A minha Mana

De todos os estragos que fiz na vida, resto eu hoje. E eu hoje, já não me conhecia. Estava presa lá atrás, noutros eus que fui em tempos. De repente, comecei a olhar de novo para mim. É um espanto a descoberta, mas um susto também. Há fantasmas de nós e dos outros que passaram na nossa vida. É difícil perceber quais os que temos de calar, é difícil encarar.

Tenho uma grande Amiga. Assim tão grande, que chamo de minha Mana. Começou em jeito de brincadeira, mas agora é muito a sério. Ela entrou na minha vida de repente, inesperadamente, mas de uma forma estranhamente natural. E tem sido um apoio inacreditável, uma força imensa – e uma psicanálise baratinha... Preciosa. E há-de ser para sempre, porque é um sentimento do mais fundo do meu coração. E eu simplesmente sei que ela vai lá estar sempre, e eu para ela.

Um dia, finalmente, consegui contar-lhe sobre uma coisa muito difícil do meu passado. Abordamos o assunto ao de leve muitas vezes, mas chegava sempre um ponto em que não conseguia falar mais. Era mesmo difícil. É ainda difícil, mas agora melhor. Porque um dia contei-lhe tudo e de repente fiquei eu própria diante daqueles sentimentos, daquelas memórias trágicas, que quase me consumiram. Foi muito duro, viver e contar. Mas vivi para contar. De repente até soube bem pensar assim. Mas ainda não escrevo sobre isto.

E ela perguntou-me: qual é a palavra? Ou seja, o que é que este bocado de passado tem para me prender ainda assim, tanto que não consigo falar?

Bolas, bolas, que ela é boa.

6 comentários:

mf disse...

Dar nomes às coisas. Aos sentimentos, às sensações. Para perceber melhor o que vai cá dentro. E um dia vais perceber. Eu ando num processo parecido e vou conseguindo... :)

CB disse...

Eu sei, eu sei... Muito destes primeiros escritos do blog vêm destilados de um outro. Isto já foi escrito há alguns meses e agora as coisas são mais fáceis. Dar nomes às coisas ajuda sim. Mas é precisa uma certa coragem... :)

Anónimo disse...

Mana,
Hesitei sempre comentar este texto, porque o sei meu. Agora que o tempo dos outros passou, já posso dizer-te que quando te oiço reiterá-lo, me inundas de ternura. Bem-hajas por teres precorrido ao meu lado, tanto do que és hoje nessa grande metamorfose dorida que desvedou o que sei ler e ver de ti. És na essência e maturaste-te numa valente, uma mulher muito completa e linda que ainda não desistiu de se querer melhor. Tranquiliza-me pois , sentir hoje e mais que ontem, que estás preparada e hábil para ser (e fazer ser) imensamente feliz.

CB disse...

Mana,
Bem hajas... Por teres sabido ver e ler de mim, teres sabido ajudar-me nessa duríssima caminhada, e ainda me dizeres agora que vês mais de mim que eu própria.
Reitero com amizade, com ternura, com total sincerade, como sabes. O privilégio é meu de ter a amizade de alguém tão especial como tu, a ajudar a percorrer esse caminho, que realmente espero, seja para saber e poder um dia ser e fazer feliz.

Anónimo disse...

Amo-te muito minha querida Mana.

CB disse...

E eu amo-te a ti, mana querida e grande. :)