Ausente

"Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de advinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face


Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio


Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente."



Por vezes, o grande ausente é apenas não-presente, outras vezes, não-existente, sentido numa falta, num vazio que não tem nome. É uma ausência com sabor a saudade, de que não se conhece senão silêncio e vontade.



"Eis-me", Sophia de Mello Breyner Andresen

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