Excertos de mim #3 (adaptado)

Não existem verdades absolutas, mas existem verdades. E a verdade é sempre preferível à mentira, por mais crua e dura que possa ser a primeira e mais doce e suave possa ser a segunda.

Tento sempre alcançar a verdade dos outros, da mesma maneira que tento alcançar a minha verdade. Mas sentir com verdade e falar com verdade é apanágio de poucos. Agir com verdade, é ainda mais difícil. Porque às vezes impomos filtros de lógica ao que sentimos, espartilhando-nos em códigos que nos impuseram. Às vezes calamos a verdade que ecoa em nós, seja por cobardia, conveniência ou piedade. Às vezes agimos contra a nossa essência, a nossa verdade, por mais motivos dos que razoavelmente poderia discorrer numa frase. Mas essa verdade intrínseca não se altera, continua ali, apenas se encobre, se esconde debaixo de uma segunda camada de pele que é falsa, uma casca, que se não tomamos cuidado se torna mesmo uma segunda pele. Se não quisermos ver, ouvir e libertar em palavras.

Mas que atire a primeira pedra quem nunca pecou...

7 comentários:

Pronúncia disse...

Princesa como bem dizes "a verdade não é absoluta", por isso nem sempre estamos a ir contra a nossa essência se calarmos um pouco da "nossa verdade" ao mesmo tempo que ouvimos um pouco da "verdade do outro"... temos é que encontrar uma das verdades que existem algures entre as duas (e eu creio que existem). :)

CB disse...

Pronúncia, tiro-te o chapéu. Era mesmo aí que isto levava. Se é difícil este processo connosco próprios, é ainda mais difícil quando há que escolher entre “eu” e um “outro”. Porque só existe um “nós” quando a verdade de cada um dos “eus” que o compõem é a mesma. E saber que é a mesma é empírico. Mas se há um “nós”, não é preciso escolher – a verdade é a mesma, sentida, falada, realizada.

Paulo Lontro disse...

Há muitos, muitos anos, tive aulas de filosofia no liceu.
Lembro-me que tive uma aula sobre o tema, Verdade.
Escreveu o professor que, a Verdade é a conformidade do pensamento com as coisas.
No fim da aula escreveu no quadro:
As pessoas inteligentes não são as que tentam mudar a realidade, essa não é mutável, mas sim as que são suficientemente flexíveis para adaptar o pensamento sempre aprendem alguma coisa.

CB disse...

Paulo,
Obrigada pelo excelente comentário. Acho queo teu professor era de facto um "mestre". De facto temos de nos ir adaptando, sofrendo assim uma espécie de evolução "transfigurante", significa que crescemos. Mas aquilo a que me refiro no texto tem mais a ver com uma "transmutação", um esconder da verdade, da nossa essência, que às vezes acaba por nos sufocar dentro de uma casca que se torna segunda pele. E é difícil distinguir o que é evoluír com flexibilidade e adaptação, nomeadamente às verdades do outro, e o que é comprometer a nossa verdade, mascarando-nos de algo que não somos, às vezes para satisfazer os critérios do outro. Por isso digo acima à Pronúncia: só existe um "nós"quando a verdade de cada um dos “eus” que o compõem é a mesma.
É um tema que ainda vou explorar mais para a frente. Tem pano para mangas...

Paulo Lontro disse...

Claro que entendi.

Se vivêssemos num mundo perfeito, a cada “eu” corresponderia uma verdade pois se, a verdade é a conformidade do pensamento (vontade, visão, ética…..) com a realidade (coisas), e esta não se pode alterar, apenas podemos fazer variar o pensamento, coisa que não seria necessário alterar num mundo exemplar.

O que se passa é que pelo facto de não vivermos sozinhos temos que estar, mais ou menos vezes e com mais ou menos intensidade, a adaptarmo-nos aos outro ou seja , temos que adaptar o nosso pensamento, a nossa vontade, às outras pessoas e até ao meio que nos rodeia.

Creio que importante é saber onde estás quando fazes cedências, só tu podes conhecer a fronteira a partir da qual deixas de ser tu, até lá, só vejo vantagens na adaptação, só os inteligentes sabes interagir (adaptar) sem perder a sua identidade.

Na realidade, acredito que há um “nós” composto por vários (muito semelhantes, mas vários) “eus”.
È algo que não me perturba se for eu a dominar a variância desses mesmos “eus”.

CB disse...

Paulo,

Excelente comentário. É de facto ténue essa fronteira que referes, a tal que nos "transmuta" se ultrapassada. E não se pode fugir de uma certa flexibilidade e adaptação aos outros para que não sejamos eremitas. E a chave é realmente saber onde estamos, onde pisamos.

Não sei se alcanço o significado das últimas linhas. Se o "nós" a que te referes for o indivíduo, entendo o que dizes - cada um é composto de vários "eus" semelhantes e isso não é problemático desde que os saibamos "domar" (o que só se consegue com auto-análise e integridade). Mas se o "nós" que dizes composto de vários "eus" for, por exemplo, o "nós" de uma relação (de amizade ou outra), então como se domina a variância de tantos "eus", os nossos e ainda mais os do outro?...

Paulo Lontro disse...

entendeste bem, o "nós" é o individuo.