Change of Heart


Há coisas que não consigo exprimir em Português. Uma delas é “change of heart”. E porque é tão diferente de “change of mind”. Não sei qual delas manda na outra, acho que têm uma relação às vezes um pouco promíscua. Mas sei bem que dói diferente. Uma“change of heart” é tão mais difícil de suportar, quanto o é de acontecer.

Na cabeça, funciona lógica, factos e provas. Deduz-se uma acusação e proclama-se a sentença racional. Muda-se de ideia em vista de boas razões para o fazer. Já do coração, o processo é mais complexo. Não se podem sentir razões. Sentem-se apenas emoções. Às vezes também despoletadas pelos veredictos da lógica (por isso a promiscuidade - não devia ter nada a ver uma coisa com a outra, mas por vezes misturam-se e dá muito mau resultado), mas geralmente são apenas coisas que se dão, que nos dão, ou que ficam, ou que vão. O processo é alquímico.

Somos capazes de amar um escroque que sabemos que não vale um cêntimo, e não podemos amar alguém que sabemos que merece e nos quer bem. E ora somos capazes de nos lançar em aventuras insanas na vida, num salto de fé que o coração grita, ora não somos capazes de deixar o coração saír do cárcere que a rígida mente dita. E somos capazes de viver com uma fundamentada mudança de opinião, mesmo que seja uma desilusão, mas não somos capazes de viver com uma “change of heart” que nos deixa a sentir sem perdão, que nunca tem propriamente uma razão. Mais ainda quando é dos outros, porque sabemos que não há nada a argumentar, nada a ripostar, nada mais a esperar. Até se dar a nossa própria “change of heart”, provavelmente a custo, penosamente, depois de muita lógica destilada, e muita noite chorada. E mesmo assim, talvez não se dê nunca. Porque é mais fácil o coração imiscuir-se na cabeça e turvar o pensamento, do que a lógica forjar um sentimento, ou forçar outro a mudar.

2 comentários:

Bípede Falante disse...

Também não sei explicar. Sei que o meu, quando menos esperei, dobrou esquinas e nunca mais olhou para trás. Fez isso sem dar-me explicações. Passei por má, mas que maldade essa criatura faz com aquele pobre homem, disseram. Mas não fui nem a minha cabeça. Foi o danado do coração, mais independente do que a gente imagina.
bj

CB disse...

Bípede, entendo perfeitamente. Passei um processo similar de que escrevi aqui, lá muito atrás. E é verdade que o coração é independente, não o controlamos como gostamos de pensar. O problema é que também temos de dar aos outros a mesma legitimidade para as suas "changes of heart", que às vezes o nosso coração demora (demora muito!) a aceitar.
Bj