Escrever ou não escrever

"Ganhei" um dia de férias antecipadas, porque o miúdo acordou com febre e hoje falharam-me todos os recursos do costume. Tive mesmo de ficar com ele, que não tem nada de grave e, quando eu já me castigava mentalmente pela anotação irreflectida que não era mal pensado que tivesse assim uma pontinha de febre mais vezes, que fica um sossego - o rapaz (tadinho..., pronto, eu sei, não é coisa que se diga), lá espevitou a massacrou-me a cabeça o resto da tarde, porque o pai nunca mais chegava para o levar (que é dia de mudança, e lá vai ele para uma semana de casa de pai, e eu para uma semana de dias de mulher), e não percebe um atraso de 2 horas. Só não foi grande coisa o "negócio", porque deduziu um dia na semana que estava planeada para o fim do ano, e vai-me complicar a vida. E também porque, como é óbvio, não gosto que esteja doente e, na verdade, enquanto a febre não cedeu e tive a certeza que não era grave, andei aqui numa aflição.

Podia ter aproveitado o tempo que fui tendo aqui e ali ao longo do dia para escrever sobre várias coisas, mas não consegui. Porque tenho uma coisa a bailar-me na cabeça desde ontem, uma coisa daquelas insólitas, que rapidamente transformo em recambolesca, e noutro passo esboço em enredo de romance ou mistério, ou melhor ainda, as duas coisas ao mesmo tempo. E deu-me vontade de pegar nisso e deixar correr a pena, e lançar-me novamente num exercício de escrita livre. Depois lembrei-me que nunca cheguei a acabar o conto que aqui fui publicando o ano passado, que nunca chegou a ter título, o que na verdade é bastante apropriado para um conto que não chegou a ter fim. Lanço-me a reler o conto, e depois descubro que não cheguei a publicar tudo o que escrevi, mas que mesmo assim não o encerra.

E agora tenho o bichinho da escrita a crescer, mas o danado tem duas cabeças e duas vontades, e anda a gozar comigo, fazendo-me balançar entre o racional de acabar uma coisa antes de começar a segunda, e o emocional do me lançar onde agora arde a imaginação. E se calhar, depois disto tudo, foge-me a inspiração... O primeiro conto por acabar, começa aqui. O segundo talvez venha aqui parar um dia destes, mas entretanto, se calhar, já arranjava título para o inacabado. Se bem que, para lhe dar um título, melhor era que o acabasse. Caso contrário, sempre é mais consistente sem título, ou pelo menos sólido na sua inconsistência. Sim, sou exímia em enredar-me nas minhas próprias lógicas, e em passar laçadas de angústia à volta de coisas sem importância nenhuma. Mas melhor assim, melhor assim...

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