são um regalo para a vista e para o paladar e transportam-me de volta à felicidade das coisas simples da infância.

A concha


Tenho a minha casca, a minha concha, que me protege do mundo e dos outros. É uma casca mutante, às vezes mais grossa, às vezes mais fina, até quase transparente. Às vezes abro-a, às vezes quebra e expõe-me, às vezes muda de cor. Vai enrijecendo com o passar do tempo, cada quebra remendada com dupla camada. Preciso dessa casca, desse refúgio. Preciso de me proteger e preciso de espaço e tempo e silêncio só meus para me encontrar, ou re-encontrar. Sem a concha da ostra não havia pérolas.

Na minha concha às vezes faz frio e então faço-a mais fina para entrar o calor do sol. Às vezes é ao contrário – o frio está lá fora e recolho-me no meu próprio aconchego. Na minha concha há silêncio à escuta dos meus pensamentos e palavras. Às vezes lá fora está muito barulho, demasiada confusão. E às vezes o tumulto de mim é demais para a concha e preciso de abrir para respirar lá fora.

Mas é na minha concha que me reconheço. É aqui dentro que sei de mim, e sei que depois de um sono aconchegado na concha acordo no silêncio mais ordeiro das ideias e sentimentos no lugar. É na minha concha que está a minha força. É aqui que encontro vontade. É aqui que me encontro a mim.

E ai de quem tentar abrir a concha e puxar-me para fora à força, e ai de quem tentar roubar-me a pérola inacabada de mim. Que eu fecho a concha de imediato com força e guardo-me, até o perigo passar. É que tudo tem um tempo e a pérola, para ser perfeita, precisa do seu tempo completo na casca da sua concha. E a ostra é que sabe qual é o tempo para abrir.