Let's Tango


Gosto de dançar contigo. Sinto que dançamos realmente como um par. O enlace que nos une os corpos é perfeito. Consigo soltar-me e seguir-te, sentindo no teu toque e no balanço do peso dos corpos por onde me queres levar. Sabes que me levas para onde quiseres, e que me rodopias tantas as vezes quantas as que puderes. Pois é... Mas é bom, foi tão bom... Voar nos teus braços sem saber para onde vou. Mas o meu corpo sabe, sabe sempre, sente e segue o teu corpo, sem perder nunca o equilíbrio. Uma sintonia estranha instala-se, e o desejo de manter o enlace faz o resto para que não nos desprendamos e não nos desencontremos. Na pista de dança, pelo menos...

Mas falta-nos dançar um tango, sabes? Sim, imagina... A forma mais sublime de uma dança de par, de uma dança de amor, que sei que podíamos dançar. Um tango não é só um monte de passos bonitos, e uns quantos floreados mais ou menos acrobáticos. Um tango é emoção pura. É paixão, desejo, luxúria, ciúme e ira, e ternura e amor. E a música que quase hiptoniza, que vibra por dentro enquanto alterna entre momentos de doçura, que se traduzem em movimentos lânguidos e suaves, e momentos de stacatto, com passos marcados com som no chão e ritmo acelerado. É os nossos corpos a moverem-se em sintonia de encaixe amoroso, fluindo num desejo sereno de abraço com ternura, espelhado pelo olhar. E os nossos corpos que se repelem para logo depois se prenderem com fúria, num impulso de desejo irrestível, que se expressa na força quase violenta com que se agarram e se puxam um ao outro.

Cada um dança um tango de forma única, e tenho a certeza de que cada um que se dança há de ser único. Porque um tango, a sério, só depende do sentir - da música e, sobretudo, do outro que se tem nos braços. É muito mais que uma dança. É a linguagem autêntica do corpo e da alma. Nós nunca dançamos um tango, mas sempre que dançamos foi assim. Talvez por isso nos consiga imaginar tão facilmente nesses passos de dança de paixão.

É. Tudo isto porque ouvi na rádio que a TAP pode vir a voar directo para Buenos Aires. É uma das viagens que quero muito fazer, mas não a quero fazer sozinha. Pensei logo em ti. A primeira coisa que me veio à cabeça foi uma imagem de nós enlaçados num tango. Por uns momentos, enquanto corriam os últimos quilómetros do meu regresso a casa, embalei-me nesse sonho. Quase te senti... Talvez seja o mais perto que alguma vez chegue desse momento. Mas soube-me tão bem aquele bocadinho de ti.

Não sei dançar o tango, mas vou aprender. Um dia há de haver alguém que não hesite em se meter num avião comigo para ir soltar uma paixão assim numas ruas argentinas. Gostava que fosses tu. E, no entanto, não te posso propôr um “let’s tango”. Mas fico ainda a pensar, talvez um dia, quem sabe?... Até lá, e enquanto não danço, vou ouvindo. E sonhando a recordar.

2 comentários:

LBJ disse...

Também eu gostaria de aprender a dançar tango e um dos primeiros textos qu escrevi no blog fala exactamente de Amor, namoro, paixão e tango, é tão antigo que nunca deves ter lido :)

http://littleboyj.blogspot.com/2008/12/quadrilogia-de-espcie-amor-namoro-paixo.html

Beijos

CB disse...

LBJ, pois então só te posso dizer que vás aprender. Mais vale tarde que nunca. :)
Bjs

PS: Adorei o texto, que não conhecia, de facto.