Quem me dá um abraço

O que é um abraço?

Numa definição de dicionário diz-se que é "acto de apertar alguém nos braços; expressão de afecto ou amizade".

Quantas dimensões têm os nossos afectos? Provavelmente tantas quantos os tipos de abraços que existem. Abraçar um Pai não é igual a abraçar um filho. Abraçar um amante não é igual a abraçar um amigo.

Mas não é só "afecto" - é "expressão".

Dou poucos abraços e tenho poucas pessoas, muito poucas, que me dão abraços. Não me lembro do meu Pai me abraçar a não ser numa ocasião muito especial, muito triste e muito dura, mas desse não me hei-de esquecer por mais anos que viva. Também me lembro apenas de um abraço da minha mãe, ou melhor, à minha mãe, também num momento de enorme dor, minha, que nesse instante senti que era um pouco dela também.

Abracei os Homens da minha vida, os poucos que amei, muito e tanto, mas sempre de maneiras diferentes, com medidas diferentes.

Não sei abraçar os meus pais, os amigos, e perguntava-me se hoje ainda saberia abraçar um homem, porque mesmo que voltassee a amar algum, iria ter de reaprender a "expressar" esse amor.

Só sei realmente abraçar o meu filho, que amo e sei dizer, sei mostrar que amo. E sei que gosto muito quando a minha mana me abraça. Não sei se a sei abraçar de volta, mas gostava de pensar que sim. O afecto está lá, mas a expressão é que custa.

O acto de abraçar alguém, de "apertar alguém nos braços", oferece uma proximidade tremendamente assustadora, tremendamente íntima, para mim. É expor o coração, no meio do peito aberto, a um contacto que tenho medo que me possa ferir.

Afinal, tenho muito ainda que curar em mim, tenho muito ainda para aprender. Mas tenho muito, ainda, para dar.

E depois de escrever isto, veio a insónia... Passei uma noite a pensar na distinção entre o "sentir" e o "expressar". Pensei: será que ainda sei realmente sentir? Será que ainda saberei amar?

Queria saber responder. E um dia, tempos depois, um homem entrou na minha pele e na minha alma, não sei de onde, não sei porquê, e dei por mim num abraço, bom, apertado, sem defesas, numa entrega que teve tanto de mágico como de absurdo. E depois, o medo, o susto, a ferida re-aberta, num repente insano. E deixei-o de fora, não soube mostrar-lhe o porquê. Neguei-lhe o abraço. E cá ando até hoje com ele impregnado em mim, estranhamente apaixonada, mas à distância... de um abraço.

Por isso, acho que, mesmo passado tanto tempo, mesmo feito tanto caminho ao longo dos últimos meses, realmente já não sei amar, mesmo quando me apaixono, porque não me sei dar sem reservas por mais do que uns poucos momentos que dura o ímpeto da química, da mágica, da paixão.

E o pior é que eu queria tanto dar esse abraço, abrir o meu coração, mais do que os braços, e tenho tentado tanto, e não consigo evitar a antecipação da dor. E assim me prendo a uma outra dor.

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