Os outros dizem

Que sou valente, que sou forte, que sou corajosa e determinada. Que fiz imenso caminho em pouco tempo, que cresci muito, que me abri mais ao mundo, que estou mais bonita, que têm orgulho em mim. Que a jusante será melhor, que mereço tudo de bom, que melhores dias virão, e que estou hoje muito mais preparada para os receber. Que sou boa mãe, que tenho muito para dar e ainda tanto para viver. Mas os outros - os outros, meus caros -, não calçam os meus sapatos.

8 comentários:

Bípede Falante disse...

brilhante! eu tenho vontade de esganar os outros.

CB disse...

Bípede, às vezes eu também...

1REZ3 disse...

Sim, de facto há que ter cuidado cuidado com aquilo em que acreditamos para os outros, principalmente quando lhes manifestamos essas "certezas". Sei no entanto que as certezas vêem à condição de se querer o melhor para a pessoa, embora isso também não ajude por aí além.

CB disse...

Noya,
Percebo e concordo que a intenção é, geralmente, a melhor. Mas às vezes não ajuda mesmo nada, realmente.

Anónimo disse...

Mana querida.

Verdade. Mas a questão pertinente surge-me- o que ajudaria então?

Eu sou um "outro" que não calço o teu par. Mas repara, também tenhos os meus próprios para engraxar e sem glória, às vezes, vacilo presa do alto dos meus firmes passos quando encravo stiletos na macadamia da calçada.
Não obstante, a fé ,entendo-a, é reduto, construto e bengala. É alavanca para mais e força escondida para que nas tantas vezes que o pisar fica trôpego e de salto lascado , não nos fira o caroço da alma e sigamos com confiança até ao sorriso que nos ajuda a diluir o embaraço.

Sim, admito que às vezes até possa incomodar, mas tudo seria bem mais hardcore sem eles (os outros, crédulos e apoiantes) a não deixar que a tormenta nos haurisse sem um mimo genuíno de reforço positivo.

Um beijo grande.

CB disse...

Mana,
Como respondi acima, eu sei que a intenção é a melhor. E, de facto, há momentos em que a fé dos outros é só o que nos segura, é a mão que permite o parco reequilíbrio e o passo seguinte. Mas outras vezes, soa mais a um "desenrasca-te, tu tens isso tudo, e consegues bem desencravar o salto da calçada". Ou então, ainda outras vezes, faz-nos pensar que é melhor não nos queixarmos, porque talvez alguns desses outros nos estejam a dizer que as nossas dores não têm a relevância que lhes sentimos. Às vezes é apoio, às vezes uma maior solidão ainda. Tem momentos.
Beijo grande

Anónimo disse...

Sim Mana, entendo, esses há-os também, mas serão talvez eles os "uns" e não os "outros"?

Eu sou facciosa e voto nos segundos- Os ululantes convictos cá do bairro.

CB disse...

:)