Overlap

Mas depois, somos invariavelmente enganados por nós próprios. Porque quando largamos alguém, também largamos uma coisa. Largamos a pessoa e achamos que, com ela, temos de largar a felicidade. E é difícil perceber que se pode deixar ir alguém, aceitar o fim de uma história, sem termos de nos resignar com o fim da vida como desejamos que fosse. De certa forma, a associação do nosso conceito de felicidade a alguém específico, com quem se foi feliz, leva-nos a acreditar que não o voltaremos a ser. Não nos passa pela cabeça que possa haver outro alguém, um dia, com quem possamos ser felizes de novo. E porque a condição humana nos leva, forçosamente, a procurar a felicidade, enquanto não dissociamos a pessoa da sensação que nos proporcionou, vivemos simultaneamente a aceitação e a tentativa de resignação a algo que não podemos suportar. Consequentemente, mantemo-nos ainda num patamar doloroso. Sofremos pela perda de um ideal, pela falta de felicidade, mesmo que não doa já, na verdade (por vezes não apreendida ou reconhecida), a falta de alguém em concreto.  

4 comentários:

Bípede Falante disse...

Definitivamente, não fomos feitos para deixar os outros ir. Tentamos deixar, mas sofremos sempre. Não tem jeito. beijos.

CB disse...

Bípede,
Acho que acabamos por deixar ir a pessoa, mas não tão facilmente a "coisa" que lhe associamos. Talvez, digo eu, o mal seja personificarmos os nossos conceitos de felicidade, de amor, ou amizade, ou o que seja. Porque sem esses valores não podemos viver - certo, não não poderemos viver sem a pessoa? Podemos, desde que encontremos alguém que a substitua...
Bjs

Pulha Garcia disse...

Infelizmente, durante um longo período, a nossa felicidade depende de pessoas que, de uma forma ou outra, já não estão. São temas que só o tempo ajuda a apagar e muitas vezes sem ser de forma definitiva. Eu gostava de ser indiferente a tudo isto...

CB disse...

Pulha,
Acho que todos gostaríamos. E também concordo que a chave é o tempo, nem sempre tão célere quanto gostaríamos. Não creio que "apague" nada, nem ninguém, mas eventualmente pacifica-nos, quando aceitamos verdadeiramente a perda.