Notas

Alguma coisa de muito errado se passa, quando se arrasta uma dor de cabeça quase uma semana, e se chega ao final de um dia, a caminho de casa, guiando em plena noite pela autoestrada, e se tem de percorrer todas as estações de rádio pré-sintonizadas até se ficar pela Antena 2, porque tudo o resto é simplesmente barulho demais. E isto tudo a pensar que, dentro de 30 minutos, é preciso entrar em casa com um sorriso para render a babysitter e não cair para o lado quando um mini-Rambo de 5 anos nos assaltar, exigindo todo o resto de energia e forças que tivermos no fundo dos bolsos, e esgotando até ao fim dos fins o plafond de todos os créditos emocionais que ainda temos. O meu mini-Rambo, de metralhadora e binóculos, assalta-me realmente, primeiro com um “susto” que afinal é uma “surpresa” (porque diz paternalistamente “acha que eu ia dar um susto à mãe?...”) e depois esgota-me e leva-me o espólio de sorrisos, abraços e beijinhos (porque eu sou o “monstro dos beijinhos!”).

Na bancarrota, adormeço pouco depois e, quando acordo de madrugada, de repente sinto-me inacreditavelmente afortunada, com aquela cabeça loira encostada a mim, num abraço aninhado que me diz que, apesar das horas tardias a que chego, e dos momentos que partilhamos parece que sempre em corrida, ainda sou protecção e conforto, e sou amor, tudo espelhado numa expressão de total paz e no ritmo de um sono profundo e feliz da minha pequena âncora; e reflectido pela minha vigília enternecida, apesar do cansaço, apesar da dor de cabeça, pacificamente trocando mais uns minutos de sono tão vital pelo sentir daquele enlace tão único.

Felizmente que ontem foi feriado, e o dia foi de nós dois sem pressas. E depois também de várias horas de sono recuperado, estou hoje sem dor de cabeça finalmente e com um reservatório cheio de mimos para lhe devolver, e atestada de sorrisos e forças e energia para lutar pelo dia fora e chegar ao fim a merecer aquele meu pequeno banco - o meu banco de notas de vida.

2 comentários:

Bípede Falante disse...

O sono é mesmo sagrado...

CB disse...

Bípede, é vital, mesmo, embora às vezes me esqueça e pague cara a factura...