Espaços


Fiz há pouco uma viagem rumo a sul, ao local onde passei os verões de que me lembro da minha infância, adolescência, e pimeiros verões quentes do início da idade adulta. Desta vez, na companhia do meu filho, na qualidade de mãe-divorciada. Regressei ao passado quando fomos e regressei ao presente quando voltamos. Estivemos duas semanas, fomos outros estes dias, vivemos outras realidades, ecoamos noutros espaços, mas reconhecemo-nos sempre no que somos e não muda, apesar das readaptações constantes a um ser em crescimento e outro em metamorfose. É constante o amor de que comungamos e conhecemos um do outro.

Ali andei uns dias também num canto escuro, caverna de ecos impartilhados. Precisei desse espaço. Precisei dessa gaveta só minha, fechada à chave com um cadeado inviolável. Precisei da liberdade de escrever sem condicionantes emocionais e psicológicas, com a liberdade do escritor eremita e sem público, produzindo textos para que logo a seguir se perdessem também de mim, sem outros olhos que os lessem. E ainda assim foi pouco. Foi pouco o tempo e poucos os textos que efectivamente consegui arrancar de mim e lançar para a inexistência.

Mas foi um respiro, um intervalo, de que precisava antes de voltar. E queria voltar e voltei para destilar outra vez, apenas essência, novamente com total liberdade e com a mesma autenticidade que sempre me exigi, sem condicionantes de espécie nenhuma, inclusivé das minhas próprias palavras de capítulos anteriores. Que me desculpem, mas não quero saber de consistências. Assumi este como o espaço que abri para me verter, o espaço que me permite delinear-me e entender-me, o espaço onde me sinto confortavelmente exposta. Na alma, só na alma, a essência que tenho procurado (re)descobrir.

Tenho outros espaços físicos onde me revelo mais completa, amizades de entendimento longínquo, apesar de algumas serem recentes. Não tenho medo de me dar assim a esses poucos, pouquíssimos, alguns dos quais até lêm o blog. Mas esse é outro espaço onde o caminho se faz a dois, dando e recebendo, com entrega e confiança recíprocas. Laying the bricks, one at a time, erguendo as paredes que imaterialmente definem essa construção.

O blog é o espaço onde sou eu só para mim, sem expectativas de retorno ou reciprocidade de quem, por algum motivo, me lê. E se desses alguns tiram daqui alguma coisa de positivo, pois sejam bem vindos, que regressem sempre, e se estiverem para isso, que me digam que andam por aqui, me dêm uma achega ou um safanão, me mandem um beijo ou um abraço. Acarinho-os todos, porque a amizade faz-se de partilhas e presenças, de construção dos tais espaços que não são físicos, cada um à medida do seu lugar próprio, e por isso também se faz por aqui.

8 comentários:

Pulha Garcia disse...

Eu retiro muito de positivo daqui. Sobretudo pela sinceridade não agressiva das tuas palavras.

Apple disse...

Ler-te é sempre um prazer renovado, de (re)encontro e (re)descoberta.
A amizade é feita assim, sem pressas, numa entrega inteira...

Bjs

1REZ3 disse...

Princesa,
sinceridade, carinho e crença serão sempre coisas positivas. E os teus textos estão carregados disso.

Still hoping to see the (Des) fall... :)

CB disse...

Pulha,
Ainda bem (mas eu também tenho os meus dias de ventania).

CB disse...

Apple,
Pois é e sinto o mesmo ao ler-te também. :)
Bjs

CB disse...

13,
Obrigada.
Quanto ao "des", temo que não esteja para breve, mas agradeço o incentivo. :)

LBJ disse...

Um Beijo :)

CB disse...

LBJ,
Um beijo :)