Ping-Pong


Toda a minha vida parece um jogo de ir e vir, partir e voltar, e sinto-me como uma pequena bola pelo ar, num ping para lá, num pong para cá. Se pensar bem, é assim em cada dia, a voar pelas horas cheias das tarefas da sobrevivência, e a voltar à base no final. Ping com o despertador, pong com o fechar dos olhos para umas horas de sono. Mas o pior é que, numa escala mais alargada, também me sinto assim com quase tudo na minha vida. A única diferença é que os vôos não são diários, os ciclos são mais longos E de ping em pong, acabo no ponto de partida.

No fim disto, agora estou cansada. É bom andar a voar, mas não é bom não avançar. E para cada ping-pong, há uma pancada de impulso, e às vezes essas pancadas são quase destrutivas. Sobretudo quando são vôos de ciclos longos, porque a pancada é mais forte, e porque leva tanto tempo até sentirmos o impacto do fim do vôo que, mesmo com a antecipação da memória, não estamos realmente preparados para como doi.

O mais torcido no meio disto é tentar perceber quem é que tem as raquetes nas mãos, quem dá o impulso e a direcção à bola. Se fosse crente, punha Deus a jogar de um lado. Assim, talvez o destino jogue de um lado da mesa. Mas do outro, parece-me, preversamente, que estou eu própria. E é turtuoso por isso: serei bola ou jogador que controla a bola, pelo menos numa direcção? Se sou eu que jogo, a bola é o que vivo. Só que se é assim, esta jogadora não sobe ao pódio, porque às vezes não imprime à bola o movimento melhor, e consegue no máximo bater na bola de qualquer forma só para continuar em jogo, e por outro lado o adversário parece imbatível, rebatendo até as jogadas que pareciam perfeitas.

Lá continua a bola, lá continua o jogo que não se pode parar. E posso não ganhar medalhas, mas continuo a jogar, continuo a esforçar-me. E vou voando de cá para lá, e de lá para cá, até que um dia a bola há de conseguir livrar-se da tortura, ou a jogadora há de conseguir uma jogada realmente perfeita, fazendo a bola saltitar até parar em algum sítio melhor, levando a jogadora ao pódio. Amanhã é dia de ping, e depois logo se vê. Seja quem for o outro jogador, apanha lá esta...

10 comentários:

Anónimo disse...

Cheguei a essa mesma conlusão nestes últimos dias. Se bem que a mim me parece que ando em círculos: acabo sempre no mesmo lugar (os mesmos sentimentos, as mesmas faltas, as mesmas dúvidas). E a outra conclusão chego então: o problema cdeve estar em mim e não nos outros. Fui eu que viciei o jogo... o tal de ping pong. A grande questão é perceber onde é que se começa a ... atirar mal a bola! E é lá que não consigo chegar! Quando perceberes, Princesa, avisa!!!

LBJ disse...

Ping

Agora tu fazes Pong...

Ping

Se não fizeres Pong...

Não haverá Ping

Ping-Pong é um jogo de partilha...

CB disse...

Imaculada,
Quem me dera perceber... Que o jogo parece viciado, disso não tenho dúvida. Quem o vicia é mais difícil de perceber... Mas prometo que se descobrir aviso, sim.

CB disse...

LBJ,
É verdade que se não fizer ping, não há pong, mas... desitir do jogo?! Eu ainda não me rendi... Não sei se é partilha se conflito - dois adversários, um de cada lado, e cada um quer que o outro falhe. É mais assim que vejo o jogo da minha vida, mas tenho cá um adversário...

Anónimo disse...

Mana, Eu experimentei essa coisa do ping pong..andei mesmo a apanhar bolas porque não tenho uma destreza por aí além para andar de raqueta na mão a amparar golpes de mesa. Descobri, ridiculamente estafada,a perder sei lá quantos pontos a zero e cheia de faltas sem rede e quedas bruscas de atacadores desatados, que mais que adversários , eu gosto mesmo é de parceiros.

CB disse...

Mana, entendo o gosto, também preferia um parceiro em vez de um adversário. Mas parece-me que jogo mal demais para conseguir uma verdadeira parceria...

Anónimo disse...

Não, a ideia é: não jogues... alia-te. Se o jogo acontecer depois... Uhmmm... é bem mais fair play :-)

CB disse...

Não jogar é desisitir. A bola está no ar e nós temos uma raqueta na mão. Ou bates de volta e continua o jogo, ou não bates e não há jogo, mas também não há glória.

Anónimo disse...

Mana, Isso parece o Wii em pausa...

CB disse...

Antes fosse! Que podia fazer um FFW...