Perguntas-me. Manuscrito, com falha da tinta na primeira palavra. Terá secado a caneta, na espera entre o ponto da anterior frase e a coragem que procuraste - e encontraste? Ou a coragem foi para o que está antes desse ponto e, depois, ficaste a avaliar se prossegias ou se recomeçavas a carta? E onde foste buscá-la, essa coragem? A que palavras ou imagens das muitas que trocamos ao sabor da correria dos dias, tantos dias? Ou a que memória dos nossos encontros e conversas? Todas as tuas missivas me deixam com interrogações. Tal como os silêncios ocasionais. Verdade: esta "relação epistolar" tem-se construído, passo a passo, e tem respondido a algumas questões; mas levanta sempre mais umas. Almejas vê-la crescer, e que te digo? Baralho-me toda. Releio vinte vezes as tuas linhas e escalpelizo-as até à exaustão. Releio as anteriores e diversas epístolas. Releio as minhas palavras e notas dispersas. Reconstruindo o percurso da história que cresceu, pontuada de tanto mais do que simples palavras: pensamentos, sorrisos, sensações e sentimentos, partilha de cenas da vida de todos os dias. E no fim das novas notícias de quotidiano, escreves-me a saudade crescente, com pontos de interrogação sobre planos de viagem e destinos, assumindo também em crescendo a necessidade de me ler, ouvir, rever. Certo é que sei bem, também, o sabor dessa saudade e o peso dessa necessidade. Sei reconhecer, também, que todas as novas questões e perguntas por responder só são relevantes porque quero descobrir, quero saber, sim, almejo também ver-nos crescer.
E por isso, na volta do correio, com outras linhas, como sempre, de permeio, I say yes, sem no entanto te citar o que tão bem expressa o que me ecoa dentro. Porque... Yes, digo-te eu, "But I being poor, have only my dreams; I have spread my dreams under your feet; Tread softly; for you tread on my dreams." (W.B. Yeats). Segue ainda a história.