Insónia



Umas horas perdida entre a vontade do descanso e o desassossego. Sei que quando me foge o sono, é porque ando a fugir. Mesmo sem eu querer, nessas horas passo na minha cabeça o filme dos acontecimentos em que procuro sentidos. Às vezes segundos. Segundos sentidos. Como se ao recordar revivesse e fosse mais tranquila essa segunda ou terceira, ou quarta vez.

Parte-se em cada missão na vida, desejavelmente, ciente dos riscos, e dos obstáculos ou dificuldades. Escolhe-se e, portanto, aceita-se o desafio. Claro que, após sucessivas desilusões ou provas falhadas, se parte com cada vez maiores cautelas. Mas é só à partida, como um caminho exploratório. Depois vai-se andando, e vai-se ganhando equilíbrio e momentum, e chega a um ponto em que não dá para voltar atrás. É nesse momento que é preciso sentir confiança e tranquilidade.

Começa-se por tentar deixar tudo fluir. Dar tempo ao tempo, e todos os demais chavões por essa linha. Mas o certo é que, por mais que se vão encaixando certas coisas em parâmetros de “normalidade”, seja lá o que isso fôr, esse exercício em si é prova de que essas coisas nos incomodam. Pequeninas pedras, pequenos tropeções. Então, se se quer seguir o caminho, a sério, com empenho, o que é que se faz? Tenta-se tirar as pedras do caminho, recorrendo à sinceridade e frontalidade de as apontar e à cooperação para arranjar formas de as remover.

Num relacionamento, faz-se com conversa franca. Tenta-se, pelo menos. Mas é o diabo quando se fica com a sensação que, de alma aberta, palavras sinceras e sentimentos despidos, se falou num código que não é comum. Parece que não, no momento, pelas respostas, argumentos, tentativas de solução da engenharia de remoção das pedras. E depois... uma palavra ou um gesto e afinal percebe-se que as pedras que nos incomodam continuam lá.

Já é demais sabido que homens e mulheres falam línguas diferentes. E vivem os relacionamentos com prioridades em planos diferentes. Mas quando o que damos de nós em sinceridade e frontalidade é ignorado, ou não compreendido, quando se sente que as atitudes e comportamentos não acompanham as palavras que ouvimos, e se pressente que o esforço de conciliação de vontades não é reciprocado, algo vai mal, algo vai muito mal no país do pai natal.

2 comentários:

1REZ3 disse...

É complicado, é... Mas é a única solução, creio - a franqueza ou sinceridade. Claro que tudo depende da ocasião e do timming (esse malfadado!) e esse tu saberás, naturalmente, melhor que quem te lê. É a tal questão do demasiado depressa ou demasiado devagar...

Tudo se resolverá a bem. Acredito nisso :)

PS: Apesar de desde "sempre" te lançar palavras de encorajamento cheio de convicções, a realidade é que tenho que te louvar por lutares. Sei que não é fácil voltar a percorrer esse caminho.

CB disse...

13,
De facto, é um caminho um bocado batido e que não me apetecia ter de voltar a percorrer. A "solução", pelos vistos, não é franqueza e sinceridade, porque disso usei eu e não resolveu nem esclareceu nada. Aliás, fê-lo em palavras de resposta, mas não estou a vê-las traduzidas na prática. Quanto ao timing, acho que tem de ser o de cada - quando se sente que é preciso "deitar para fora" as dúvidas ou angústias, por forma a dar-lhes hipótese de serem apaziguadas, ou confirmadas.
A ver vamos... :)