Planos

A certa altura, quando o outro blogue, o primeiro e privado, já começava a ganhar tamanho, comecei a olhar para as coisas que tinha escrito e comecei a pensar que tinha mesmo de começar a fazer por mim e pelo resto do meu futuro: planos. Para sobreviver e depois progredir.

Tenho de fazer aquela pós-graduação. Só não sei como vou integrar mais uma exigência na minha vida. Digo-vos, não é fácil investir na carreira e ser mãe, sobretudo quando se faz isso sozinha. Não estou contente profissionalmente. E tenho de remediar um erro do passado. O meu primeiro casamento fez-me desistir da faculdade no último ano. O segundo, pôr a carreira em segundo plano. Nunca terminei a licenciatura, por uma meia dúzia de cadeiras. Mas eis que veio Bolonha. Posso fazer uma pós-graduação. Só não sei a que custo. E não, não é quanto custa a propina.

Este parece ser o meu problema central – integrar as exigências de ser mãe, inegociáveis e irrenegáveis, com a vontade de ser tanto mais. E tudo parece resumir-se a dois verbos: planear e escolher. Só que há coisas que estão escolhidas, algumas mal escolhidas, e agora tenho mesmo de viver com elas. Às vezes pergunto-me onde sobra espaço para mim.

Tenho uma Mãe que adoptei, a que chamo mesmo a minha Mãe adoptada. E tem realmente sido mais minha Mãe que a verdadeira. É uma amizade muito especial.

Ela conhece-me bem. E goza comigo por causa da minha mania dos planos. Já teve umas tiradas fantásticas à cerca dessa minha mania – ok, há que reconhecer que teve piada... Um dia conto.

O problema dos planos é que são escolhas que raramente se conseguem implementar, concretizar, à risca. Há sempre inesperados, adaptações, atrasos para compensar. Novas escolhas para fazer. E reviravoltas tremendas que nos mandam todo o plano para o lixo - coisas que não podemos controlar, outros que não querem ir connosco. Escolhas que nos são negadas. Confesso que lido mal com isso. Tenho sempre um plano B, um plano C muitas vezes. Mas irrita-me profundamente não conseguir seguir os meus planos, não conseguir o que escolhi.

Fico muito organizadinha, mas perco a espontaneadade e, de certa forma, alguma liberdade. E à medida que o tempo passa, não sei se não comecei a deixar de querer fazer planos simplesmente para não ter de lidar com a frustação de ter de os mudar. Acho que é o mesmo com as relações. O medo que corra mal é tão grande que nem quero tentar. Afinal será esse o plano?... Sem espaço para espontaneadade? Mas é uma escolha, pois é?

Só que não era bem isto que eu queria. Não era este o plano.

E isto fez-me ir destilar um outro escrito de há uns meses, sobre o HTML e os homens. Dizia eu então:

Primeiro criei o blogue, com base num modelo, super-rápido e super-fácil. Depois comecei a mexêr nas cores das letras, nas fontes, a pôr umas imagens, etc., mas tudo simples – é só seguir passos pré-definidos, carregar em botões – brincadeira de crianças.

Agora descobri o HTML........................

Pode-se mexer em quase tudo! Quanto mais se escolhe, menos se acerta, porque mais se tenta, mais se quer. É uma canseira. Pré-visualizo, mexo mais um bocadinho, e acabo sempre a carregar no botão de “anular modificações”.

No fundo, também é assim com os Homens. Só não há o botão de "anular"...


E não há mesmo, e mal sabia eu então que havia de estar hoje a sofrer disso mesmo, porque a viver uma angustiante história de quase-amor, “quase” porque não há botão de “anular” para corrigir um momento insano que hei-de destilar à frente, “quase” porque não se pode realmente estar apaixonada por alguém que mal se conhece, “quase” porque está tão perto e tão longe, “quase” porque é tudo e não é nada.

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