Raios o partam



Gostava de perceber que bruxedo é este, que de cada vez que finco os pés no chão e me sinto capaz de voar, sua excelência, o senhor do meu coração em tempos que queria idos, tem a amabilidade de me invadir a vida outra vez. Assim como que a marcar presença, a fazer-se notado e lembrado. Até parece que lhe “cheirou” que ando tão bem que nem fechei a porta a uma nova possibilidade que surgiu inesperadamente e que me fez pensar, pela primeira vez, “why not?...”.

Mas a lembrança que ele hoje me traz, já não é só dos sorrisos, dos beijos, dos abraços, da química e do fogo da pele com pele. Hoje lembro-me também dos meses de mim escaqueirada em mil pedacinhos que andei a custo a varrer do chão, e com muita ajuda a colar com esmero, na reconstrução do puzzle de mim. E sei que não quero voltar a ter esse trabalho todo, não quero voltar ao limbo do sofrimento em que andei entre os "quero mas não quero". Basta-me reler o que escrevi para me arrepiar, e arrepiar caminho.

Como sempre, não o consigo ler e sei que qualquer tentativa de leitura me pode fazer mal. Porque sei que ele é um poço de dualidades, de repentes e coisas ditas sem consequência, mas que têm em mim em efeito poderoso. Sei que ele é perigo, sei que sou inflamável e que ele é chama. Não o quero tão perto, porque tenho medo de inflamar mesmo de novo e não quero mais “days after” dolorosos.

Por isso agora não vou teorizar, não vou sequer tentar interpretar. Numa variante nova da minha estratégia de sobrevivência, serei literal e lerei literalmente. Não embarco no jogo da advinha ou da insinuação, porque não quero mais zonas cinzentas. Para mim é amizade com uma história, que está lá atrás e não continua nem se repete. E se houver uma nova história, desta vez escreve-se com linhas direitas, palavras claras e frases completas. Seja em que registo fôr, e para mim pode ficar no registo da amizade, que era até a forma que eu gostava de arrumar o assunto, dando pelo menos a esta história um desfecho mais bonito. Ele não me é indiferente, nem nunca será. É verdade que apesar de tudo me sabe bem tê-lo por perto, e gostava de o manter na minha vida. Mas só se fôr sem lágrimas.

Aqui estou eu, sei que de alguma forma perversa lhe pertenço, mas também sei que, antes de mais, me pertenço a mim e me cabe a mim evitar o curto-circuito. E o primeiro passo para isso é manter a porta aberta e uma visão de helicóptero que me permita não perder os outros olhares que se cruzam convidativamente com o meu, e não perder de vista o rumo que me tracei e este caminho que agora me sinto bem a trilhar. E se a coisa se complicar, peço aos céus que me iluminem e que descarreguem sobre ele um raio... que o parta!

14 comentários:

mf disse...

Ora bem dito... É altura de tirares 'su celência' do pedestal, reduzindo-o à sua condição de homem igual a tantos outros. Tocou-te, mas é passado. Deixa-te (e vai-te deixar ainda algumas vezes) desconcertada, mas com o tempo vais conseguindo lidar cada vez melhor com isso. Palavra de Ouriço. ;)

CB disse...

mf, obrigada pela promessa de "palavra de ouriço"! :)
Acho que lidei melhor ontem e espero lidar ainda melhor nos próximos dias, sem desconcertos, simplesmente porque nem vou pensar no assunto.

Anónimo disse...

Mana acho que há alturas em o livre arbítrio é lixado porque nos obriga a sermos nós a querer ou não ser espectadores do que nos pode afectar, às vezes temos a vertigem de saltar para o placo, outras saímos de mansinho para não acordar os convivas. Tudo depende do espetáculo e do quanto estamos dispostos a pagar pelo bilhete.. ...
É uma questão de visão periférica e enjoar de bolos de melaço. Um beijinho grande.

Apple disse...

E "mai nada".
Cada vez mais me convenço que afinal, nós que temos "fama" de complicadas não somos assim tanto e "eles", nos labirintos tortuosos em que navegam, é que disparam em todas as direcções e tornam duro um caminho que tinha tudo para ser suave.
Quando se chega ao ponto em que estão,a prioridade só pode ser o teu bem estar.
Não é com discursos encriptados e sinais que podem ser mal interpretados que se chega a lado algum, nada como tudo esclarecido, limpo, para encerrar de vez ou então, com vontade e frontalidade, começar a escrever uma nova etapa.

Bjs

CB disse...

Mana, pois é mesmo lixada a escolha... Sabes que pago para ver, mas agora só sob convite expresso. Mas é lixado mesmo...
Beijinho grande também para ti

CB disse...

Apple,
Agora primeiro estou eu, sem dúvida, e pelo menos sei qual o caminho que não quero. Por maior que seja a tentação, não queo complicar a minha vida e baralhar a minha cabeça outra vez. Como bem dizes, quero uma nova etapa "com vontade e frontalidade".
Bjs

1REZ3 disse...

Só estou bem onde não estou. Basicamente é isso que se passa.
É o tal "controlo" que a mf já há muito falou (creio que foi no texto em que comentei pela primeira vez).
Aproveita mas é o "presente" e deixa o passado para o lugar que merece...

CB disse...

Treze,
Obrigada. Estou a viver a minha vida, tal como ele tem estado a viver dele. Ele não me controla.

1REZ3 disse...

"Controlo". Esqueci-me das aspas...
Penso que percebeste que é no sentido de te querer por perto o suficiente para se sentir bem mas não o suficiente para não se "prender".

CB disse...

Treze,
Percebi. É retorcida a lógica, mas percebi.

1REZ3 disse...

É bem retorcida. É a lógica de quem não sabe o que quer (e sabe que não ama).
Infelizmente aprendi esta lógica da pior maneira...

Desde que isso não te impeça mais tarde ou mais cedo de seres feliz (e aprendas mais umas coisas com isso)...

CB disse...

Treze,
Agora é que não sei se percebi... "Desde que isso não te impeça mais tarde ou mais cedo de seres feliz (e aprendas mais umas coisas com isso)"? "Isso" o quê?? :S

1REZ3 disse...

Isso, essa lógica (ou comportamento) por parte da outra pessoa. Isso, o que te fez passar pelo que fez...

Por vezes esqueço-me que estou a escrever e nãoa dialogar... :)

CB disse...

Treze, obrigada pelo esclarecimento. :)