Não sou blogger


Faço tudo ao contrário do que é suposto: não escrevo textos curtos (quase nunca), muito menos frases tipo twitter (a não ser que façam sentido), que eu acho que até sei usar as vírgulas e acho que, se não me seguem uma frase longa, é porque falta a inteligência – e não a minha. Também não tenho um nome de blog disparatado ou que inspire muita curiosidade. Nem um nick e perfil todos engraçaditos. E também não criei nenhum personagem para escrever, porque quem escreve aqui sou eu, sou sempre eu, mesmo que tenha dias de ser princesa e outros de ser bruxa. Ou quase. Não escrevo sobre actualidades, só raramente sobre sapatos e afins, embora tenha tido uma fase recente em que falei demais do meu guarda-roupa, que a mim a roupa é que guarda, e guarda muito mais que o corpo. Por isso não sou dos cor-de-rosa, mas também não sou dos outros. Uso palavras ditas “caras” quando me calham, mas é porque me calham a mim, não são sortilégios nem esforços deliberados de afirmação de pseudo-boa-escrita, e também não pretendo escrever para mentecaptos. Aliás, o mais complicado é que não pretendo escrever para leitores de tipo nenhum. Comecei este blog porque senti vontade de escrever, numa fase de profunda mudança da minha vida e de mim. Foi uma ajuda no processo de me redescobrir. Teve as suas paragens e hesitações, em paralelo com o próprio processo, e hoje quase tenho vergonha de alguns textos mais antigos. Tenho perfeita consciência que a minha escrita mudou, e muito, e não foi só porque deixei de dar alguns erros de palmatória que dava no início. Para isso - se tenho desculpa? Sim: muitos anos sem escrever, muitos anos sempre a ler, falar e pensar numa língua estrangeira, e uma recusa, que se mantém patológica, de utilizar um corrector ortográfico. Das outras mudanças, ainda não sei o que incriminar. O certo é que isto tem dias de se parecer muito pouco com um blog, tanto pelo que escrevo, como pelo que me lêem. E também não me apetece escrever um diário, que o acto de lançar as minhas palavras para o espaço, mesmo que ninguém leia e tal não me incomode por aí além, é um acto libertador e uma ousadia que um dia pode até, talvez, devolver resposta do alien certo que me leia. A minha mensagem, que é tão variada como o meu estado de espírito e tão atribulada quanto a minha vida, pode ser mais doce ou mais ácida, mais triste ou mais alegre, mais leve ou mais sisuda, mais enraivecida ou mais tranquila, mas não leva nenhuma intenção, não pretende atingir ninguém, nem nenhum objectivo concreto, são apenas coisas de mim sopradas para o ar. E, mesmo que não acreditem, digo-vos que tudo o que vai daqui, vai em paz. Este blog é o meu armistício. Às vezes, a minha sanidade mental. 

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