Dose dupla

Em dois dias, vi-me posta à prova, a engolir as minhas próprias palavras. Pois sim, não há nada melhor do que o abraço de um filho, mas por vezes a sucessão de birras, asneiras e chatices bate qualquer um. Foi um sábado de programa de cinema, a começar com uma saída de casa atribulada (e molhada) por causa de uma teima com o guarda-chuva. Um almoço de fast-food, em “assentos de nave espacial”, que levou hora e meia a ser acabado, com tanta parvoíce e brincadeira que se deu pelo meio, o meu e mais um, companheiro do programa. Fora as porcarias, a comida que caíu, as bebidas que se entornaram, as camisolas que se pingaram. Seguiu-se o filme, onde ao fim de 15 minutos já andava no senta-levanta, com as pipocas e a água em constante idas e vindas entre as minhas e as mãos dele. Passagem pelo supermercado, com nem sei quantas mini-birras, desde a que começou com a escolha do carrinho, quem empurra, quem arruma, quem escolhe, o que escolhe, quem põe na caixa, quem põe no saco, quem carrega nos botões do multibanco. Mais birra porque não queria ir para casa e dizer adeus ao amigo, e mais birra para tomar banho, e depois para jantar. Caiu na cama exausto, mas eu também. E hoje, foi o dia das asneiras, já lhes perdi a conta, a enfernizar-me a cada passo que dava e a exigir que fizesse jogos com ele a cada tarefa doméstica que iniciava. E no fim, depois do banho do temível “hoje-é-dia-de-lavar-a-cabeça”, já com tudo encarreirado e o jantar à espera, ao secar-lhe o cabelo descubro... piolhos. Piolhos, por Deus, piolhos... Apenas e só “a” coisa que me tira do sério, que só de os imaginar a passarem para mim fico doente. E dadas as horas, não tive hipótese se não passar o pente da tortura, felizmente constatar que não está infestado, (saída mais fantástica: eu - "quieto, que está aqui um piolho!"; e ele, voz de sofrimento - "depressa mãe, depressa, que ele está-me a puxar o cérbo!"); dar-lhe o jantar, e amanhã de manhã lá vai ele para a barrela com a mistela nojenta do “remédio-dos-piolhos”, que espero que chegue para ele e para mim a seguir, que eu nestas coisas não brinco. E depois são os lençóis e fronhas e etc, tudo a lavar, secar e engomar, em cima do que já é normal, que vou ter mesmo de dividir com a minha empregada que não vai dar conta do extra. E isto na semana em que inicio mais um projecto exigente, e que por isso queria iniciar bem descansada. Maravilha. E agora, nem quero um abraço dele, que não quero aquela cabeça perto da minha, apesar de não saber se não me passou já a agradável hospedagem. Em dias destes, não me importava muito de o mandar para casa do pai, e ficar só com as conversas e sorrisos telefónicos... À distância segura dos piolhos e com as birras e asneiras em versão de terceira pessoa. Que dose!

4 comentários:

Pulha Garcia disse...

Encantadora a descrição!

Boa sorte para o teu projecto.

(já tinha saudades de te ler)

CB disse...

Pulha,
Obrigada pela visita e pelos votos de boa sorte. Vou precisar!

(também tenho saudades de alguns leitores, para quem a porta está sempre aberta)

Apple disse...

"depressa mãe, depressa, que ele está-me a puxar o cérbo!"

Desculpa, mas depois desta não parei de rir...

Boa sorte para a semana que começa. (Estou em falta contigo, mas, entre agendas, vamos conseguir ;)

Beijo grande e sucesso

CB disse...

Apple,

Também me fartei de rir dos filmes que iam naquela cabecinha... Até pesadelos teve, apesar das muitas histórias de piolhos que inventei para desmistificar a coisa!

(Não estás nada em falta, a última até foi falta minha, e a minha agenda também não está fácil, mas vamos conseguir sim senhora! :))

Grande beijinho e obrigada amiga!