Capítulo I - "What do you say?"

Perguntas-me. Manuscrito, com falha da tinta na primeira palavra. Terá secado a caneta, na espera entre o ponto da anterior frase e a coragem que procuraste - e encontraste? Ou a coragem foi para o que está antes desse ponto e, depois, ficaste a avaliar se prossegias ou se recomeçavas a carta? E onde foste buscá-la, essa coragem? A que palavras ou imagens das muitas que trocamos ao sabor da correria dos dias, tantos dias? Ou a que memória dos nossos encontros e conversas? Todas as tuas missivas me deixam com interrogações. Tal como os silêncios ocasionais. Verdade: esta "relação epistolar" tem-se construído, passo a passo, e tem respondido a algumas questões; mas levanta sempre mais umas. Almejas vê-la crescer, e que te digo? Baralho-me toda. Releio vinte vezes as tuas linhas e escalpelizo-as até à exaustão. Releio as anteriores e diversas epístolas. Releio as minhas palavras e notas dispersas. Reconstruindo o percurso da história que cresceu, pontuada de tanto mais do que simples palavras: pensamentos, sorrisos, sensações e sentimentos, partilha de cenas da vida de todos os dias. E no fim das novas notícias de quotidiano, escreves-me a saudade crescente, com pontos de interrogação sobre planos de viagem e destinos, assumindo também em crescendo a necessidade de me ler, ouvir, rever. Certo é que sei bem, também, o sabor dessa saudade e o peso dessa necessidade. Sei reconhecer, também, que todas as novas questões e perguntas por responder só são relevantes porque quero descobrir, quero saber, sim, almejo também ver-nos crescer.

E por isso, na volta do correio, com outras linhas, como sempre, de permeio, I say yes, sem no entanto te citar o que tão bem expressa o que me ecoa dentro. Porque... Yes, digo-te eu, "But I being poor, have only my dreams; I have spread my dreams under your feet; Tread softly; for you tread on my dreams." (W.B. Yeats). Segue ainda a história.

4 comentários:

Anónimo disse...

"But I being poor, have only my dreams. I lay them at your feet... Tread softly; for you tread on my dreams."
que bonita forma de terminar um capítulo. que segue com história, ainda.

CB disse...

Obrigada. A história, seja lá o que reserve para a frente, já é uma história bonita; é digna de uma citação assim.

bird of prey disse...

a história, não é passado. será aquilo que a queiras transformar por palavras...no futuro. a citação é digna sim, merece que seja citada em boas palestras e em boas histórias, como a tua, seja lá ela qual for e para onde for.

http://www.ted.com/talks/sir_ken_robinson_bring_on_the_revolution.html

CB disse...

Bird of prey,
Desde já, agradeço o link (inspirador e corrector, dado que a citação não estava correcta). Quanto à história, é futuro, sim, que não me pertence, mas também é verdade que posso fazer muito dele, e da história, nem que seja apenas com palavras.