Statement


Há uns anos, o meu roupeiro era cinzento. E bege. Monotonia total. Com o trabalho das arrumações quase terminado, e porque tenho a mania de organizar as coisas por cores, chego à conclusão que agora não tenho praticamente nada cinzento, muito pouco bege, um degradé de cores bastante variado, e depois, na ponta de cada secção, uma quantidade parva de coisas pretas.

Primeiro choquei-me. Depois preocupei-me. Depois pensei que do cinzento ao preto é uma vitória. Porque o cinzento é uma mistela de uma cor sem alma nem carácter. E o preto é, muito francamente, uma afirmação. Tal como a alargada paleta de cores que agora medeia o branco e o preto, sem quase passar pelos cinzentos (que embora ainda tenha alguns, são no entanto peças especialmente marcantes pela forma ou feitio), e que complementam o figurino. Tudo pronto para levar para a rua, e a ver se esta definição se impõe sobre os cinzentos melancólicos do desencanto e do descontentamento, que ainda visto por dentro tantas vezes. Porque realmente, black is beautiful, triste é só para os velórios e, mesmo assim, não deixa de ser um statement: é assumidamente triste, mas é assumido. Noutras ocasiões, é simplesmente distinto. Ou gosto de pensar que sim.

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