Maio

Hoje caiu-me de repente em cima o peso de uma série de meses, mais dos que gostaria de contar. De repente, mesmo assim em total choque, realizei que estamos a menos de 15 dias do fim do ano. Estranhamente, apesar do frio não enganar ninguém, parece que estava presa à noção de que a última Primavera era uma coisa ainda recente. Maio marcou o arranque de uma nova fase da minha vida, em muitos sentidos, uma esperança renovada. Mas talvez porque nada se tenha desenvolvido à velocidade, ou na direcção, esperadas, e talvez também por ter marcado o início de um período de ritmo intenso, parece que ainda é Maio na minha cabeça. Não dei pelo Verão a passar, nem reparei que já foi Outono. Talvez seja um processo de denial, uma verdadeira recusa de assumir que passaram quase 8 meses e ainda não alcancei, de facto, a totalidade dos objectivos propostos. De certa forma, Maio ainda não se cumpriu.

Andei todo o dia a remoer este raciocínio, para acabar a concluir que tudo aquilo que não se cumpre parece que não se fecha. Ao longo do tempo, acumulam-se demasiados capítulos abertos, enquanto não se tem a sorte de os poder fechar, ou a coragem, ou a humildade, de os dar por encerrados, desistindo de lutar por um final julgado possível, julgado feliz. E enquanto não se fecham, vivemos um calendário distorcido, onde o tempo é realmente relativo, e em que, anacronicamente, podemos viver presos em vários meses ou anos diferentes num mesmo momento. Aliás, podemos acabar uma soma de vários meses e datas encaixados uns nos outros, podemos acabar a ser esse calendário distorcido. 

Tenho uma série de Maios na minha vida, e muitos Verões perdidos. Não quero perder mais estações. É a minha primeira resolução para 2011, mas para começar a pôr em prática a partir de agora.

7 comentários:

1REZ3 disse...

Quero ver isso... ;)

Bj.

CB disse...

Noya,
Eu também! :D
Bj

Anónimo disse...

Estava um dia frio nessa manhã. A mamã urso acabou de dar o pequeno almoço ao pequeno koala - bebé. Olhou o elefante Pai e disse: Estão ali três magos pobres, réis de coisa nenhuma e trazem-nos presentes. Não, corrigiu um dos magos apenas trazemos o Presente. O mago mais escurecido pelas amarguras da vida entrou no T0, não mobilado e deparou-se com um aspecto confrangedor. Passem o passado, disse. Tournou-se figura presente daquele quadro, nesta época, num cenário triste, olhou pela janela, viu para além do horizonte e saiu, em lágrimas. Um mago com mágoa, disse o pai de tromba caída, e continuou a folhear o correio da manhã...

Anónimo disse...

faltou o título do conto supra:
"no Natal não conto"

CB disse...

Anónimo,
Desisto. Não sei o que responder. Apesar da criatividade metafórica do não-conto, parece-me cruel que o Mago que traz o passado amargurado não veja senão razão para lágrimas, hoje, ao olhar o futuro. Não deixa margem à esperança. Mas, na verdade, o título escolhido talvez o explique. Não é um conto de Natal. Ou há quem não conte no Natal?...

Anónimo disse...

é um não-conto apenas, numa incontável soma de dias vazios, os de hoje e os 3746589 que se seguirão.ops faltou um 3746590. esse o dia que nunca se concretiza.

CB disse...

É um não-conto de um não-amanhã, portanto. Uma coisa que não se fecha, que não se cumpre. Entendido.