Valor de ser "pessoa"

Recentemente, num virar do bico ao prego (uma bela expressão popular), acabei por escrever uma longa auto-análise difícil (nunca é fácil fazê-la, mas o resultado tem vezes de ser consolador, e outras vezes de ser doloroso, difícil também). E no fim daquelas frases regurgitadas directo da alma, o retrato que fiz de mim não é bonito. Tive de encarar o facto de que, realmente, tenho ainda muito para curar em mim, e tive que admitir que estes "winter blues", que se têm espelhado no blog, e que ando a tentar contrariar, vêm muito de continuar sem conseguir valorizar-me apenas pelo que sou "pessoa". Continuo a buscar-me valor e significado no trabalho, à falta de alternativa, e sinto-me sozinha, apesar de geralmente acompanhada, a viver uma vida vazia, de trabalho, trabalho, trabalho e pouco mais, sem o esperado retorno imediato da valorização pretendida - que não chega, isto não chega, e também sem qualquer garantia de retorno futuro.

No fundo, é um score fraquinho que obtenho, como não podia deixar de ser, tal como tão bem explica este post, onde se lê, por exemplo, “O «valor» que nos é atribuído não tem uma verdade intrínseca. Em geral é um valor «bolsista», mutável, feito de expectativas, acessos ou quebras de confiança, de necessidades momentâneas, tendências da estação, reposição de stocks. (…) Pobre de quem se convence de que vale muito ou pouco. Pobre de quem se julga de acordo com o que vale.

Muito verdade, em abstracto, mas eu não sei ser de outra forma. Eu preciso de ser qualquer coisa que me valorize e que possa usar para me julgar. Tal como fui, em tempos e tempo demais, "a Mãe do L", e por aí me significava e provava, não deixando dúvidas a ninguém de ser uma boa mãe, uma mãe capaz. A mulher tinha ficado para trás, porque também não tinha mais nada, não valia mais nada, e estes últimos tempos, já longos, têm sido a luta de renascimento dessa mulher, mas dessa mulher com valor de ser "pessoa". Só que agora, além do desencanto e do cansaço, a mulher que tenho em mim continua a ter de se julgar com a falta de verdadeiro Amor, de companhia por dentro, com o handicap dos meios papeis que desempenha - tal como ser mãe em part-time, que o miúdo divide-se agora igualmente pelos progenitores, e sem grandes feitos recentes a relatar, a não ser profissionalmente. Hoje sou o meu trabalho e uns vestidos que me forço a usar. Triste. Sim, realmente é pobreza. O pior tipo dela. Mas ando à procura de onde capitalizar.

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