Travessias


Na marcha pelo deserto eu sabia
Que alguns morreriam

Mas pensava sob o céu redondo
- Onde
O limite do meu amor da minha força?

E eis que morro antes do próximo oásis
Com a garganta seca e o peso
Ilimitado do sol sobre os meus ombros

Eis que morro cega de brancura
Cansada demais para avistar miragens

Eu sabia
Que alguém
Antes do próximo oásis morreria

(“Caminho" de Sophia de Mello Breyner Andresen)


Ainda acredito no amor, sim. Sei que existe e só não sei se um dia o realizo. E por um defeito genético qualquer, não consigo deixar de querer procurar, por uma loucura qualquer, sinto-me capaz de mergulhar inteira se ele me quiser receber. Mas é duro libertar-me da tortura de conhecer o sabor do que quero e não tenho. Pergunto-me se sobreviveria a esse mergulho de que me sinto capaz, pois continuo presa na convicção de que mais nenhum amor substitui aquele que me assolou, que mais nenhum homem substituirá aquele que me fez sua. Mas também não sobrevivo à apneia de esperar pelo que queria e não tenho, à marcha lenta sob o sol, na perseguição da miragem que não se alcança, e que me fará morta no deserto.

4 comentários:

ruth ministro disse...

Este teu post emocionou-me...

Um beijo grande

CB disse...

Nuvem,
Obrigada pelo carinho...
Um beijo grande

LBJ disse...

Às vezes temos mesmo que nos convencer que só destruindo se pode construir.

Um Beijo

CB disse...

LBJ, às vezes, sim.
Um beijo