Doce


Que dádiva imensa podem ser as palavras escritas. Que força extraordinária têm de ter para conseguirem saltar de uma folha ou de uma tela directamente para o coração. Que magia têm que ter para transformar a mera fonética que representam em acordes que vibram na alma e se espalham em sentidos corpóreos. Mas é: nas palavras que nos correm viajam sentidos. Mais que os significados e as linhas de pensamento, viajam sensações, emoções. Viajam, curiosamente, nos dois sentidos - aqui de direcção. Há palavras que se escrevem a duras penas e outras que se escrevem em paz. Há palavras que se escrevem e nos esvaziam, enquanto outras nos enchem derramando-se. E há palavras que se lêm com a razão e outras que se lêm com o coração. Destas últimas, há palavras que se sentem na pele, de que se sente o toque, o calor. Há palavras que podemos sentir como um beijo. Doce. Tão doce.

11 comentários:

bird of prey disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
bird of prey disse...

há quem veja alma nas palavras e quem se envolva dentro delas como se fossem um abrigo e sinta o seu calor e sabor Doce.

CB disse...

Eu,
"Quem não vê bem uma palavra, não pode ver bem uma alma" - Fernando Pessoa.

Anónimo disse...

Lindo Mana.

Sinto-o, sei-o bem. São vôos arcanos num viajar para um além de nós, inebriadas de luminescentes que nos enchem de bolhas coloridas numa paleta em prisma. É sentir a urgência de um grito num silenciado "Uhmmm", murmurado de bons... é a palma das mãos húmidas a deslizar coladas aos ombros num arrepio que ferve, é apneia, é expirar lento para tentar retomar o latejar num compasso vivível. É um ler e escrever a sós que nos une umbilical a um outro. É clonar-nos impregnadas de um jorro de aromas e texturas.
Sim, as palavras contêm um segredo antigo, um caldo primordial. São poção de origem, de revelação, de continuidade e de catarse.

Gosto de ti cor de gelado. :-)

CB disse...

Obrigada Mana.
Sinto-me honrada que tenhas guardado para mim, aqui, as tuas belíssimas palavras. :)
Sei que navegas bem nas palavras e que lhes conheces ambos os sentidos...

PS: Vês-me côr de gelado?? E eu que ainda hoje te dizia que já não me sinto no verão!...

Anónimo disse...

Vejo sim. Nota que esses acidulados doces não são sazonais, são perenes.

Mas pronto, se não vês gelados na mudança de estação, com chá quente, também podem ser cores de macarrons de Ládurée. :-))

CB disse...

Discordo... Todo o acidualdo e todo o doce se dilui num suceder de ciclos da vida. Rebento verdejante a folha plena de verde intenso, até se dourar e tingir de tons de sangue e acabar no chão. Tudo é exaurível. Eu sou árvore de folha caduca...

Anónimo disse...

Aceito que prefiras esse testemunho...Entendi sinceramente, que estávamos a falar de doces e de momentos encapsulados, para mim, esses têm um sabor mais perpétuo - Ficam como nas saudades, damos-lhes eternos nas memórias.
Ciclos sim, não os temos todos? O que quis partilhar, foi celebrar estáticos contigo. E assim sendo, reitero os meus votos que quando despidas de folhagem, um apontamento colorido nos cubra os ramos.
Beijocas cheias de pigmentos.

LBJ disse...

Fui acusado por quem mais quero, pelo ser que um dia de mim saiu de apenas ser palavras e eu que tanto as amo, navego hoje nas dúvidas que me podem afogar...

Beijos

CB disse...

Mana,
Talvez tenhas razão, que a doçura de certos momentos sobreviva ao tempo. Era bom que "encapsulado", mas os que resitem nunca mantêm o gosto ou a essência plenos.
Obrigada pelos coloridos, beijocas multicores também para ti :)

CB disse...

LBJ,
As palavras têm esse poder também, infelizmente. De poderem ser tão amargas quanto o que podem ser doces. E quando amargas, perfurantes, magoam muito mais vindas dos lábios de quem amamos.
As palavras por si não nos afogam. É o que carregam... E às vezes é preciso tempo para se saber vêr atrás delas.
Beijos