Sombras do Futuro



Um segundo a mais, ou um segundo a menos, e todo o curso de uma história, de uma vida, se modifica. Uma volta para a esquerda, em vez da volta para a direita, a decisão de milisegundo que tomamos sem pensar e sem saber o que acarreta. Fazemo-lo todos os dias, a toda a hora, e raras vezes nos apercebemos do que mudamos na nossa história por optarmos inconscientemente por isto ou por aquilo, por cada segundo que nos atrasamos ou adiantamos no curso programado dos nossos dias.

Mas também acontece sabermos que estamos prestes a dobrar uma esquina de destino. Acontece às vezes suster a respiração sem saber se estugamos o passo ou se arrepiamos caminho. Se nos lançamos no que quer que esteja do outro lado da esquina ou se lhe fugimos ao avistar as sombras que projecta.

Todos os futuros não são mais do que sombras projectadas retrospectivamente. Sombras de alguma coisa que ainda não é mas que se esboça lentamente à frente do caminho. Como todas as sombras, as do futuro não trazem os contornos precisos e reais dos originais ainda inexistentes que projectam, não trazem o detalhe, o pormenor, e não trazem para o aqui e agora aquilo que não existe ainda se não em mera sombra projectada.

Cada dobrar do tempo é um sol a iluminar uma nova realidade que se vê sem sombras. É uma descoberta, uma surpresa, que pode ser boa ou má. Reconhecendo o momento, é preciso saber bem, muito bem, se se está realmente disposto a, e capaz de, lidar com esse futuro feito hoje, independentemente do que traga, independentemente de não corresponder às sombras que projectou no momento do primeiro passo. Ou do primeiro beijo.

4 comentários:

catwoman disse...

De facto, desde bebés que a nossa vida é uma descoberta constante, não é? Por vezes é uma descoberta boa, outras nem por isso, mas temos que aprender a viver e a conviver com todas elas, de contrário a nossa vida seria demasiado monótona, não era? Não teríamos maneira de reconher o bom se o mau não viesse por oposição.
Bem o meu rim está a chatear-me, se calhar, não estou a fazer muito sentido. Beijinhos e desejo-vos um óptimo Natal.

CB disse...

Catwoman,
De facto, assim é.
Um bom Natal também para ti e as melhoras.
Beijinhos

fd disse...

Estamos sempre a decidir mesmo quando nada fazemos, gerando uma teia exponencial de consequências. Simplesmente não temos nem capacidade, nem eficácia, nem vontade, nem força, nem tempo, nem saúde para andar a reflectir sobre tudo, relegando as decisões na intuição acumulada, para não entrar em curto-circuito. Sim, depois venham as surpresas.

CB disse...

fd,
Geralmente é assim. Mas também acontece sabermos que o que podemos decidir, incluindo o nada fazer, gera esse exponencial de consequências. Não sabemos nunca exactamente quais, mas por vezes sabemos quais os riscos que corremos e precisamos mesmo dessa cpacidade, eficácia, força e vontade para decidir se corremos ou não o risco, se dobramos ou não a esquina. Se aceitamos ou não as surpresas.