Sem Nome

E lá fico eu torcida, tolhida, engolida pela angústia que sobe por mim acima, que entra por mim adentro. No misto da culpa, da raiva e da dor de saber o meu pequenino doente, recaído, nas mãos de outro que não eu, outro que não fez caso das minhas recomendações e que me devolve agora, assim sem mais, a notícia da doença entranhada no meu filho. Aquele de quem ainda tenho de ouvir uns gritos histéricos, de indignação que apenas esconde a óbvia incompetência, porque ele saiu daqui quase bom na 6ª feira, e ontem fez tudo o que não devia, ao contrário do que pedi, e hoje está pior e não tem lá a minha mão e os meus olhos, a sentir-lhe e a ver-lhe a febre subir antes de ser gritada pelo termómetro.

Neste misto estranho de sentimentos, de incapacidade, de falha, de dor, apetece-me chorar e não consigo. Porque não sei o que chora mais alto, porque não sei de quê são as lágrimas, e até a elas é preciso dar um nome para que se resignem a existir. Queria estar com ele no meu colo, queria vê-lo a cada minuto, queria ser eu a dar-lhe os medicamentos para ter a certeza de que nada mais pode ser feito para que melhore depressa. E esta distância, e esta prisão de fora, serve apenas para me carregar com um peso enorme de tristeza e angústia, exilada do meu papel de mãe, numa desterrada terra sem nome, terra de ninguém.

2 comentários:

XR disse...

Esse sufoco sem nome, misto de raiva, choque, indignação, impotência, angústia, misturadas em partes desiguais e cujas proporções se alteram conforme passa o tempo, essa besta sem corpo que nos crava a garra no peito e rasga a alma de passagem... ah, como o conheço!

CB disse...

XR,
Só quem conhece mesmo...