Amor (ido)

Pudera eu cantar, nas sílabas de um poema, o meu bem de amor, a entrega pura, o meu brilho de olhar o mundo com doçura, a leveza de viver e amar. Mesmo no dia do amor ido, pudera eu cantar - como fez Sophia:


"Pelas tuas mãos medi o mundo
E na balança pura dos teus ombros
Pesei o ouro do Sol e a palidez da Lua"


Pudera eu; mas não posso. Porque não cabem em métricas cantadas os males de amor ainda não ido de mim; porque não se escrevem em rimas cruzadas a palidez do sol e noites sem lua e sem fim. Porque pesa tanto o amor que falta sobre os meus, e outros ombros falhos de pureza, descrentes, ateus. A balança pesa o nada germinado de solo fecundo, o meu meio consumido, implodido, ardido na chama. Foi pelas minhas mãos vazias que pesei o mundo, e era pesado demais para quem ama. E no fim, foi no reflexo do amor ido que me medi a mim, e era pequeno demais para quem amou. Agora, agora que o amor é ido, ido, que entre os ombros, logo abaixo, o coração ferido, chama que se apagou, não quero mais o amor de fiel da balança a aferir grandezas tão desiguais. Não quero medir um mundo que não é meu, não quero medidas e pesos do quanto doeu. Dói simplesmente, recorrentemente, mas é desse mundo antigo que partiu contigo, e me deixou sem mundo a que chame meu.

2 comentários:

Bípede Falante disse...

Que bonito, mas bonito mesmo, guria :)
beijos

CB disse...

Bípede guria,
Muito obrigada... :)
Beijos